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Texto da entrada (ID.2560)

Os que duvidam

Interrogado, o dr. Debove, professor de clinica medica e decano honorario da Faculdade de Paris, pareceu pouco inclinado a adoptar de plano, a nova doutrina preconisada pelo dr. Doyen:

A longevidade – declarou o dr. Debove – está ligada a tres especies de circumstancias. Umas derivam da hereditariedade, outras de hygiene social e outras ainda de hygiene individual. Ha familias em que se morre velho, n’outras morre-se novo. Sendo certo que p. 2 se não escolhe os paes, não ha meio algum de se subtrahir á fatalidade da hereditariedade. Entretanto, é certo que, nas sociedades bem organisadas, como serão, sem duvida, as vindouras, o numero de doenças epidemicas irá diminuindo. A tysica, a febre typhoide, o cholera, as febres eruptivas, pela força da hygiene geral, tornar-se-hão menos mortiferas. Emfim, a hygiene individual, que consiste em viver sobriamente uma vida physica activa, facilitará ao individuo o evitar as causas de abreviação da existencia. Fóra d’estes principios, não vemos mais do que theorias engenhosas que é preciso abstermo-nos de tomar por verdades realisadas.

Os doutores Variot, medico em chefe da Assistencia ás Creanças e Achard, reconhecendo o interesse dos trabalhos emprehendidos, julgam que o problema de velhice ainda está na infancia.

Accrescentam que é só da hygiene que devemos esperar alguns beneficios “antes de possuir o philtro magico susceptivel de garantir a nossa immunidade e supprimir as causas de decadencia e de destruição”.

O velho Descartes

De alguma cousa nos deve consolar e fazer nos ter esperança na virtude proxima das descobertas de Metchnikoff e de Doyen, é que o grande philosopho Descartes, tinha, em 1636 affirmado a sua crença na prolongação da vida humana.

Na sua Vie de Saint Evremond, editada em Haya em 1711, epoca em que se não previa nem Doyen, nem Debove, conta Des Maizeaux, durante uma viagem na Inglaterra que o santo Evremond ouviu ao cavalheiro Digby a narração de uma visita que este fez a Descartes então retirado no seu ermo de Egmont, na Hollanda.

Interrogado por elle sobre o proposito da possibilidade de prolongar a vida humana, Descartes dera-lhe duas respostas caracteristicas.

Na primeira, affirmou que meditára sobre o caso e que “não ousava prometter tornar o homem immortal, mas que estava bem certo de poder prolongar a vida como a dos patriarchas”.

E ainda Descartes avançou mais:

“Nunca tive tanto cuidado em me conservar como agora: e em logar de pensar que a morte não me podesse roubar senão trinta ou quarenta annos, o maximo, não deixava de me surprehender que não tirasse a esperança de mais de meio seculo.

É verdade que Descartes morreu aos cincoenta e quatro annos, mas parece que a culpa foi d’elle, por ter querido conhecer mais do que o seu medico a maneira de curar a febre.

Seja como for, se Descartes, Metchnjkoff e Doyen teem rasão, devemos desejar o prolongamento da vida?

Sim, se a edade do prolongamento deve ser a mocidade; não, se deve ser a da velhice. Envelhecer é morrer muitas vezes e talvez seja preferivel morrer uma unica vez.


Referência bibliográfica

[n.d.] - "Poderá a sciencia prolongar a vida? - Certamente, dizem Metchnikoff e Doyen - Hum! Dizem Debove, Variot e Achard - Tenho a certeza, dizia outr’ora Descartes" in Diário dos Açores de 12 de Outubro de 1908, nº. 5203, p. 1-2 (col. 6; 1). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=2560.



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