SEMANA ASTRONOMICA
XIX
Chega-nos a noticia de um curioso meteoro igneo observado em Trás-os-Montes na pequena povoação de S. Cristovão, entre o Pinhão e Provezende, no domingo, 3 do corrente, pelas 5 horas da tarde. Um fulgente bólide, cujo brilho era deslumbrante apesar da luz solar, foi visto passar sobre aquela localidade, dirigindo-se do Sul para o Norte, com uma luz branca intensissima, dando jactos intermitentes como clarões de luz electrica ou de fogos de vistas, acompanhado por um ruido intenso, que a muitos pareceu o de uma pesada e rapida viatura.
Não são vulgares os bólides assim visiveis de dia, despertando tão vivamente as atenções desprevenidas. Como se sabe, essa luz provém apenas do enorme aquecimento que esse corpo sofre pelo seu atrito na atmosfera, á imensa velocidade em que passa por nós. É um fenomeno semelhante ao das chamadas «estrelas cadentes» ou «estrelas corridas» que tão frequentes se mostram em certos periodos, principalmente em Agosto e Novembro. Mas para ter atingido um caracter e um brilho tão notaveis era preciso que a massa desse visitante vindo dos espaços interplanetarios fôsse consideravel, e a sua trajectoria muito proxima, atravessando uma notavel extensão da atmosfera com uma velocidade muito elevada.
Pena foi que não tivessem caido no solo, ou que pelo menos não se lhe encontrassem os vestigios, como ha cêrca de um ano sucedeu ao bólide que foi visto no Alentejo e caiu perto de Olivença.
Havia dias apenas que na mesma região transmontana tinha sido visto outro bólide, mas de noite, e que pareceu explodir no ar.
O que é de estranhar e de sentir, é que haja sempre tão pouco quem dê atenção e publicidade á observação destes fenomenos, pois só de um conjunto de informações pode resultar qualquer conclusão proveitosa para o conhecimento destas deslumbrantes aparições; infundindo em todos admiração, e mesmo terror, aliás justificado, pois os blocos meteoricos, ou «meteorites» que se têm podido encontrar atingem ás vezes um peso de toneladas e produzem no chão fundas crateras.
Notavel é que esses objectos vindos, digamos assim, do infinito, são sempre unicamente constituidos por substancias existentes na Terra: calcareo, silica, magnesia, ferro, niquel. Nenhum elemento quimico desconhecido tem sido neles encontrado.
E para não nos alongarmos mais, deixaremos por hoje em paz os planetas e as estrelas verdadeiras, que vão eternamente luzindo na imensidade «sem pressa, mas sem descanso», como dizem os ingleses nuns celebres e formosos versos.
FREDERICO OOM.