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O congresso de Valladolid

De Madrid, em data de segunda feira,18:

O Congresso das Sciencias que se inaugurou ontem em Valladolid, sob a presidencia do rei e com a assistencia do presidente do conselho e de muitas personalidades de importancia, que foram expressamente de Madrid prestar a homenagem da sua presença a esta douta assembleia, oferece um altissimo interesse e deve ser fecundo em resultados, tanto pelo numero como pela categoria dos sabios ali congregados e ainda pelos assuntos que se ventilarão.

De Portugal vieram colaborar com os homens de sciencia espanhois, sabios de tanto prestigio e de tanta autoridade no mundo scientifico como os srs. Costa Lobo, Gomes Teixeira, Guimarães, Ferreira da Silva, Castanheira e Pereira da Silva, e o sr. Costa Lobo anuncia uma conferencia que fará em castelhano sob o tema «As atmosferas e temperaturas astrais».

A Association Française pour l’Avancement des Sciences tambem está brilhantemente representada no Congresso de Valladolid pelo eminente medico parisiense dr. Le Groff e pelo grande filologo, o abade Camille Martin.

O dia de ontem foi de verdadeira festa em Valladolid. Aproveitou-se a presença do soberano para imprimir maior solenidade a outros actos, como o do juramento de bandeira dos alunos da Academia de Cavalaria, que foi brilhantissimo, e a entrega duma casa doada pela Sociedade do Fomento da Propriedade a um operario, de nome Bonifacio Ramos Espino, que tem mulher e seis filhos e merecem pela sua conduta exemplar este presente generoso.

Com este acto, que foi deveras tocante, ficou inaugurado o primeiro grupo de casas baratas.

Terminados os discursos do estilo, que tiveram, além de outros, o mérito de ser simples e breves, o rei apertou efusivamente a mãos ao operário agraciado e entregou-lhe a chave de prata da casa oferecida que está confortável e elegantemente mobilada. O operArio, emocionado não encontrou uma só palavra que pronunciar; mas sua mulher, mais valorposa, avançou e entregou um ramo de flores a D. Afonso, dizendo-lhe:

- Aceitai, senhor a única coisa que em minha pobreza posso ofertar-vos.

O rei conversou depois afectuosamente com a boa famIlia a quem foi doada a casa e assim terminou este acto comovente.

O Congresso das Sciencias inaugurou-se depois do «lunch» no Ayuntamiento.

O Teatro Calderon, onde se efectuou a brilhantissima solenidade, estava artisticamente ornamentado com tapetes do palacio, trofeus, bandeiras, plantas e magnificas flores.

Primeiramente pronunciou um breve discurso o secretario do «Comité» local do Congresso, dr. Corral, e a seguir o general Marva leu um curioso trabalho intitulado «As sciencias e a guerra», em que se mencionaram todos os descobrimentos desde o começo do sEculo XIX até ao presente, aproveitados para a arte da guerra.

O discurso do rei foi o seguinte:

«Senhores congressistas: Assiste com muito prazer a inauguração das periodicas tarefas da associação Espanhola para o Progresso das Sciencias, cooperando no seu avanço para servir o alto ideal da Humanidade. Ao mesmo tempo trabalhais pelo progresso e o bem-estar e gloria da nossa amada Espanha.

«É sempre nobre o espectaculo que oferecem os sabios aplicados a estender o dominio do homem sobre a Natureza e a tornar mais luminosa e feliz e justa a existencia humana. Mas ainda o é mais neste momento tragico da historia, em que poderosos povos da terra padecem os males duma conflagração universal, aterradora pela sua extensão e seus estragos.

«O facto de que uma nação neutral, que contempla a luta comovida por sentimentos de fraternidade humana, se reunam homens de boa vontade consagrados ao estudo para trabalhar pelo progresso das sciencias é testemunho de que a obra de cultura não se interrompe e se preocupa do dia de amanhã, que quizeramos ver proximo, em que se reatarão as colaborações fecundas da civilização e da paz entre os povos após o sangrento conflito desta hora solene.

«A homenagem que devemos ás virtudes civicas e aos heroismos individuais que desperta e exalta a guerra, ao espírito de inventiva e abnegação que desenrola o sacrificio no altar da patria, que tem escrito e está escrevendo tão belas e elevadas paginas da Historia, não ha de impedir que nesta Assembleia pacifica da inteligência e do estudo elevemos ao ceu o voto fervente de que renasça a paz no mundo e de que a Sciencia, a que tantos bens deve a Humanidade, remedeie os estragos, restaure as ruínas, restabeleça a prosperidade e dirija de novo o incessante esforço para o melhoramento do homem e a realização dos seus destinos.

«A Sciencia tem feito grandes milagres. Como disse justa e eloquentemente o vosso presidente, junto a cada uma das suas aplicações, que aumenta o poder das armas, ha uma aplicação pacifica que aperfeiçoa e eleva a vida do homem. Da Scoencia, que transformou o mundo e consolidou a soberania do homem sobre a Natureza, devemos esperar que o curso do tempo virá tornar cada dia mais rara e excepcional a guerra e que a reduza ao papel de defensora da civilização e instrumento de tutela sobre os povos que não chegaram á iniciação da cultura, aproximando-nos do ideal de que as contendas entre as nações se resolvam pela razão e o direito.

«Emquanto nos aproximamos com o esforço continuo do espirito a esse ideal longinquo, continuai lançando á terra a semente do saber e trabalhando na nobre competência dos povos e dos homens para alargar o horizonte do conhecimento e chegar pelo caminho da verdade a uma mais ampla concepção e pratica do bem.»

(…)

O dr. Costa Lobo faz uma importante dissertação

Valladolid, 20 – No Congresso de Sciencias, dissertou o ilustre catedratico da Universidade de Coimbra e presidente do Instituto da mesma cidade, perante grande e distinta concorrencia em que se notavam os srs. Carracho y Tomás, Azcárate, fazendo uma demorada critica das teorias fisicas com o fim de considerar inaceitável a teoria energetica.

Sintetizou em periodos brilhantes uma nova teoria do radiantismo, formulando uma nova ideia dos principais radiantes e seus derivados, sendo os primeiros constituidos por cadeias de atomogeneos cujo termo se emprega pela primeira vez em conformidade com esta teoria.

Formulou o ilustre sabio uma nova teoria de temperaturas e atemosferas astrais que aplicou ao sol, a fim de demonstrar a reduzida perda de materia solar, aduzindo para o explicar novas considerações sobre as manchas solares.

O orador foi alvo de grandes manifestações de aplauso, propondo o sr. Carracio que fosse enviado um expressivo telegrama pelo Congresso á Universidade de Coimbra.


Referência bibliográfica

[n.d.] - "O congresso de Valladolid" in Diário de Notícias de 21 de Outubro de 1915, nº. 17943, p. 1-2 (c. 8-c.1). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=2284.



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