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Texto da entrada (ID.2287)

O Congresso de Valladolid

De Madrid, em data de quarta-feira 20:

As noticias referentes aos importantes trabalhadores do Congresso de Sciencias que se está realizando em Valladolid e em que tem uma brilhante representação a cultura portuguesa, chegam a Madrid tardias, preguiçosas e incompletas, e parece que não soa consideradas de grande interesse pelos correspondentes dos jornais, - prontos sempre e solicitos em transmitir as proezas dos mais insignificantes desconhecidos novilheiros ou as façanhas dos mais obscuros pugilistas.

Não somos dos que crêem que as corridas de touros entorpeçam de maneira nenhuma a marcha de progresso ou sejam indicio de incultura e atrazo, nem tampouco nos somamos aos que se revoltam porque as multidões passeiam aos hombros Josélito e Belmonte e não levam em triunfo Ricardo León ou Ramón y Cajal. Todas as coisas teem o seu lugar: os toureiros são artistas do povo, das grandes massas e essas extereorizam o seu entusiasmo lançando aos seus heróis o chapeu, o casaco, tudo quanto tenham á mão, e acabando por conduzi-los em triunfo; os grandes sabios e artistas pertencem ás «elites» e não podem, sem desdouro, receber as mesmas homenagens. «a cada uno lo suyo», pois, como se diz aqui. Mas o que não deve ser é que os «arames» trabalhem pressurosos para dar conta das orelhas e dos rabos conquistados pelo «Chisperite –chico» e permaneçam inactivos perante uma tão grande manifestação de cultura como é este Congresso que se está realizando.

O discurso inaugural do general Marva dizem que foi notabilíssimo, e ainda não vimos dele na imprensa de Madrid mais que uns extractos muito sucintos que não permitem formar uma exacta ideia do que é o trabalho daquele sabio ilustre.

O general Marva demonstrou que a sciencia não é de modo algum culpada do exterminio das raças e da obra de destruição a que estamos assistindo. Em onze magnificos capitulos bosquejou os progressos alcançados em todos os ramos do saber humano que mais extensa aplicação teem na guerra, acrescentando paralelamente os imensos beneficios que esses conhecimentos trazem aos fins pacificos, e concluiu por afirmar que, se a sciencia ao serviço da guerra ha de contribuir para a defesa sagrada da patria, todos devemos abençoá-la, ainda sob esse aspecto.

Gustave le Bom, vai mais longe, sustentando que sem a guerra não teriam avançado ao ponto a que avançaram muitas sciencias e industrias, como a quimica, a metalurgia, etc., etc., e sobre este ponto dá argumentos convincentes.

O primeiro dia de trabalhos

Na segunda-feira de manhã o sr. Rodrigues Mourelo inaugurou os trabalhos das secções, dissertando sobre complexos minerais e estudando a importância da química na vida moderna e o largo campo que abre a novas investigações.

A secção de Sciencias astronomicas inaugurou os seus trabalhos com um notavel discurso de D. Victoriano Fernandez Ascarza ácerca dos actuais problemas da astrofisica. Pôz em relevo os grandes avanços desta sciencia em Espanha citando os trabalhos dos observatorios.

Na secção de Sciencias naturais pronunciou o discurso inaugural o dr. Royo Villanova, tratando da pedagogia como sciencia social e apresentando estes três problemas principais: Educa-se o homem na sociedade? Educa-se o homem para a sociedade? Educa-se o homem pela sociedade?

Foi muito elogiado o seu discurso.

Na secção de Sciencias matematicas dissertou o sabio catedratico madrileno, sr. Rey pastor, o qual sustentou que Espanha está atrazadissima neste ramo da sciencia. Condenou, por atrazados e deficientes, os livros que se usam nas escolas e preconizou o emprego das revistas scientificas, advogando calorosamente a difusão do estudo das matematicas.

Outras secções foram inauguradas com os trabalhos de que antecipamos sucinta nota.

Nesse primeiro dia realizaram conferencias muito interessantes: o director do Museu de Belas-Artes de Valladolid, sr. Faladrid, sobre os estigmas de degeneração expressos nas suas obras pelos pintores e escultores antigos, e o dr. Maestre, acerca da degeneração social e da loucura.

Pela tarde visitaram os congressistas a notavel Exposição de material scientifico instalada na nova Universidade.

Os trabalhos de ontem

A sessão de ontem foi consagrada á leitura dos trabalhos apresentados pelos congressistas das diversas secções, assistindo um publico muito numeroso e escolhido.

