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O OIDIO

O oidio é uma doença da vinha causada por um fungo o «Erisypho Tuckeri», que ataca todas as partes verdes da cêpa. Reconhece-se facilmente o oidio, pois os orgãos atacados cobrem-se de manchas esbranquiçadas com o aspecto de farinha (mais visiveis sobre as varas novas e sobre as folhas) – a Poeira como lhe chamam, em algumas regiões do nosso país, os viticultores.

Estas manchas são devidas a filamentos brancos muito finos, que se destacam facilmente com o dedo. Ao mesmo tempo nota-se um cheiro caracteristico de bolor. Passado algum tempo os filamentos brancos caem, dando lugar a numerosas manchas escuras. As folhas, que quando do ataque apresentam a côr cinzenta suja, tornam-se como que fumadas, coriaceas e partem-se com facilidade. No cacho, no inicio da doença, as uvas têm côr acinzentada, como que enfarinhadas, enegrecem passado algum tempo. A vitalidade da cepa é sensivelmente diminuida por esta doença. Quando o ataque se produz sobre o cacho na epoca da floração, os baguinhos secam e caem. Se a doença só se manifesta quando os bagos são maiores então o desenvolvimento destes é muito prejudicado, a pelicula endurece e fende, tornando o bago lenhoso.

Com tempo limpo, seco e quente, o seu desenvolvimento é muito precario ou não se dá. Uma temperatura excessiva de 40 graus pode destruir o fungo. Todas as castas de cepas europeias são atacaveis pelo oidio. As americanas sofrem menos com esta doença. O oidio, como o mildio, causa prejuizos muitas vezes importantissimos.

Por isso os viticultores devem estar precavidos contra ele e assim podem empregar-se duas especies de tratamento:

I) Tratamento preventivo. Emprega-se neste tratamento o enxofre em pó. Actua o enxofre ou directamente por contacto ou por meio dos vapores que liberta, ou ainda segundo alguns autores (mas a este respeito as opiniões não são concordes) pelo anidrido sulfuroso e sulfuretos que origina. O enxofre a empregar é tanto melhor quanto mais puro e fino fôr. Geralmente praticam-se três enxofras: A primeira quando os rebentos tiverem 7 a 10 centimetros de comprimento. A segunda quando da floração. A terceira duas a três semanas antes da maturação.

Se a invasão de oidio fôr muito acentuada, poder-se-ão praticar mais duas enxofras, mas só durante o tempo que mediar entre a 2.ª e 3.ª normais.

Para que o enxofre produza bons resultados, é preciso empregá-lo com o tempo quente (25 a 30 graus). Quando a temperatura fôr muito elevada, o enxofre pode queimar a vinha, deve então interromper-se a enxofra nas horas mais quentes do dia.

Deve escolher-se para a enxofra um dia calmo, não se deve enxofrar com orvalho, nem quando chover, pois as gotas liquidas aglomeram o enxofre, o que convem evitar.

Se chover copiosamente, mesmo três a quatro dias depois da enxofra, pode a chuva arrastar o enxofre e assim torna-se necessario proceder imediatamente e uma nova enxofra. Em geral esta operação da enxofra favorece a vegetação da videira, muito particularmente na época da floração. A aplicação do enxofre faz-se, entre nós, ainda na maioria dos casos, com o tradicional «canudo de enxofra». Pouco a pouco, no entanto, este arcaico instrumento vai dando lugar a instrumentos mais moderno e perfeitos, tais como, o fole Vermorel, a Enxofradora de Quelin Perras ou á Torpilha Vermorel ou ao Enxofrador Revolver[.]

Nalgumas regiões frias pensou-se em substituir o enxofre por polisulfuretos alcalinos, muito soluveis na agua. As suas soluções em contacto com o ar, abandonam o enxofre muito dividido e aderente aos orgãos da vinha. Este processo de tratamento tem a vantagem de permitir que este se pratique mesmo com tempo humido e de utilizar o mesmo instrumento – o pulvurizador [sic] – que se utiliza para as caldas cupricas contra o mildio.

II) Tratamentos curativos. O permanganato de potassio foi preconizado pelo sr. Truchot para combater o oidio. Na realidade, o permanganato de potassio actua imediatamente, destruindo o oidio, mas ao contrario do que acontece com o enxofre, o permanganato só é eficaz na propria ocasião da cura, tornando-se por isso precioso para deter uma invasão de oidio, devida a falta de enxofra.

Detida a doença é indispensavel, na maioria dos casos a enxofra.

A titulo de curiosidade diremos ainda que ha tratamentos preventivos de inverno. No entanto, a pratica e as observações do sr. Ravaz mostraram que estes tratamentos, que consistem em destruir as «perithecas» e os filamentos miceliais exteriores são grande numero de vezes insuficientes para deter a doença.

FRANCISCO DE CASTRO.

[NOTA - contém uma ilustração]


Referência bibliográfica

Francisco de Castro - "O OIDIO" in Diário de Notícias de 24 de Abril de 1925, nº. 21286, p. 5 (c. 2-3). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=2431.



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