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A encefalite letargica

Na Sociedade de Sciencias Medicas realizaram-se ontem importantes comunicações sobre esta enfermidade

Com grande concorrência de médicos, estudantes e curiosos realizou-se ontem, pelas 21 horas, na sede da Sociedade de Sciencias Medicas uma sessão extraordinaria destinada a sincronizar a genese, o estudo, a evolução e o tratamento da encefalite letargica, tendo prezidido [sic] o sr. dr. Azevedo Neves, secretariado pelos srs. drs. Antonio de Menezes e Figueiredo Valente.

Iniciados os trabalhos o presidente deu a palavra ao sr. dr. Leite Lage, que principiou por descrever os nove casos de encefalite letargica por ele tratados, a variedade de sintomas pelos doentes apresentados, como tremuras, olhar vago, palpebras cerradas, dores agudas nos membros, sensação de fogo na cabeça, cocatonia nos membros, suores profundos, sonolencia, inercia nos membros, paralisias faciais e sensação estranha de repelões continuos, ora numa das mãos, ora nos terços superiores das pernas que os enfermos sentem de quando em quando, terminando as suas considerações depois de reputar a encefalite letargica como uma consequencia da «gripe» pulmonar, ou pelo menos como uma intoxicação do sistema nervoso pelo mesmo microbio.

Seguiu-se-lhe o sr. dr. Antonio Pereira Flores que começou por historiar as diversas fases da encefalite letargica, a sintomatologia observada, a reacção a que são submetidas as celulas da massa encefalica por virtude da enfermidade, havendo alguma semelhança, em certos casos, com a doença do sono.

Em seguida apresenta alguns alvitres não só para o seu tratamento, como tambem para que a paralizia ou qualquer outra lesão não deixe aleijões nas pessoas atacadas.

Ainda fez algumas observações de ordem patologica e histologica, concluindo por expor a sua ideia sobre os neurones motores.

Nesta altura o dr. Fernando Matos Chaves declarou que deseja fazer sobre o assunto uma conferencia, na próxima semana.

Falou depois o sr. dr. Cancela de Abreu, que disse ter tratado 8 individuos, cujos sintomas característicos merecem especial referencia, o que descreve em seguida, terminando por narrar um caso sucedido com um individuo da Amadora, que tendo ido visitar um parente atacado de encefalite letargica, na Avenida Almirante Reis, passados cinco dias, estava tambem atacado, o que o leve tambem a crer que a doença é contagiosa.

Rematou por declarar não se alongar mais por desejar que todos os colegas exponham as suas opiniões sobre o assunto.

O sr. Azevedo Neves elogiou o procedimento dos estudantes do hospital, dando assim uma prova da sua inteligencia e do seu amor profissional, o que lhe apraz registar.

Seguidamente falou o sr. dr. Moraes David, que declarou ter tratado 14 casos de encefalite letargica, sendo 3 de mioclonicas mixtas e uma de mioclonica pura e em todas elas, exclama, encontrou sempre uma progressão de sintomas emaranhados e perigosos, tendo alguns doentes atingido temperaturas elevadas, quando proximos da morte, ao passo que outros, em identicas circunstancias, não obtiveram mais do que 37 ½.

O sr. dr. Almeida Dias apresentou mais casos de encefalite letargica bem como o sr. dr. Geraldino Brites, sendo muito interessantes as comunicações por eles prestadas.

Ao encerrar a sessão o presidente marcou a próxima para sabado.


Referência bibliográfica

[n.d.] - "A encefalite letargica" in Diário de Notícias de 27 de Junho de 1920, nº. 19602, p. 2 (c. 3). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=2338.



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