Encefalite Letargica
Voltou ontem a ser discutida na Sociedade de Sciencias Medicas
Sob a presidencia do professor dr. Azevedo Neves, continuou ontem, na Sociedade de Sciencias Medicas, a discussão sobre a epidemia da encefalite letargica, com a assistência de grande numero de professores e assistentes da Faculdade de Medicina, muitos médicos e estudantes que enchiam completamente a magnifica sala das sessões, o que revela o interesse que está despertando o assunto.
Usou em primeiro lugar da palavra o sr. dr. Fernando Matos Chaves que, depois de fazer a historia da doença, relatou as suas observações num doente da sua clinica, indicando a sintomatologia e terapeutica adoptada desde o começo até á morte.
Em seu entender, a encefalite é uma molestia individualizada, não tendo nenhuma filiação na «gripe».
O sr. dr. Costa Nery, por quem o mesmo doente foi observado, fez tambem algumas considerações a seu respeito.
O sr. dr. Anibal de Castro, em presença duma doente cuja historia clinica descreveu, concluiu, em face dos sintomas observados, que a encefalite é possivelmente uma infecção gripal.
O sr. dr. Castro Freire (Filho) comunicou um caso de encefalite, observado numa criança de 4 meses, que não se apresentou com gravidade e que é o primeiro caso conhecido entre nós, em tão baixa idade.
O professor dr. Salazar de Souza referiu-se a alguns casos observados na sua clinica de pediatria, inferindo que, nas crianças, a moléstia não reveste grande gravidade. Não é de opinião que a encefalite se filie na infecção gripal.
O sr. dr. Henrique Roquete refere-se ao aspecto oftalmologico num caso ambulatório que observou.
Por ultimo, o professor dr. Ricardo Jorge evocou os tempos saudosos de ha 30 ou 40 anos em que na Sociedade de Sciencias Medicas se reunia a «elite» da classe medica todas as vezes que a epidemia nos batia á porta, sendo-lhe grato verificar que o mesmo está sucedendo actualmente. Opinou, em face da importância que o caso reveste, que o assunto volte a ser ventilado em sessões subsequentes.
Nota com jubilo, pelos informes e pelas observações muito cuidadas, que lhe chegam de todo o país, que os medicos portugueses estavam, scientificamente, preparados para estudar e compreender a epidemia.
Concluiu por dizer que prosseguirá nas suas considerações na próxima sessão, que foi marcada para amanhã, ás 21 horas.
[NOTA - A numeração da edição que aparece no original consultado está errada, por erro, anterior, na contagem: assim, em vez de ser n.º 19609 -- o que aqui se registou --, aparece o n.º 19608]