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A sciencia do mar ao alcance de todos

A idade dos peixes

Não só debaixo do ponto de vista scientifico, como tambem do comercial e industrial, é importante saber quanto tempo levam os peixes a crescer até que estejam em condições aproveitaveis para a alimentação publica, e em que idade estão aptos a propagarem-se.

Desde longo tempo se fizeram esforços para estudar o meio de conhecer a idade dos peixes, mas só ha cerca de 25 anos se descobriu um processo seguro e pratico.

Antigamente apenas se conhecia uma fórma muito falivel, e pouco pratica, aplicavel somente aos peixes que se podiam criar em lagos ou em lugares sonde fosse fácil captura-los de vez em quando.

Consistia em medir o comprimento dos peixes em diversas épocas. Foi a carpa, peixe que desde seculos, o homem tem por assim dizer domesticado, que serviu para as esperiencias [sic].

Esse processo, porém, só serviu até á idade de 4 ou 5 anos, daí por diante o peixe não crescia ou cresce tão pouco que se torna falivel o resultado obtido. Marcavam-se os peixes com um anel de prata indicando a época do seu crescimento. De vez em quando apanhavam-se e mediam-se. Foi assim que se soube que a carpa pode viver mais duma centena de anos.

Ao cabo de 10 ou 15 anos torna-se impossivel saber a idade dos peixes.

Ha um naturalista alemão Dr. Hofbauer que em 1898 aplicou o novo processo ao mesmo peixe, a carpa, que depois se pôde generalizar a todos os outros. Este processo consiste no exame das escamas. Reconheceu-se comparando a idade das carpas, determinada pelo antigo processo, com o numero de aneis das escamas, que em cada ano crescia um anel. Cada anel destes é separado do antecedente por uma escama que corresponde ao tempo em que ha uma paragem no desenvolvimento do peixe, isto é, no outono e no inverno. Depende isto da maior ou menor alimentação do peixe, que é abundante na Primavera e verão, escasseia no outono e é quasi nulo no inverno. Esla [sic] diferença no crescimento fica bem impressa nas escamas. A materia mineral de que são compostas as escamas dos peixes desposita-se em forma de anel. A largura destas é grande na Primavera, mas muito menor no Outono, de modo que examinando as escamas, ao microscopio, distingue-se os limites dos aneis em cada ano. Dessa forma, contando estes intervalos, determina-se quantos anos tem o peixe.

Como se sabe, por uma forma identica se determina a idade de uma arvore.

Ha ainda uma maneira de verificar este processo que consiste em contar as estrias transparentes que se vêm nas escamas. O numero dessas estrias é duplo do numero de aneis. Ás vezes é dificl distinguir os aneis das escamas e só um olho muito experimentado consegue destrinçar uns dos outros. A contagem das estrias vem então em auxilio do observador.

Estes estudos foram primeiramente feitos sobre a carpa, depois coube a vez ao salmão e ao savel. Como se sabe, estes ultimos peixes sobem os rios para desovar e voltam depois para o mar. Assim se descobriu que o savel fêmea vai desovar, quando não tem menos de 7 ovos, e o savel macho já pode fecundar os ovos com 4 a 5 anos de idade.

A criação nova dos saveis femeas, que tenha sido feita estye ano no Tejo, aqui voltará, ou a outro rio, 1931, enquanto que os machos poderão já vir em 1928.

Ultimamente descobriu-se outra maneira de determinar a idade dos peixes. É pelo exame dos «otalithos» que crescem tambem em zonas como as escamas. Os «otalithos» são uns pequenos ossos de forma lenticular que existem nos canais semi-circulares do craneo do peixe, e que representam uma parte de um orgão especial de reacção do peixe, correspondente pela estrutura ao ouvido dos outros animais, porém executando uma outra importante função, servindo especialmente para equilibrar o corpo do peixe quando nada.

São bem conhecidas as funções dos canais semi-circulares do ouvido do homem, e a influencia que eles têm no equilibrio do corpo.

Ha, pois, dois processos modernos que a pratica já consagrou para determinar a idade dos peixes. O das escamas e o dos otolichos [sic].

São, porém, metodos que só podem ser empregados pelos naturalistas, mas que nem por isso ficam com menor valor pratico. Senão, vejamos. Como nas primeiras idades o peixe cresce, e esse crescimento está em relação, conforme as especies e as raças locais, com a sua idade, facil será, determinada esta pelo processo scientificos [sic], saber a que comprimento do animal ela corresponde. Conhece-se tambem a epoca em que o peixe deixa de ser imaturo, isto é, quando chegado ao seu pleno desenvolvimento, está apto a reproduzir-se. Estes conhecimentos conjugados podem levar a conclusões das quais se poderão tirar regras transformadas em leis e regulamentos para que a pesca se não deva efectuar, quer em certas epocas, quer de determinadas dimensões de peixes.

Daqui a vantagem que existe em que cada vez mais haja laboratorios de biologia maritima, onde os tecnicos estudem as raças locais, peculiares a esse país, e dos seus estudos se tirem consequencias para a confecção de regulamentos de pesca.

Muitas vezes não se podem generalizar os estudos que em determinado país se fizeram, a outros onde as condições de meio e as raças da mesma especie sejam diferentes.

Nos países do norte esses estudos têm incidido especialmente sobre as especies mais comuns e comerciaveis como são o arenque e a solha (especie de linguado) levando esses estudos ao mais alto grau da perfeição. Entre nós, devemo-nos dedicar mais especialmente á sardinha e ao atum, e alguma cousa já se tem feito nesse sentido.

Embora na costa de França apareça a sardinha nova que já vai escasseiando [sic] muito, o que ocorre tambem na costa de Espanha, compete-nos a nós muito principalmente o estudo biologico deste peixe, que constitue a principal riqueza dos nossos mares territoriais.

Enquanto ao atum, esse estudo pode tambem ser compartilhado com a Espanha que tem tanto interesse nele, como nós, contribuindo assim as duas nações para o bem comum, cada qual porem, dentro da sua esfera de acção industrial e comercial.

Augusto Neuparth.

Vice-Almirante.


Referência bibliográfica

Augusto Neuparth - "A sciencia do mar ao alcance de todos" in Diário de Notícias de 30 de Março de 1925, nº. 21261, p. 3 (c. 1-2). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=2518.



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