Foram muito interessantes os trabalhos dos drs. Maestre e Liorente sobre «Isolamento das anti-toxinas, anti-difterica e anti-tetánica e sua aplicação na pratica»; «Importancia dos trabalhos realizados para purificação da vacina e cultura e isolamento do seu germen.»

O catedratico sr. Lagarra praticou em presença dos congressistas, que o felicitaram muito, a amputação dum membro inferior num enfermo, empregando um novo metodo de anestesia.

Pela tarde foram apresentados os trabalhos seguintes, que foram apreciadissimos:

Dos drs. Bellido e Zaragoza, acerca de «Correlações funcionais no aparelho urinário»; do sr. Martinez Cereceda, sobre «Abandono da pureicultura intrauterina em Espanha e remedios urgentes que demanda»; «Mecanismo de correlações fisiológicas (do moral ao nervoso)»; demonstração sobre relevo em cinematografia pelos drs. Pi Suñer, Alvarez e Sainz de Aja sobre «Ciameneto dobleoleoso e potassio em tuberculose cutanea»; «cinco anos de medicação pelo salversan e o neo-salvarsan»; outra sobre «Helioterapia em dermatologia», pelo sr. Partilia; outra do sr. Sedo intitulada: «A minha pratica demosfilografica em quinze anos de trabalho».

Na Faculdade de Medicina, o dr. Pittaluga dissertou acerca do «estado actual da dermatologia e serologia».

Na secção de Sciencias aplicadas houve as seguintes dissertações «Area de multiple», por D. Juan Zafra; «Monografia para calculo de canais», por D. Luis Cuervo; «Aplicação de construções de estectica grafica ao calculo de linhas electricas de tracção», por D. Felix Gonzalez; «Os fornos electricos do laboratorio de Engenheiros, do Exercito», por D. Sixto Camara; «Os calculadores, Metodo experimental para ensaio de maquinas de vapor», por Carlos Barntell.

Na secção de Sciencias astronomicas dissertaram: o rev. Padre Angel Rodriguez, com um estudo, muito notavel, comparativo do estado atmosferico da Europa; o ver. Padre Guimerá, que expoz uma folha barometrica para o litoral valenciano; o catedratico sr. Gonzalez Frades, sobre regimen dos ventos em Valladolid; o sr. Iranzo, sobre as chuvas em Valencia; o ver. Padre Alcohera, sobre a influencia dos movimentos sismicos sobre os imans suspensos; o ver. Padre Sanchez navarro, descrevendo o Observatorio da Cartuja de Sevilha, as formas aplicaveis aos macroxismos e acerca do movimento das estrelas.

O general Losada efectuou uma notavel conferencia sobre as sciencias da guerra. Expoz os ultimos progressos da arte de guerrear, entendendo que o êxito da guerra se encontra nas metralhadoras, explosivos, aeroplanos e submarinos.

Expoz a acção e funcionamento duma metralhadora de sua invenção, que é; segundo os tecnicos, um verdadeiro prodigio, havendo já obtido autorização do governo para que se construa na fabrica de armas de Oviedo.

Em honra do sr. dr. Costa Lobo

Ontem foram obsequiados com um banquete os ilustres presidente do Congresso sr. general Marva e presidente do Instituto de Coimbra sr. dr. Costa Lobo, figurando entre os comensais os srs. Carracio, Prida, Maluquer, Gomes Ocaña, Olea, Pimentel e outros sabios de grande perstigio.

O sr. dr. Costa Lobo e demais representantes de Portugal neste Congresso teem-se imposto á simpatia e admiração dos sabios espanhois, e a homenagem prestada ao eminente sabio que dirige o Instituto de Coimbra, é uma demonstração de estima pela nossa cultura nacional, ás vezes não muito bem apreciada entre nós mesmos.

Neste banquete que foi afectuoso, combinaram os ilustres homens de sciencia espanhois corresponder á brilhante colaboração portuguesa no Congresso de Valladolid realizando varias conferencias nessa admiravel instituição que se chama o Instituto de Coimbra, e cuja série será inaugurada pelo sr. Maluquer.

O dr. Carracio, num belíssimo e magistral discurso, traçou o paralelismo em avanços da cultura portuguesa e espanhola e expressou ao sr. dr. Costa Lobo em calorosas frases a complacencia com que a vê trabalhar em Coimbra e Valladolid para preferir os factos praticos ás meras manifestações de simpatia.


Referência bibliográfica

[n.d.] - "O Congresso de Valladolid" in Diário de Notícias de 27 de Outubro de 1915, nº. 17949, p. 1 (c. 8-9). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=2287.



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