Homens de sciencia na Africa do Sul

O professor Darwin falando de Portugal

Pelo paquete «Saxon» chegaram no dia 22 do mez passado á cidade do Cabo cerca de 400 socios da importante sociedade scientifica ingleza «British Association for the Advance of Science».

Esta sociedade realisa annualmente um congresso onde são discutidas todas as innovações no vasto campo da sciencia moderna, e este anno cabe à Africa do Sul a honra de serem effectuadas nas suas cidades mais importantes as varias conferencias e discussões. Posto que a sociedade seja uma instituição de origem ingleza, encontravam-se todavia entre os visitantes alguns distinctos homens de sciencia de outras nacionalidades, estando especialmente a Allemanha e a Austria representadas por algumas das suas maiores individualidades scientificas.

O congresso iniciou os seus trabalhos n’aquella cidade na noite de 22, na magnifica sala do novo palacio do conselho municipal. O presidente a Associação durante o anno transacto foi o sr. A. Balfour, primeiro ministro de Inglaterra.

O distincto homem de Estado não poude [sic], naturalmente, acompanhar os congressistas na sua viagem á Africa do Sul e transferir, pessoalmente, ao novo presidente o elevado cargo de que se achava investido.

O novo presidente d’esta corporação é o eminente lente Darwin, filho do sabio philosopho e evolucionista do mesmo nome.

A sessão foi aberta pelo governador do Cabo sir Walter-Hely-Hutchinson, discursando em seguida o professor Darwin, d’uma forma magistral e brilhante, sobre a doutrina da evolução e a sua applicação á natureza inanimada; as ultimas descobertas da sciencia e a sobrevivencia das especies com melhores condições para a lucta pela existencia.

O professor Darwin começou por se referir ao progresso da sciencia desde a descoberta do Cabo da Boa Esperança, dizendo: – «Bartholomeu Dias, o descobridor do Cabo das Tormentas, gastou dezaseis mezes na sua viagem, e a pequena frota de Vasco da Gama, que largou de Lisboa em 8 de Julho de 1497, só chegou ao Cabo em meiados [sic] de novembro.

Estes homens ousados, dirigindo-se nos seus pequenos bateis a terras desconhecidas defrontavam com egual coragem os perigos do mar e os ataques dos selvagens.

O perigo d’uma tal viagem póde ser facilmente avaliado se tomarmos em consideração que menos de metade dos homens que acompanharam o grande Gama voltou a Lisboa.

São volvidos 480 annos apoz aquella viagem, um navio de 13:000 toneladas acaba de nos trazer a este porto a salvo e com todo o luxo, e isto em pouco mais de duas semanas. Quão insinuantes são os contrastes que apresentam ao nosso espirito estes dois acontecimentos! Comparae, d’um lado, a coragem, paciencia e persistencia dos primeiros navegadores com o pouco que é exigido de nós. Por outro lado, considere-se quanto o poder do homem tem augmentado sobre as forças da natureza durante os ultimos quatro seculos!...»

Os congressistas depois de terem realisado varias sessões no Cabo dispersaram em visita a varias outras cidades d’aquella colonia reunindo-se novamente em Johannesburgo no fim d’aquelle mez onde durante uma semana foram effectuadas conferencias e discussões.

Os illustres viajantes visitaram subsequentemente a Rhodesia e o Natal, fazendo a viagem para a Europa pela costa oriental a bordo do «Durham Castle».

Este vapor sahiu de Durban no dia 15 do corrente, embarcando os congressistas na nossa Beira, como nos communicou o telegrapho e onde as auctoridades portuguezas lhes fizeram recepção condigna.