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Texto da entrada (ID.2328)

Um caso consolador

Como a sciencia livra da condenação á morte

«SABE? A RADIOTERAPIA possue agora mais uma prova grandiosa».

Foi esta uma afirmação das que ontem nos dirigiram em uma conversa curiosa sobre casos de cura de doenças horriveis. E dai a pouco éramos apresentados ao doente que podia constituir a prova.

- E qual foi o mal de que se curou? – perguntámos ao apresentado.

- O cancro.

Esta palavra, soando aos nossos ouvidos como um clamor de sinistro ou um agouro de tragedia, fez com que a nossa atenção se voltasse vivamente para o canceroso que ao radio devera a sua salvação.

Depois de sabermos que se tratava do sr. Antonio Moreira Branco, industrial de ourivesaria de prata, com residencia na rua Duque da Terceira, 258, Porto, o seu amigo pediu-nos que tomássemos bem conta da sua narrativa consoladora. Prometemos; escusado era pedir-se-nos tal. O «Diario de Noticias» não se exime a contribuir com a sua publicidade para a alegria esperançosa de quantas pessoas para aí sofrem do cancro. E o sr. Moreira Branco contou-nos:

- Comecei a sofrer do maxilar inferior ha cerca de 30 anos. Era uma angustia que não se conta ao ver que muitos medicos iam deslizando em face do meu sofrimento sem lhe darem uma pequena atenuação sequer. Ao fim de 16 anos foi-me feita uma raspagem pelo malogrado dr. Caldas, da capital do norte. O dr. Sousa Oliveira operou-me tambem tres anos depois, fazendo-me uma recessão de metade do mesmo maxilar. E continuava sofrendo, sofrendo como não se pode calcular. Mais seis anos e aparecem-me na aludida região uns «caroços», que foram engrandecendo até que o dr. Manuel Moraes Frias mos operou.

Houve uma pausa, Nós olhávamos com comoção aquele homem cuja narração era de verdadeiro martirologio.

- Mas era então um cancro, com certeza? – interrompemos, quase só para acompanhar o interlocutor na sua cruel rememoração.

- A analise histologica provou-o. Era um cancro maligno.

- E depois da terceira operação?

- Nunca mais cicatrizou a ferida. Ficára-me como que uma fistula de um centimetro de diametro, cuja supuração era constante. Dôres crudelissimas torturavam-me dia e noite, não me deixando dormir. Era então meu medico assistente o dr. Ribeiro Seixas, que me dedicava uma carinhosa solicitude e que me fazia tratamentos tendentes a animar-me e a darem aos meus a esperança das melhoras. Depois de varias punções e injecções, aquele medico resolveu aconselhar-me a vir para Lisboa para que o sr. dr. Decio Ferreira me tratasse. Devo ao dr. Ribeiro Seixas um reconhecimento infinito por tal resolução. Começou o sr. dr. Decio Ferreira a tratar-me pelo rádio. Á quarta vez as dores desapareciam-me. Emfim! Como relembro o alivio que senti! Como relembro o principio da minha salvação! E como acho infame o espirito negativista dos que não teem rebuço em afastar do ilustre clinico radioterapico muitos doentes que ele salvaria, como me salvou a mim!

- Quantas aplicações de radio fez ainda?

- Vinte e oito, em series de sete, com pequenos intervalos, no decorrer de um ano. Mas após a quarta sessão, que me libertára das dores, a minha confiança no maravilhoso processo engrandecia sempre. Dormia bem, já. Tinha esperança, sentia-me animoso e percebia que caminhava para a minha redenção. Submetido que fui á 28ª aplicação o meu sofrimento acabava por completo, maravilhando todas as pessoas que tinham tido conhecimento do seu horror e que me haviam considerado, por via dele, um condenado á morte.

E, a pedido do sr. Moreira Branco, examinámos-lhe o maxilar, no lado direito com as mostrar pouco perceptíveis da ulceração cancerosa.

- estou curado hoje absolutamente! – disse-nos a seguir o assistido do dr. Decio Ferreira no tom entusiástico em que se dizem as hossanas. – Diga no seu jornal áqueles a quem tortura uma desgraça como a que eu tive, diga-lhes que se salvarão se se entregarem a esse homem de sciencia e de humanidade que é o dr. Decio Ferreira, a quem tantas curas se devem já pela sua notabilissima clinica do radio. Eu ia a morrer lentamente e ele afastou-me do tumulo. A minha gratidão só se satisfaz se o meu caso fôr bem vulgarizado.

Merece com efeito toda a vulgarização aquele milagre da sciencia. E por isso ocupamos com muito prazer o espaço destas linhas sinceras e de verdadeiro interesse publico.


Referência bibliográfica

[n.d.] - "Um caso consolador" in Diário de Notícias de 30 de Maio de 1920, nº. 19574, p. 3 (c. 5-6). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=2328.



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