UM SABIO ILUSTRE
O Principe Alberto do Monaco em Lisboa
Um dia dedicado exclusivamente a assuntos maritimos
No «Cinco de Outubro»
São oferecidas ao Principe a cartas hidrograficas das nossas costas
As visitas de S. A. S. o Principe do Monaco, nosso ilustre hospede, começaram ontem pelo navio de guerra «Cinco de Outubro».
Ás 14 horas, rigorosamente fardado de oficial de marinha e acompanhado dos seus cooperadores e dos srs. almirante Neuparth capitão tenente Franco, saiu de bordo do «Vasco da gama», tomando uma embarcação em direcção ao referido navio, cuja guarnição, com o respectivo terno de corneteiros lhe prestou as devidas honras, apresentando armas.
Sua Alteza recebeu na escada do portaló os cumprimentos do comandante, sr. capitão de fragata Almeida Carvalho e de muitos oficiais da nossa marinha de guerra, do director do museu oceanografico espanhol e de seus filhos, Julio Richard, etc., destacando-se entre a assistência o sr. Thoulet, reputado patriarca da sciencia oceanografica, que acompanha o Principe Alberto e que conta já 78 anos.
Em seguida, o comandante do navio apresentou ao ilustre visitante a oficialidade de bordo, agradecendo o Principe a forma como, mais uma vez, era recebido pelos oficiais da nossa marinha.
O ilustre visitante, ladeado pelos srs. almirante Neuparth e comandante do «Cinco de Outubro», visitou varias dependencias do navio, admirando as suas instalações e as modificações modernamente introduzidas a bordo.
Trocando impressões com alguns dos oficiais que fizeram parte da antiga missão de trabalhos oceanograficos levada a efeito nas costas de Portugal e dirigida pelo então capitão de mar e guerra sr. Hugo de Lacerda, teceu os mais rasgados elogios a esses trabalhos incitando os mesmos oficiais a continuar nessa obra de altíssimo valor.
Foram-lhe em seguida mostradas as cartas hidrograficas da costa de Portugal, elogiando tambem depois de largamente apreciar, esse importante trabalho.
A nossa oficialidade ofereceu-lhe copias dessas cartas, encerradas em luxuosas encadernações.
A visita demorou mais de uma hora, depois do que Sua Alteza se retirou com a sua comitiva tendo primeiramente agradecido de novo o acolhimento que lhe fora dispensado;
A bordo da «Açor»
Inauguração dos trabalhos oceanograficos
De bordo do «Cinco de Outubro» dirigiu-se Sua Alteza o Principe Alberto, acompanhado da base naval, em cujos mastros tremulavam as bandeiras portuguesa e do principado do Monaco, para a canhoneira «Açor», a qual está já ha tempos desarmada e entregue a varios serviços maritimos.
A bordo encontrava-se uma pequena força de marinha, que prestou a guarda de honra, assim como alguns oficiais e o comandante da «Açor» quando esta se encontra no estado de armamento, capitão de fragata sr. Augusto Moreira Rato.
A visita á canhoneira «Açôr» foi rapida e teve por fim o inicio da continuação dos trabalhos da vida oceanografica, interrompidos pela morte do falecido rei D. Carlos, que, como se sabe, muito se dedicava a essa curiosa e interessante especialidade. Sua Alteza mostrou grande satisfação em que tais trabalhos recomecem, dando a proposito algumas preciosas indicações sobre o que ha a fazer.
Após a visita, o Principe do Monaco apresentou os seus agradecimentos aos oficiais de bordo, e, com a sua comitiva, retomou lugar no gasolina da Base naval, seguindo para a Escola de Torpedos do Vale do Zebro.
Na Escola de Torpedos
O ilustre visitante foi recebido pelo
sr. ministro da marinha e
muita oficialidade
Eram 16 horas quando o Principe do Monaco chegou á Escola de Torpedos do Vale do Zebro.
