PROGRESSOS DA SCIENCIA

A CURA DO CANCRO

ATÉ AINDA HA POUCOS ANOS a cura do cancro era para quase todos um problema sem solução satisfatoria, excepto para alguns clinicos, que, e isso só em determinados casos, por meio da cirurgia alguma coisa iam conseguindo.

Mas os limitados e excepcionaes casos de cura, em relação com o terrivel alastramento da horrorosa doença, eram numa desproporção tão flagrante que causavam desanimo aos mais corajosos.

Ha muito que a sciencia lutava denodadamente, e medicos os mais distintos, e sabios os mais pacientes dedicaram o melhor do seu tempo e o mais valioso dos seus profundos conhecimentos sobre essa especialidade a que se dedicaram, até que, finalmente, após a descoberta do radio, numerosas experiencias se fizeram e elas atinjiram [sic] o fim que maravilha toda a humanidade, incluindo os proprios profissionais: o cancro é curavel pelo tratamento com o radio.

Mas será todo e qualquer cancro igualmente curavel? Não se póde responder com uma afirmativa generica, extensiva a todos os casos, pois todos sabem, mesmo os mais leigos em assuntos de medicina e de cirurgia, que a mesma doença difere imenso de doente para doente, devido a diversidade de constituições, antecedentes, etc., e que muites [sic] vezes o que produz cura rapida nuns, noutros a produz morosa, ainda noutros improficua, etc.

O tratamento pelo radio nos casos do cancro é um novo tratamento que, pelos brilhantes rezultados [sic] obtidos em numerosos doentes, deve ser por todos tentado, e em primeiro lugar pelos medicos, pois estes, melhor que ninguem, sabem quantas curas maravilhosas se teem dado nos ultimos tempos, e quantas vitimas o radio tem roubado aos horrores de tão flagelante enfermidade.

Sugeriu-nos esta dissertação uma palestra que ha dias tivemos com o distinto clinico Dr. Decio Ferreira, com consultorio na rua Garrett, a quem roubamos alguns preciosos momentos da sua afadigosa vida e que nos honrou, fornecendo-nos interessantes detalhes sobre o assunto de que tratamos aqui. É o Dr. Decio Ferreira ha muito se dedica a esta especialidade, com o mais brilhante exito, pondo ao seu serviço toda a sua comprovada competencia, todo o seu profundo saber, todos o seus largos conhecimentos sobe a materia, visto que ha tanto tempo a tem estudado e tanto se tem sacrificado pelos seus praticos rezultados.

Sabiamos que o seu consultorio era imensamente concorrido por cancerosos, mercê da justa fama que tem corrido dos muitos casos de cura que ali se teem obtido pelo radio, e por isso ele, melhor que ninguem, nos poderia dizer algo de positivo sobre o caso. Á nossa pergunta de, se tinha presentemente muitos doentes em tratamento, respondendo-nos afirmativamente, citou-nos os seguintes ultimos casos, devéras interessantes:

- Uma doente de Lisboa, senhora da sociedade elegante, que sofria de cancro no utero, inoperavel, acha-se quase curada.

- Um cliente de Alcochete, cancro no nariz, que ha 16 anos teve uma escoriação e daí se lhe desenvolveu um epitelioma, tentou varios tratamentos, mas só agora com o radio obteve a cura.

- Uma senhora de Lisboa, da rua Thomaz Ribeiro, a quem um distinto operador da capital dera como incuravel e inoperavel e que com efeito apresentava todos os caracteristicos desse estado, está hoje curada de um cancro no seio esquerdo. O mesmo operador confirmou a cura e a cliente apresenta excelente côr e completo revigoramento de forças.

- Um doente de Pero-Guarda, Ferreira do Alemtejo [sic], com um cancroide no nariz, curado apenas com quatro sessões de radio.

- Outro de Bucelas, que havia sido operado ha quatro anos e que recidivou, curou-se em muito pouco tempo.

- Uma doente de Montoito (Redondo), que sofria de um cancroide na face, acha-se completamente curada.

- Um individuo da rua Pedro Nunes, Lisboa, com um carcinoma no piloro, doente de cama, desenganado, sofrendo atrozmente, com alarme de toda a visinhança, vomitando consecutivamente. Acha-se em tratamento e, neste caso admiravel, as melhoras são já importantes: já não tem vomitos, o tumor está muito diminuido, abandonou o leito, já vai á sua repartição, alimenta-se regularmente, sem dôres, e espera-se bevemente uma cura completa.

É este um caso quase assombroso, atendendo ao estado a que a doença tinha levado o enfermo e, ponderando o seu estado actual, em vespera de cura absoluta.

Além dos importantes casos que apontamos, de muitos outros podiamos dar noticia, se tivessemos querido cometer a deshumanidade de por mais tempo roubarmos os cuisados do dr. Decio Ferreira aos seus numerosos doentes, mas tal não fizemos para não abusarmos da sua captivante amabilidade. Tudo o que expomos é mais do que necessario para fazermos ver aos infelizes doentes de cancro que o seu mal hoje tem cura. Não é a nossa ignorancia que o expõe, é a competencia e os casos provados por um homem de scienca, um mestre da especialidade, que o demonstram bem claramente, atendendo aos felizes que já se teem visto livres do flagelo dessa triste doença.

Repetimos, pois, a cura do cancro é hoje um facto incontestavel desde que ela se procure obter por meio do «radio».