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Divulgação Científica em Jornais



Texto da entrada (ID.2420)

CRONICA MEDICA

Imprensa e medicina

Aqui está um tema para o qual sou chamado por observações de varia ordem que me têm sido feitas, a proposito da vulgarização de noções de higiene por intermedio dos jornais do Porto, promovida pela Delegação de Saude, e de comentarios diversos a artigos e informes nos mesmos jornais publicados a respeito de coisas medicas. Quanto se poderia discutir nas relações da imprensa com a medicina e a higiene! Não chegaria esta pagina toda para a historia e os pareceres sobre o caso…

Mas descansem os leitores, que os não vou ralar com pedantesca dissertação. Quero apenas, já que tanto se fala no assunto, meter nele tambem a minha colherada.

Que os estudos exclusivamente medicos, scientificos, só entre profissionais devem ser versados, é obvio. O traze-los para a imprensa do grande publico, não tem para este qualquer utilidade, e quasi sempre encobre um charlatanesco reclame. Os medicos portugueses têm a sua imprensa profissional, hoje representada, pelo que respeita á clinica, por 3 revistas: «Medicina Contemporanea» (editada pela Livraria Rodrigues, R. Aurea, Lisboa), «Portugal Medico» (editado por mim, R. Candido dos Reis, Porto), e «Lisboa Medica» (editada pelos professores do Hospital de Santa Marta, Lisboa). É nessas revistas que os medicos portugueses publicam os resultados dos seus estudos de patologia e terapeutica.

Na imprensa de informação do grande pu[b]lico, os medicos têm outro papel a desempenhar: é o de fazer propaganda da higiene e de ensinar aquela parte da medicina que toda a gente deve saber, para oportunamente chamar o medico e não cometer erros graves quando este não está. Preconizar tratamentos ou desenvolver temas scientificos, encobre sempre um fim comercial que me abstenho de classificar.

Mas será licito aos não medicos envolver-se em tais assuntos? Decerto o é, e seria utopia pretender proibir que o façam. Conta-se de certo rei de França, cujo nome me não recorda agora, que interrogou os seus cortesãos sobre qual seria a profissão mais fácil e de mais cultores. Muitos foram os alvitres, mas ganhou o cortesão que se colocou numa rua a carpir as suas pretensas dôres; não houve transeunte que não indicasse um tratamento…

Mesmo porque, uma das duas: ou os articulistas se limitam a interessar o publico em assuntos de utilidade, e então tanto faz que os artigos sejam de punho medico como de dedos profanos, – ou desatam a sentenciar sobre questões scientificas e ninguem deles faz caso. Faz, não. Faria; porque ainda não vi em jornais portugueses tal dislate.

Assim, creio que tudo está certo. Que haja muita gente interessada em melhorar as nossas pobres condições sanitarias, só deve ser agradavel a quem a tudo sobrepõe o bem da colectividade. E a medicina, para nós, os medicos.

Dr. A. GARRETT.


Referência bibliográfica

Dr. A. Garrett - "CRONICA MEDICA" in Diário de Notícias de 17 de Março de 1925, nº. 21242, p. 5 (c. 4). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=2420.



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