SEMANA ASTRONOMICA
XI
Chegaram as andorinhas. Entra a primavera.
Mais um fenomeno de origem unicamente astronomica, a influir de um modo absoluto e tiranico sobre toda a vida terrestre, animal ou vegetal, e com o qual ninguem se lembra já de relacionar a Astronomia! Pois outra coisa não é: tudo está em permanecer o Sol mais ou menos tempo acima do horizonte e culminar mais alto ou mais baixo.
No proximo sabado, 21, ás 3 horas e 13 minutos da manhã atravessa o Sol o plano do equador de sul para norte; será o equinoxio [sic] «vernal» como os astronomos costumam dizer. É o começo teorico da primavera, embora este termo só se aplique, em boa verdade, ao nosso hemisferio; nos [sic] hemisferio austral os dias em vez de agora crescerem, diminuem, aproxima-se o que se está habituado a considerar o inverno. É certo que as vicissitudes meteorologicas não são lá tão caracterizadas em periodos bem definidos como cá, embora, sem duvida, aumente o calor em Dezembro e abrande em Janeiro.
A palavra equinoxio está dizendo ser o dia igual á noite em duração. Tal facto, porém, não se dá no mesmo dia 21, pois para isso seria preciso que o Sol não tivesse disco aparente e se redusisse [sic] a um simples ponto luminoso no seu centro; que tambem não houvesse atmosfera produzindo a refracção dos raios da luz solar; e, ainda, que nós mesmos habitassemos, não á superficie da Terra, mas no seu proprio centro.
Por isso é na terça-feira, 17, o dia de 12 horas, com uma noite de igual duração[.] Em 21 o dia terá já 12 horas e 9 minutos e a noite apenas 11 horas e 51 minutos, ou sejam 18 minutos a menos, isto devido a ser nesta ocasião que a diferença vai variando mais rapidamente.
A Lua vai-se sumindo. Na sexta-feira estará no perigeu, e, portanto, mais proxima da Terra, passando depois a afastar-se.
Mercurio é ainda invisivel. Vénus só por meia hora aparece antes do nascer do Sol. O planeta que ainda conserva no ceu a posição mais favoravel é Marte, visivel não longe das Pleiades, ao fechar-se a noite, como avermelhado astro de primeira grandeza. De primeira grandeza tambem, nos aparece Saturno em Libra já antes da meia noite; e com brilho ainda mais fulgente, Jupiter em Sagitario, umas quatro horas depois.
Nas constelações, agora bem visiveis pela ausencia do luar, deslumbra-nos ao sul o rutilante Sirius no focinho do Cão Maior, e sobre este Procion, no Cão Menor[.] Inclinam-se para ocidente o opulento Orion recamado de lumes, precedido ainda pelo Touro, com os interessantes grupos das Hiadas e das Pleiades. Para oriente, vemos Leo tendo Regulus no coração, seguindo-se-lhe a constelação de Virgo, com a formosa estrela denominada a Espiga. Pelo zenite pairam ainda Castor e Polux; para norte, acima da Polar vemos a Ursa Maior, agora já com a cauda para a direita, indicando irmos na primavera.
FREDERICO OOM.