SEMANA ASTRONOMICA
XII
Desde sabado estamos em plena primavera astronomica, e tambem a meteorologia não se nos tem negado.
É curioso pensar quantos esf[o]rços as sucessivas gerações porfiadamente empenharam para organizar um calendario que désse bem com a data rigorosa do equinoxio [sic], sem na realidade o conseguirem: basta vermos que ainda em 1582 essa data andava errada dez dias, defeito que a reforma gregoriana veio af[in]al sanar.
Melhor já do que isso conhecia decerto essa data o instinto das gentis avezinhas, a que nos referimos a semana passada, patenteando-nos assim quanto esse instinto (a que damos este nome por ignorarmos tudo a tal respeito) é mais apurado do que a inteligencia dos homens. E ainda mais pasmosos exemplos ha que, por interessantes que sejam, não iremos agora referir, para não sairmos do nosso assunto restrito.
É Lua Nova hoje; amanhã podemos tornar a ver no céu ocidental o ténue crescente lunar, tendo entre as suas pontas a chamada «luz cendrada» (galicismo já agora tão inveterado que dificilmente se poderá expurgar). Os ingleses dizem que esse aspecto é «a Lua Velha entre os braços da Nova»; como todos sabem, é isso simplesmente o efeito da iluminação do disco lunar, produzida pela luz relativamente consideravel que lhe projecta a parte da Terra ainda alumiada pela luz do dia, e voltada, nestas circunstancias, quasi em cheio para a Lua.
Como já dissemos (mas nada se perde em repetir), o crescente tem as pontas voltadas para a esquerda, imitando um D quando a fase aumenta e justificando assim a regra mnemonica latina de que «a Lua mente», porque mostra um C quando diminui e um D quando cresce.
Em distancia, a Lua vai afastando-se de nós.
Mercurio já se poderá enxergar no crepusculo da tarde, pouco depois do pôr do Sol, mas não tendo agora a vantagem de vizinhar com algum astro mais importante que lhe sirva de referencia, como sucedeu em Janeiro (e tornará a suceder em Junho), dificilmente poderá ser reconhecido.
Venus só por pouco tempo se vê antes de nascer o Sol.
Marte passou de Aries para Tauro, e lá vai deslizando das Pleiades para as Hiadas, com a sua rubra côr caracteristica, sempre fugindo adiante do Sol que só em Setembro o chegará a alcançar e esconder.
Jupiter e Saturno nascem cada vez mais cêdo: dentro em poucas semanas estarão nas mais favoraveis condições de se verem.
Tendem a desaparecer as constelações que davam tanto esplendor ao firmamento do inverno, mas ainda se vêem bem os Cães, Orion, Tauro, Auriga e Perseu. Aparece em scena a oriente o Boieiro com a sua brilhante Arcturus, assinalada por lhe estar apontando a cauda da Ursa Maior como indica a etimologia grega, do seu nome; mais para norte já está a Corôa Boreal de forma circular, com a sua Perola. Sobre o horisonte eleva-se a nordeste a cabeça do Dragão e a noroeste Cassiopeia, lembrando agora a figura de uma cadeira.
FREDERICO OOM.
*
Errata – Na semana passada, onde se lia Janeiro, devia ler-se Junho.