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A CURA DA TUBERCULOSE

Conferencia no salão nobre da Escola Medica

O ilustre clinico espanhol dissertou sobre a panantogenoterapia como meio racional da cura da tuberculose

O metodo usado pelo dr. Alfonso Alcaide tem produzido resultados seguros na cura da terrivel doença

Sob a presidencia do sr. dr, Julio Martins, ministro da Marinha, representando o governo, secretariado pelos srs. drs. Couceiro da Costa e Queiroz Veloso com a assistencia do sr. João Rocha, representando o sr. Presidente da Republica, realizou ontem a sua anunciada conferencia, no salão nobre da faculdade de Medicina, o sr. dr. Alfonso Fernandez d’Alcalde, doutor em medicina e Direito e membro da Academia Rial e Nacional de Madrid.

Fez a apresentação do conferente o sr. dr. Julio Martins, usando depois da palavra o sr. dr. Azevedo Neves, director da Faculdade, que se referiu ao desejo intenso que anima os portugueses de efectivarem o intercambio intelectual e scientifico entre os dois países, por quanto até hoje, entre nós, apenas são conhecidos os metodos e processos franceses, isto com grave prejuizo da sciencia, visto que em Espanha se está operando um notavel movimento de renovação, que é justo apreciar e encarecer. A conferencia do sr. dr. Fernandez d’Alcalde proporciona-nos o ensejo de constatar quão notavel é a sciencia medica no país visinho. Em nome da faculdade agradece a honra que o ilustre medico lhe dispensa, fazendo nas suas salas uma tão notável conferencia.

O sr. ministro da Marinha dá, depois, a palavra ao ilustre medico, que agradece os elogios que lhe endereçaram e muito especialmente as palavras de carinho que tiveram para com o seu país, entrando, a seguir, no campo da conferencia.

Depois de um largo preambulo, o conferente expõe as experiencias a que durante oito anos se entregou para chegar ás conclusões por ela atingidas na cura da tuberculose, feita por um metodo, nascido do seu largo estudo.

Refere-se ao inicio da «autoseroterapia», na cura da terrivel doença, dizendo que em vista dos resultados animadores das primeiras experiencias, se aventurou depois ao emprego das vacinas panantógeneas, cujos efeitos foi apresentando sucessivamente em autorizadas sociedades scientificas e medicas.

Após uma larga digressão sobre as origens da doença e diferentes metodos usados na sua cura, sem que se chegasse a resultados absolutamente seguros, o conferente passou a expor de uma forma geral o que é na sua essencia o metodo da vacina panatógenea. O seus elementos – diz – são: espectorações do proprio individuo afectado de tuberculose pulmunar a quem se vai tratar, agua do Mediterraneo, extraida no alto mar, a uma profundidade superior a 100 metros e uma pequena quantidade de vitomina.

Estes componentes formam uma emulsão que se conserva de 24 a 48 horas numa estufa a 37º. Durante este tempo agita-se varias vezes com agitador electrico, filtrando-se depois duas vezes, a primeira vez no vacuo e a segunda por centrifugação. Por este processo, obtem-se um liquido cristalino, como agua de rocha, e que depois é injectada em quantidades de 0,50 a 5 c.c., a enfermos de muita gravidade, em dias alternados e distanciando essas injecções, em tempo e quantidade conforme as observações colhidas sobre o doente.

Seguidamente, o orador entrou no assunto do tratamento especifico. Lembrando as palavras de Pasteur, que disse que a vida é uma corrente continua de materia, que se transforma, ficando sempre com a mesma unidade de composição, afirmou que todos os elementos, porém, teem de ser homologos e, se o não forem, teem que converter-se como tais, para se constituir aquela continuidade.

Posto isto – diz – facilmente se demonstra que as vacinas panantogenas possuem todos os caracteres do tratamento especifico para combater com exito os transtornos organicos que conduzem á formação do tuberculo.

Entrando nas conclusões doutrinais da sua conferencia, afirma que nas suas experiencias se tem guiado exclusivamente pelo principio da cura natural de modo que sendo a natureza uma, um só tem que ser tambem o procedimento usado na mesma enfermidade.

Sobre a confirmação da existencia das citadas condições da panatogenoterapia, diz que os efeitos até hoje colhidos sobrelevam muito as esperanças que tinha concebido. Os seus doentes poderão dizê-lo melhor do que ele.

Nenhum deles manifestou no decurso do tratamento, nada de anormal, a não ser a rápida marcha reintegrativa da doença. Este requesito, mais que auqleuer outro o leva a declarar que o metodo panatógeno é isento de perigo, condição esta muito importante a acrescentar a todas as outras.

Estudado o método panantógeno, sob o ponto de vista clínico, na sua pratica e resultados, póde demonstrar-se que a tuberculose pulmonar se evita fisiologicamente, aproveitando a propria imunidade fisiologica natural e póde curar-se, excitando esta mesma imunidade, com uma chamada geral a sua defesa.

Tenho curado muitos tuberculosos até mesmo no periodo cavitario (a caverna, evidentemente, nunca mais será pulmão). Se se generaliza o seu fácil emprego e se usa sistematicamente ao aparecer a primeira espectoração, pois carece de perigo a sua pratica, e poucas gerações a tuberculose deixará de ser o flagelo que actualmente é do mundo civilizado.

Ficando relegada a focos isolados como hoje se encontra a lepra, mais fácil será combatê-la e menos onerosos os meios pecuniarios de que se disponha para atender aos casos esporadicos e rebeldes ao tratamento panantogeneo.

A eloquente oração do ilustre conferente produziu grande sensação no distinto e escolhido auditorio, que o felicitou efusivamente.

Por fim o sr. ministro da marinha agradeceu ao sr. dr. Alfonso Fernandez de Alcalde o ter feito uma tão brilhante conferencia e fez votos para que o inter-cambio scientifico se efective, encerrando depois a sessão.

O sr. dr. Alfonso Fernandez de Alcalde virá brevemente a Portugal fazer experiencias dos seus métodos de cura no Instituto Bacteriologico.


Referência bibliográfica

[n.d.] - "A CURA DA TUBERCULOSE" in Diário de Notícias de 23 de Dezembro de 1920, nº. 19777, p. 1 (c. 6-7). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=2364.



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