UM GRANDE HOMEM DE SCIENCIA
O Principe de Monaco chegará hoje a Lisboa
Uma vida dedicada ás investigações oceanograficas
Desembarcará hoje, em Lisboa, S. A. S. o Principe Alberto I, do Monaco. Depois do Rei Soldado, o Principe-Homem de Sciencia. (…)
Logo depois da guerra de 70, durante a qual servira na marinha francesa, como já servira na marinha espanhola de que é vice-almirante, S. A. S. organizou uma expedição ao norte d’Africa. Em 1884, apetrechado convenientemente começou as viagens oceanograficas a bordo do hiate «Andorinha». E depois do «Andorinha», foi o «Princeza Alice II», e por ultimo, o «Andorinha II». A zoologia marinha como a zoologia terrestre, principalmente a dos mares e terras açorianas, mereceram-lhe atenções e carinhos especiais. As correntes maritimas do Atlantico Norte estudou-as o Principe com cuidados meticulosos, prestando assim um serviço só suficientemente avaliado durante a guerra, pois desses estudos resultou a possibilidade de se determinar a marcha das minhas fluctuantes.
A fauna e a flora submarinas foram, então, reveladas ao mundo scientifico[.] O «chirotenbtis grimaldi», o «clorocidaris blakel», o «deima atlanticum», o «megulopharynx», todos esses produtos estranhos da zoologia marinha, vivendo a 800, a 1000, a 2000, a 3.500 metros, apareceram como entes do mundo real, eles que pela sua fórma, pela singularidade das suas linhas, pela bizarria dos seus aspectos, dir-se-iam nascidos de uma ousada fantasia de recluso num manicomio[.] O principe Alberto do Monaco ficou, assim, perante as gerações como a figura classica do explorador dos Oceanos. Mal compreendemos nós, os homens da cidade, (…), o jubilo quase infantil com que esse principe ilustre dia a dia verificou as aquisições de exemplares desconhecidos e insuspeitos que ia arrancar ao fundo do oceano, onde conservavam uma existencia hermetica, secreta.
Mais tarde, fez construir um Museu, o museu oceanografico mais rico de todo o mundo, onde guardou e guarda os incontestaveis atestados da sua obra colossal para a sciencia. (…). E, depois do Museu, vem o lugar do ensino, e, para isso, fundou o Instituto Oceanografico de Paris onde funcionam três cursos anuais de oceanografia fisica, oceanografia biologica e fisiologia dos seres marinhos. (…).
Deve-lhe Portugal vantagens assinaladas. O Serviço Meteorologico dos Açores é, por assim dizer, criação sua, porque não se poupa a esforços nem a dispendios para conseguir o desenvolvimento da sciencia que abraçou com entusiasmo. A participação dum naturalista português na campanha oceanografica do Atlantico foi obtida por diligencias suas; a vinda a Lisboa no navio que, por encargo do Instituto Espanhol de Oceanografia anda fazendo explorações naquele mar, á sua intervenção se deve ainda.
(…).
[NOTA - com fotografias]