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O mildio

O mildio é devido a um fungo «Peronospora viticola», ou «Plasmophora viticola», que ataca não só as folhas, como o cacho e os ramos. Reconhece-se facilmente nas folhas, que a principio apresentam na parte superior manchas mais claras, que pouco a pouco amarelecem e por fim se tornam castanhas e, que os nossos camponeses dizem que têm o aspecto de nodoas de azeite. Na face inferior da folha correspondem a estas manchas outras manchas brancas ou esbranquiçadas, que parecem eflorescenciar, como se vê na figura 1, facilmente destacaveis com o dedo. Estas manchas desenvolvem-se com rapidês, quando as condições climatericas são boas, provocando a seca e a queda das folhas. Se o desenvolvimento do mildio fôr detido, só as primeiras manchas se secam e originam nas folhas soluções de continuidade cercada por aureolas acastanhadas. Nos ramos observam-se manchas analogas ás que se constatam nas folhas, embora menos aparentes que estas. Quando tomam a côr castanha, distinguem-se das manchas devidas ao «Black-rot» e á antraquenose por não serem acompanhadas de escoriações.

Sobre os cachos, antes da floração, os pedunculos escurecem e secam-se, as flôres abortam e caem. Nos bagos novos atacados verificam-se eflorescencias de um branco acinzentado. Quando o ataque dos bagos tem lugar, quando estes têm maior desenvolvimento, então tomam a coloração castanha e destacam-se facilmente.

O cogumelo do mildio vive no seio dos tecidos da cepa, contrariamente ao que acontece com o oidio, cujo cogumelo vive á superficie dos orgãos das vinhas, para deles tirar o alimento de que carece por meio de «sugadores», que não penetram a epiderme dos mesmos orgãos.

No mildio, os sporos do cogumelo germinam na face superior das folhas, lançam um tubo que atravessa a epiderme, abre caminho por entre as celulas do tecido da folha emitindo «sugadores», que chupam os liquidos contidos nas celulas. Estes tubos, após atravessarem a folha, emitem ramos de filamentos frutiferos, parecendo, quando vistos ao microscopio pequenos arbustos, e que pela sua aglomeração constituem as eflorescencias brancas que se notam na face inferior da folha.

O mildio para se desenvolver precisa de humidade e calor. Para o oidio só é preciso a humidade. Este facto fornece-nos a explicação do forte desenvolvimento do mildio, quando após chuvas ou nevoeiros se segue o sol. O vento seco e quente, fazendo desaparecer as gotas de agua mata os sporos do mildio. As trovoadas alternando com dias de sol, são extremamente favoraveis ao desenvolvimento do cogumelo. As vinhas mais atacadas pelo mildio são as situadas em planicies cuja [sic] solo é humido ou em vales muito fechados onde condensam os nevoeiros. As consequencias do mildio são muitas vezes desastrosas, como ainda o ano passado (1924) se pôde observar em grande numero de vinhas. Atacadas pelo mildio as folhas secam e caem. As uvas privadas dos elementos que as folhas lhes fornecem, não amadurecem, ou amadurecem muito irregularmente. Parte delas seca ou apodrece e pode dar ao vinho um gosto desagradavel. Se os ataques de mildio se dão em varios anos sucessivos podem ocasionar a morte dos vinhedos atacados. Vivendo o cogumelo do mildio no seio dos tecidos, como acima dissémos, compreende-se que os tratamentos o não possam destruir quando tenham já aparecido as manchas brancas na face inferior das folhas.

«Os tratamentos devem ser preventivos, pois não ha tratamento curativo». Quanto muito depois do aparecimento da doença o que se poderá conseguir será evitar que ela se propague, destruindo as eflorescencias da parte inferior das folhas. Todos os sais de cobre em solução na agua têm a propriedade de impedir, mesmo quando empregados em pequena quantidade a germinação dos sporos do mildio. O sal mais comumente empregado é o sulfato de cobre. Como este sal tem uma reacção acida, queimaria as folhas quando empregado isoladamente. Para neutralizar ou diminuir esta acidês empregam-se bases (cal ou carbonato de sodio), que se formam com o sulfato de cobre as caldas, que podem ser:

«Basicas ou alcalinas» – em que ha um ligeiro excesso de base. As «caldas neutrais» e as «caldas acidas» nas quais existe uma pequena acidês. Alguns praticos consideram as caldas basicas como as melhores, mas são no entanto menos aderentes. As mais vulgarmente empregadas são as caldas neutras, e, finalmente as de acção mais imediata e activa, mas que requerem cuidados especiais na sua preparação para evitar que o excesso de acido vá queimar as folhas, são as caldas acidas. Os primeiros tratamentos contra o mildio, têm uma importancia capital. O primeiro deve efectuar-se alguns dias antes do aparecimento provavel da molestia, e, lembraremos que as folhas e cachos para resistirem eficazmente devem ser impregnados com sal de cobre. Num ano normal fazem-se três tratamentos: «as curas»: a 1.ª quando os rebentos têm 10 a 15 cm. de comprimento o que se dá nas regiões temperadas nas proximidades da primeira semana de Maio ou ultima de Abril. A segunda a seguir á floração e finalmente seis semanas pouco mais ou menos depois da 2.ª cura faz-se uma 3.ª no começo da maturação. Nas planicies humidas e em certos paises chegam-se a fazer 5 ou 6 tratamentos. Sobre este ponto é dificil fixar regras, e, conforme diz o sr. Degrully, o viticultor além dos 3 tratamentos atrás referidos fará os, que as condições climatericas mais ou menos favoraveis ao desenvolvimento da doença, lhe aconselharem. Em caso de mau tempo é preciso aproveitar todas as abertas para começar ou continuar as curas. Mesmo que as caldas sejam em seguida parcialmente arrastadas pela chuva, os sais de cobre têm uma acção eficaz.

Salvam-se assim, muitas vezes as colheitas que nos arriscamos a perder se esperarmos pelo bom tempo. Para a aplicação das caldas usam-se normalmente pulvurizadores [sic], dos quais os mais conhecidos são o «Vermorel», Gobet», (fig. 2), e o «Gaillot».

FRANCISCO DE CASTRO. 

[NOTA - contém duas ilustrações - legendas: “Folha atacada pelo mildio” e “Pulverisador Gobet em acção”]


Referência bibliográfica

Francisco de Castro - "O MILDIO" in Diário de Notícias de 25 de Março de 1925, nº. 21256, p. 4 (c. 2-3). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=2422.



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