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Texto da entrada (ID.2317)

Carta de Londres

Invenção britânica para guiar os aeronautas – Maravilhas do telefone sem fios – Comunicação oral aerea

Um dos maiores receios que ameaçavam o aviador era o perigo de perder o rumo nas alturas. O achar-se no meio de densas nuvens ou de um nevoeiro espesso ao viajar por cima do mar ou num pais estranho em risco de se desorientar, era perigosissimo. Pois, como um ensaio pratico que se fez ontem com o telefone sem fios Marconi num aeroplano HANDLEY Page, ficou provado que este perigo está vencido. Sublime em o nosso aeroplano em Cricklewood, dirigindo-nos para o norte até Bishop’s Storford, voltamos em sentido leste em direcção á costa, depois em sentido final a Cricklewood, conservando-nos durante todo esse tempo em comunicação telefonica com os seguintes pontos: Writtle, perto de Chelmsford; Penvensey, perto de Eastbourne; Lowestoft e Hounslow. Conversavamos á vontade com terra, sendo-nos indicada a nossa posição a todo o instante, e respondiamos ás perguntas que os eram dirigidas do posto do ministerios de Aviação em Hounslow. Por meio de um telefone sem fio provisorio em Cricklewood registavamos no aerodromo donde haviamos partido, tudo que se passava. Estava um dia belo e sereno, sendo-nos assim facil reconhecer os pontos conhecidos, os parques, as varzeas da Inglaterra, alegres e sorridentes com o advento da primavera. Mesmo, porém, que houvesse sido um dia de nevoeiro espessissimo nos houvera sido facil acertar com o local onde nos achavamos.

Todos os preparativos para o ensaio foram feitos com perfeição. Coube a cinco representantes da imprensa o privilegio de tomar parte nele. Na quarta-feira tiveram ocasião de ver uma fita cinematografica muitissimo bem feita em Jury’s Imperial Pictures (Limited), mostrando o processo do novo invento e ontem viram esta maravilha da sciencia em operação. Como cheguei cedo ao aerodromo em Cricklewood, tive o ensejo de fazer alguns ensaios antes do aeroplano partir. Dois telefonistas Marconi estabeleceram no aerodromo uma estação radio-telefonica receptora, provisoria, servindo-se dum instrumento de 70 libras de peso que se coloca no aeroplano. Ouvi perfeitamente as estações de Hounslow e Peveney falarem uma com a outra.

Chegado o momento de partir no aeroplano, não falto uma nota de pessimismo. Constou que o piloto não estava muito disposto a subir soprava um vento bastante forte, dizia-se que estava soprando á razão de 40 milhas por hora, se bem que nos parecesse isso um tanto exagerado. Em todo o caso, estava ventando, tudo fazia prever uma viagem agitada Comtudo, partiamos ás 2,45 (14,45) havendo-se modificado a carga em atenção ao estado atmosferico. O Handley-page portou-se magnificamente sob a direcção dum piloto experimentado. Parecia um transatlantico gigante a navegar com toda a segurança num mar agitado. Era tão pouco balanço que podia-se gosar perfeitamente o explendido panorama dos prados verdejantes de Essex, esmaltados de branco e entrecortados de rios a brilharem como prata.

Ás 4,15 (16 horas e 15 minutos) voltamos a terra em Cricklewood, tendo feito em vôo esplendido. Ha uns dez anos atrás causava sensação o atravessar o Canal da Mancha em aeroplano, e o aviador estava sempre em perigo de perder o rumo. Actualmente é facil de prevêr que daqui a outros dez anos todo e qualquer aeroplano ou dirigivel poderá falar com toda a facilidade com a terra.

O telefone sem fio, empregado para orientação, tem actualmente um alcance de 100 milhas – limite este que se impõe antes por convenções aérea internacionais do que pela potencia dos instrumentos. É possivel expedir e receber mensagens orais, num aeroplano, a 100 milhas de distancia da estação radio-telefonica. Fizemos o nosso ensaio:

«Handley Page G.-Ealx» (era o nome do nosso aeroplano registado no codigo internacional. «G.» É a Grã-Bretanha, e «Ealx» o nosso aeroplano). «Chamada. Pode-se a indicação do lugar; a indicação do lugar. Acabou».

Foi assim que falou o sr. R. A. Munday, telefonista dum transmissor provido de um microfone especial abafado que, insensivel ao rugido da maquina, registava e aumentava a voz. A fala foi ouvida perfeitamente em Peveney, Writtle e Lowestoft, notando-se que a voz chegou a estes pontos com um som metalico curiosissimo. Em cada um destes pontos estava um telefonista com o receptor ao ouvido e operando um cursor (direction finder) para descobrir o ponto exacto donde vinha a voz. O cursor (direction finder) tem um ponteiro que corre com facilidade para qualquer ponto da bussola, e conforme o movimento deste ponteiro o receptor aereo da estação radio-telefonica tambem se move até achar-se em linha recta, por assim dizer, com a voz. É desta maneira que se obtem a orientação, o que se fez em Writtle, Peveney e Lowestft. Em Writtle, sendo estação transferiu-se a orientação indicada para um mapa. De Peveney e de Lowestft comunicou-se o rumo a Writtle para que o telefonista tambem pudesse registar a orientação e a posição. A intersecção das três linhas de orientação deu a posição do aeroplano donde se falava. De Writtle indicou-se pelo telefone a posição do aeroplano, seguindo o mesmo principio que o artilheiro empregava para descobrir a posição da artilharia do inimigo por meio do telemetro acustico e semelhante tambem ao sistema pela qual o oficial de cavalaria se orientava no deserto, trabalhando com a bussola e guiando-se por algum marco conhecido.


Referência bibliográfica

[n.d.] - "Carta de Londres" in Diário de Notícias de 7 de Maio de 1920, nº. 19551, p. 1 (c. 1-2). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=2317.



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