Roberto Peary
Morte do grande explorador americano
Os telegramas chegados ontem davam a noticia de ter falecido o dr. Peary, o intrepido explorador que atingiu o polo Norte e cuja façanha foi objecto durante meses de larga discussão devido ao facto do outro explorador seu companheiro lhe disputar a prioridade do feito.
Robert Edwin Peary nascera em Cresson Springs, na Pensylvania, a 6 de maio de 1856, contando, portanto, á data da sua morte 64 anos incompletos. Entrou em 1881 para a marinha dos Estados Unidos na qualidade de engenheiro civil e foi enviado á Nicaragua para aí proceder aos estudos necessários para a abertura dum canal maritimo projectado pelo governo americano.
A partir de 1891 consagrou-se exclusivamente á exploração das terras e mares articos, situados ao N. do Novo Mundo: já em 1886 Peary conseguira realizar um reconhecimento dos chamados «islandsis» da Groenlandia e avançara por sobre o gelo na direcção do este até ao coração do territorio, somente, porém, em 1891 é que começou a bela serie de explorações que, sem interrupção, se continuou até 1910.
Na sua primeira viagem (1891-1892) organizada pela Academia de Sciencias de Filadelfia, Peary partiu no «Kite», em companhia de sua esposa Mrs. Josephine Dlebitch, e depois de ter invernado na baía Mac Corwik, na Terra Prudhoe, ao sul da entrada do estreito de Smith, empreendeu um reconhecimento que eu esplêndidos resultados e provou a insularidade da Grooenlandia, separada pelo canal de Peary (entre o «fjord» Sherard Osborne e a baía da Independencia) da grande região avistada por Lockwood em 1383, na latitude 83º 24’ N.
Em 1893 tornou a partir em nova expedição, sempre acompanhado por sua esposa, que lhe deu um filho no decurso da nova viagem.
Atingiu Bowden Bay nas costas da região de Inglefield e tentou em 1894 atravessá-la de lado a lado até á Baía da Independencia, que descobrira em 1892, mas foi mal sucedido no seu proposito, tendo de bater em retirada sem realizar o seu programa.
No decurso de uma outra expedição realizada em 1896, Peary descobriu no Cabo Norte notaveis meteorites de ferro e nikel, que em 1897 trouxe para a sua patria a bordo do «Hope».
Em 1898 empreendeu, auxiliado pelo Peary Artic Club – que se constituira para o ajudar nos seus propósitos – atingir o polo pelo caminho americano do estreito de Smith.
Partiu primeiramente no «Windward» (1898-1902), explorando as terras de Grant, de Grinell e de Ellesmere, separadas da Groenlandia por estreitos e mares que se estendem entre os mares de Bafon e de Lincoln; em maio de 1900 atingiu a extremidade da ilha de Lockwood, explorou as costas setentrionais dos Estados Unidos até ao cabo Morris Jesup (a 83º 28’ N) e á ilha Wickoff e atingiu a latitude de 83º 50’ que em 1902 ultrapassou, ficando a 635 kilometros do Polo, isto é á latitude 84º 17’. Voltando aos Estados Unidos, Peary organizou uma nova expedição (1905-1906), no decurso da qual atingiu no «Roosevelt» o cabo Sheridan na Terra de Grant e a latitude do setentrional de 87º 6’, quer dizer, ficando apenas a 322 kilometros do ponto matematico, que é o Polo Norte, do qual Nansen ficara a 420 kilometros e o italiano Cagni se aproxima até 320 kilometros.
Apoiado sempre pelo Peary Artic Club, o intrepido explorador americano empreendeu nova viagem – a setima – partindo em 1908: a 6 de abril de 1903 chegava ao grau 90 de latitude norte, isto é, o pólo boreal do nosso geoide.
Realizava assim uma façanha que tanto havia tentado outros exploradores e homens de sciencia. Ao voltar á Patria, porém, Roberto Peary teve de sustentar viva polemica com o seu antigo colaborador, o dr. F. A. Cook que pretendia diminuir o valor do seu empreendimento e sustentava não ter Peary atingido o Polo. Emquanto o seu rival submetia os seus documentos a uma comissão dinamarquesa, Peary entregava a um «comité» constituido pela Sociedade de Geografia de Washington a minuta do seu jornal, com os seus calculos, instrumentos e aparelhos. Após atento exame de todas as provas remetidas os membros do «comité» declararam por unanimidade ser sua opinião que o comandante Peary atingira o Polo norte a 6 de abril de 1909. Por seu lado a comissão dinamarquesa manifestava opinião diferente inclinando-se para o explorador Cook e a questão ficou indecisa, até que por fim tudo se esclareceu, ficando realmente provado que Roberto Peary falava verdade.
A Roberto Peary devem-se varias obras ácerca das suas viagens e que são interessantissimas pelo manancial de conhecimentos novos que ministram. Entre elas citaremos «Northward oner the Great Ice», «A complete narrative of Artic Work» (1898) e «Nearest the North Pole» (1907).
[NOTA - O artigo tem uma fotografia do explorador]
Ciênias da Terra