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Divulgação Científica em Jornais



Texto da entrada (ID.2386)

Ao lado da sciencia criminologica da electrotechnia, da oceanographia e de tantas outras novas divisões em que o pensamento se especialisa, o estudo dos incendios e do modo de os prevenir e combater, bem merece os fóros de sciencia nova, cujo desenvolvimento é tanto para desejar, quanto este grupo de especiaes investigações visa à protecção de importantissimos valores e de milhares e milhares de vidas. A reunião de todos os conhecimentos e factores podendo concorrer para evitar o temeroso perigo do fogo, bem como impedir ou atenuar os enormes e incompensaveis prejuizos que elle causa, é um progresso de segurança publica, o qual juntamente com o da hygiene das collectividades, a prophylaxia do crime e os adiamentos em todos os methodos da therapeutica, contribue com uma ampla generosidade de esforços para o bem commum.

Será este um assunto que os engenheiros, os architectos, os constructores, os chimicos  deverão cuidar com detida attenção, porque ha muito ha ainda a reconhecer e a inventar a este respeito.

As grandes catastrophes que o fogo determina são a triste experiencia forçada de todos os dias, no campo ou na cidade, em terra ou no mar, porque o incendio a bordo é com certeza um dos mais terriveis casos especiaes de destruição ignea, que a proximidade da agua em grande quantidade nem sempre atenua, antes pelo contrario ás vezes acrescenta, entrando com os seus elementos em decomposição pelo calor a atear o incendio, ou a produzir explosões temiveis que são o inicio ou o resultado da propagação do terrivel elemento nas embarcações. Estão ainda presentes na memoria dos leitores os casos como o do palhabote “Machado”, a explosão do couraçado “Iena”, que os jornaes descreveram com emocionante pormenorisação e tantos outros que a existencia de substancias explosivas nos paioes tornam por demais terriveis. São estes acontecimentos muito mais frequentes do que se imagina; segundo uma memoria de Lewes apresentada á Associação dos Architectos Navaes de Londres e ha pouco tornada conhecida pela analyse de M. Richard, deprehende-se que nos primeiros cinco annos do seculo em que estamos perderam-se pelo fogo 141 navios, representando um total de 162000 toneladas. Refere-se esta estatistica aos desastres mais graves, deixando de parte os pequenos incendios apagados sem graves perdas. (daí que é necessário pesquisar o porquê destes acontecimentos, e o que de deve fazer para colmatar estes sinistros e a sua violência. As causas dos incendios são variadas, sendo que são mais objecto de estudo as que ocorrem em arsenais e nos navios. O estudo depende do conhecimento intimo da constituição dos explosivos e das alterações quimicas rapidas ou lentas das matérias que compõem os carregamentos e depósitos.)

Pode estabelecer-se entretanto um principio, para desviar ao menos similhante perigo – evitar quanto possivel a junção ou proximidade de materiaes oxydantes ou oxydaveis em extremo e de materiaes combustiveis.

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A necessidade de um pessoal rigorosamente technico de fiscalisação de edificios e estabelecimentos, não como simples medida policial, mas como um serviço organizado para o efeito de uma rigorosa prevenção contra o fogo, impõe-se em vista dos successivos sinistros deste genero, que aumentam todos os dias os riscos em presença de novas machinas acompanhadas de combustivel, da multiplicação de tubos de aquecimento e de canalisações electricas, da generalização do emprego de substancias inflamaveis ou explosivas, o petroleo, a gazolina, etc.

A ignificação dos materiaes e o exame de novos meios de ataque das combustões imprevistas ou inevitaveis é por si bastante para uma repartição technica, á qual o estudo destas questões interessantissimas seria sujeito, com a dotação necessaria para o seu amplo desenvolvimento.

Não é só com agua que os incendios se extinguem, muitas vezes é preferivel o uso de corpos bem diferentes, por exemplo o acido carbonico, a areia. Na extincção do incendio nos paioes e outros depositos de carvão, onde a agua não pode penetrar em quantidade suficiente para refrescar e onde pelo contrario é susceptivel de se transformar em gazes combustiveis, os jactos de acido carbonico liquido fazem efeito mais rapido e sem complicações.

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Referência bibliográfica

Bettencourt Ferreira - "Revista scientifica" in Diário dos Açores de 10 de Agosto de 1908, nº. 5150, p. 1 (col. 1-4). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=2386.



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