Ás 13 horas, havia saido da ponte do Arsenal de Marinha com destino áquela Escola o vapor «Azinheira», levando a bordo muitos oficiais de marinha e convidados, tendo seguido uma hora depois, com o mesmo destino e acompanhado do chefe do gabinete e ajudantes, o sr. ministro da Marinha, que, durante a viagem, recebeu os cumprimentos de continencia de todos os navios de guerra fundeados nos pontos por onde passou.
Na Escola de Torpedos tudo se encontrava a postos para receber o ilustre vizitante, estando estendida uma passadeira vermelha na escadaria do cais e ainda uma outra, que seguia em varias direcções, vendo-se nas salas e oficinas, onde o asseio e boa ordem eram irrepreensíveis, vasos com plantas e muitas flores. No cais estavam fundeadas varias embarcações, como gasolinas e escaleres, pertencentes á Escola.
Ás 16 horas, como dissemos, viu-se ao largo, navegar em direcção á Escola, o barco da Base Naval, onde seguia o Principe Alberto. Como a maré estivesse vasando, imediatamente foi ao encontro da embarcação, um escaler a remos, com 10 marinheiros e um cabo. Além da ponte de ferro que vem do Barreiro, Sua Alteza e as pessoas da comitiva passaram para bordo do escaler dos marinheiros, que imediatamente navegou em direcção ao cais da Escola, emquanto o da Base Naval se fazia ao largo.
O ilustre visitante ao saltar em terra, recebeu os cumprimentos dos srs. ministro da marinha, almirante Julio Galis, vice-almirante Silveira Moreno, Almeida Lima e Pereira Nunes; contra almirante Nunes da Silva, capitão de fragata, Carlos Freitas da Silva, chefe do gabinete do sr. ministro da marinha; capitão de fragata Afonso Cerqueira, comandante da Escola da Aviação marítima; capitão de mar e guerra Paiva Corado, chefe do Departamento Maritimo; 1º comandante da Escola de Torpedos, capitão de mar e guerra Aires Ferreira de Sousa; 2º comandante capitão de fragata Filipe Paiva; capitão tenente da Escola, dr. João Severo Duarte da Fonseca; capitães-tenentes Soares Taborda, Azevedo Franco e Mesquita de Oliveira Soares, 1º tenente Guimarães, capitão-tenente maquinista Soares, etc.
A guarda de honra era constituida por uma força comandada pelo 2º tenente Pedro Antonio.
Os marinheiros, de uniforme azul, apresentaram armas, enquanto o terno de cornetas executava a marcha em continencia.
A visita de Sua Alteza á Escola de vale de Zebro tinha já despertado o interesse do ilustre visitante que desejava ver varias minas alemãs aparecidas em varias correntes oceanicas.
O Principe Alberto terminados os cumprimentos, dirigiu-se, acompanhado dos srs. ministro da Marinha e do almirante Neuparth e seguido da restante oficialidade, para a oficina de torpedos. Uma vez aqui, o sr. capitão-tenente Azevedo franco mostrou-lhe uma grande mina alemã, apanhada, durante a guerra proximo da barra e que fora rebentada na Trafaria por aquele ilustre oficial.
Sua Alteza dispensou especial atenção a essa mina, assim como tambem a uma outra francesa que lhe foi mostrada.
Em seguida, todos atravessaram um espaçoso pateo, onde estavam formadas uma força de marinheiros e outra de sargentos, entrando nas dependências do 1º comando da Escola, onde se encontrava o sexteto Cunha e Silva, que executou o hino do Monaco.
Depois todos se dirigiram para uma das salas, fazendo o director da Escola a aptresentação de todos os oficiais da mesma, demorando-se o Principe Alberto algum tempo a conversar com o sr. vice-almirante Silveira Moreno.
(…)
O que ha hoje
Ás 10,30, visita ao aquario Vasco da Gama; almoço a bordo; á tarde, visita ao Jardim Zoologico; á noite, jantar oferecido pelo governo, no ministerio do Interior, assistindo todos os ministros e respectivos chefes de gabinete, governador civil, comandantes de divisão e da guarda republicana, major general da armada, dr. Ricardo Jorge, etc.