A aeronautica renasce
Por esta epoca convidamos o sr. Chamite, o conhecido escriptor e investigador, que nos visitou no acampamento de Kitty-Hawk. N’uma viagem que emprehendeu em 1903, na Europa, o sr. Chamite contou na França o resultado das nossas experiencias. Publicou, n’uma revista technica, a descripção do nosso aeroplano de 1902, acompanhada de desenhos, emquanto o sr. Archdeacon, a quem a visita do nosso compatriota não deixára indifferente, mandou construir um apparelho do typo “wright”. Os srs. Esnault Pelterie e o capitão Ferber construiram egualmente aeroplanos do mesmo typo. Foi este o começo do renascimento da aeronautica em França.
Até fins de 1902 proseguimos nas nossas investigações pelo unico prazer de fazer mais que aquelles que se nos haviam adeantado sem pensar em rehaver o dinheiro que tinhamos gasto e sem grande esperança de ver resolvido o problema da navegação aerea; mas o exito do nosso ultimo aeroplano foi tão completo, tão decisivo que não nos foi possivel entrever, em novas e incessantes investigações e com mais algumas despezas, a creação d’uma machina voadora com motor de valor pratico. O anno de 1903 passámol-o estudando e construindo um motor de aeroplano, que, n’essa epoca, ainda não existia. Tinhamos de planear tudo, de fazer tudo: motor, cellula e outros detalhes da machina voadora. Estava tudo prompto em dezembro de 1903. A 17 d’esse mez, fizemos quatro vôos, com um vento de velocidade de 9 a 10 metros por segundo. O mais longo durou 59 segundos e a distancia percorrida na atmosphera, com aquelle vento, foi de 260 metros, approximadamente.
Primeiro circuito
Durante o verão de 1904, voltamos ás nossas experiencias, perto da nossa cidade natal, Dayton (Ohio), e, a 20 de setembro, executamos o nosso primeiro circuito completo. Antes do fim da estação, conservamo-nos no ar, por duas vezes, durante cinco minutos, e, em cada um d’esses vôos percorremos quatro vezes o circuito de um kilometro.
Continuámos as experiencias em 1905, com uma machina nova, sempre nos arredores de Dayton. O exito obtido foi tal que, a 3 de outubro, meu irmão Orville executou um vôo que durou 25 minutos, no dia seguinte um outro, que durou 35 minutos.
Estou certo que, n’um novo ensaio p. 2 , meio [sic] irmão teria estabelecido o record de uma hora. Mas o enorme sucesso de curiosidade causado por esses ensaios, que trouxeram a Dayton um numero consideravel de novos habitantes, tornou impossiveis novas experiencias, que não se fariam sem perigosa publicidade, e, como estavamos seguros de ter realisado finalmente a machina voadora, resolvemos não effectuar novos ensaios até que tivessemos garantias sufficientes para o bom exito de uma exhibição.
Depois de termos tratado a venda da machina ao governo americano e a venda dos nossos direitos na França, fizémos novos vôos em Kitty-Hawk, no mez de maio ultimo. Não insisto sobre os trabalhos que levámos a effeito depois d’essa epoca: toda a gente os conhece hoje. Quero apenas accrescentar que, quando começámos os estudos, ha nove annos, o publico não se interessava pela aeronautica, e todos condiziam que o vôo mechanico era impossivel. Mas, após a narrativa dos successos de 1902, 1903 e 1905, logo uma duzia de aeronautas emprehendeu a conquista do ar.
Wilbur Wright - "O passaro W. Wright - Como elle conta a sua historia - Oito annos de experiencia – Dos Estados-unidos ao erodromo de Mans, em França"
in Diário dos Açores
de 30 de Setembro de 1908, nº. 5193, p. 1-2 (col. 6; 1). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=2539.
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