Pela marinha mercante
Um novo barco: o «Orion» e a Companhia União Luso-Brasileira
Quando se fundou a Companhia de Transportes Maritimos Luso-Brasileira desde logo lhe vaticinamos um prospero futuro. O empreendimento a que abalançava, o de principalmente estreitar as relações entre os dois paises irmãos, Portugal e Brasil, merecia todas as simpatias, e todos que desejavam ver a nossa terra engrandecida formulavam votos porque em breve ele se tornasse numa realidade.
Assim sucedeu. Ontem pelas 17 horas, nas notas do notario Emigdio da Silva fui lavrada a escritura de entrega do Ingre Orion á União Luso-Brasileira.
Não podia inaugurar a União a sua flotilha com um melhor barco. Construção genuinamente portuguesa, feita nos importantissimos estaleiros de S. Martinho do Porto, pertencentes aos srs. Freitas Miranda e Arrobas da Silva, capitão da marinha mercante, as principais caracteristicas do «Orion» são:
Quinhentas toneldas, aproximadamente, construido com pinho manso e bravo, carreando uma 800 toneladas, tendo o convés corrido com tombadilho em cima, com 18 metros de comprimento, 10m,10 de largura de boca, 4m,85 de pontal, tendo de calado em lastro 9 pés e 14 de calado em carga. A sua tripulação é de 11 homens, tendo três mastros latinos com redondo á prôa.
A construção, desnecessario é dizê-lo, foi muito cuidada.
É curvado em ferro, tem vimes dois metros abaixo da curvatura, está preparado para levar motor e tem rebordos á prôa para carregar madeira.
Tem malinete de ferro patente com braças de boa amarra, dois ferros e ancoreta, escovens de engolir ferros, leme de parafuso sem fim, bombas americanas, de 4 polegadas, câmara dentro do tombadilho e com boas comodidades, casa de rancho em cima do convez, com cozinha a seguir e acsa de caldeirinha ou motor que fôr adoptado. O porão é livre, tendo só o paiol das amarras no bico da prôa. Os três mastros são de Origon-Pine, o grupez e pau da bujarrona de Spruce e os mais paus de Biga e pinho.
Os aparelhos são de arame, as velas de algodão americano desde o numero 0 e os cabos de manobra de manilla americana.
O «Orion», de que são comandante o sr. Leopoldo Vergueiro Lopes e imediato o sr. Alberto F. Costa, dois homes vantajosamnete conhecidos na nossa marinha mercante, sai já no proximo dia 10 de barril com carga para Cabo Verde, com escala pela Madeira e tocando nos portos da praia e de S. Vicente.
Para celebrar o acto da entrega, cujas escituras foram lavradas, pelas 17 horas de ontem, nas notas do notário Emygdio da Silva, a direcção da Companhia de Transportes Maritimos União Luso-Brasileira, representada pelos srs coronel Antonio M. Andarde Vellez, capitão Martinho José de Sousa Monteiro, Loureço Correia Gomes e Vasco da Cruz, ofereceu ma magnifico «lunch» fornecido pela Casa Ferrari, a diversas pessoas amigas.
Trocaram-se afectuosos brindes, tendo falado os srs. Martinho de Sousa Monteiro, Arrobas da Silva, John Vale, chefe dos escritorios, Lourenço Correia Gomes, cmapos Duarte e em nome da imprensa a distinta jornalista D. Virginia Qauresma, que saudou os iniciadores da união Luso-Brasileira.
Foi uma festa simples, mas duma alta significação e daqui fazemos votos pelas propseridades da união Luso-Brasileira.
[n.d.] - "Pela marinha mercante / Um novo barco: o «Orion» e a Companhia União Luso-Brasileira"
in Diário de Notícias
de 23 de Março de 1920, nº. 19507, p. 2 (c. 8). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=2305.