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Texto da entrada (ID.2562)

Cronicas medicas

(continuação)

Direi hoje os restantes mandamentos do professor Labbé, acompanhados das resumidas considerações com que eu os justificaria:

VII – Um pouco de vinho alimenta; o alcool queima e destroi.

Está demonstrado que o vinho em pequena quantidade é um alimento de que o organismo tira energia, como do açucar ou do amido. Sómente quando é grande a quantidade ou grande o grau alcoolico (e por isso são de prescrever os licôres, cognacs, aguardentes, etc.) ha uma intoxicação das celulas cujos efeitos, tanto agudos como cronicos, são do conhecimento de todos.

VIII – É com leite e legumes, não com carnes, que se fortifica o esqueleto.

Na constituição dos ossos entram abundantemente os sais de cal, e é por isso que hoje se receitam tricalcina, fibrocalcina, etc., como ha anos se receitavam o cloridrofosfato, o glicerofosfato e o hipofosfito de cal. A verdade, porém, é que a absorpção dos sais de cal medicamentosos não é sempre garantida, e que o processo mais seguro de enriquecer o organismo a esse respeito é ainda o de aproveitar alimentos onde existam os sais de cal em quantidade apreciavel.

IX – Convém que cada um beba agua em quantidade suficiente para lavar o interior, como com agua se lava exteriormente.

Os nossos tecidos têm uma quantidade certa de agua; e quando esta diminui, a demasiada concentração dos humores logo nos adverte, pela sensação da sêde, de que é preciso suprir aquela deficiencia do elemento liquido. Não é, porém, a estas circunstancias que se refere o medico francês. Ele pensa na lavagem do tubo gastro-intestinal, arrastando os residuos da digestão passada antes que novamente se encha o estomago. É, pois, util beber agua nos intervalos das comidas.

X – Os legumes verdes e os frutos varrem o intestino.

Os legumes verdes e os frutos são alimentos pobres referentemente á energia que o organismo possa tirar deles. Para mais, têm uma substancia indigerivel pelos nossos sucos digestivos, a celulose, cuja presença aumenta fortemente a quantidade das fezes. Sómente, o que pareceria um defeito é uma circunstancia a favor do organismo. Essa massa fecal assim volumosa excita mais fortemente as paredes do intestino, dando lugar a que se produzam mais fortes e mais repetidas contracções dêste. Assim a mesma massa vai progredindo; e é por isso que os medicos receitam tantas vezes dietas ricas de frutas e vegetais verdes para os doentes que sofrem de prisão de ventre.

XI – Os legumes frescos e os frutos neutralizam a acidez excessiva com que uma alimentação demasiadamente rica de carne e de ovos impregna o organismo.

Por decomposição das albuminas e das gorduras formam-se acidos no nosso organismo, e estes têm de ser neutralizados sob pena de nos intoxicarem. Ha varios processos de neutralização, que o organismo emprega para se defender. Com uma dieta de vegetais frescos e frutos, nós absorvemos uma grande quantidade de sais alcalinos que, naturalmente, neutralizam os acidos formados, poupando o recurso a outros processos.

XII – Os alimentos bem cozidos tomam mais sabor e digestibilidade, ao mesmo tempo que perdem certas toxicidades.

Apenas morta, a carne começa a decompôr-se, e todos sabem como certos gulosos apreciam a caça morta de dias. Perdiz com a mão no nariz, diz um adagio que o meu paladar nunca soube compreender.

Assim se formam corpos toxicos que a fervura decompõe, e é esse um dos motivos por que é recomendavel cozer demoradamente os alimentos. Mas ha mais: a substancia alimentar dos vegetais verdes está encerrada numa capa de celulose, a tal celulose que os nossos sucos digestivos não atacam, e que é preciso romper para que as mesmas substancias possam ser aproveitadas.

Findaram os dôze mandamentos. Fazem bem em atentar neles, os velhos para conservação da sua saude, e os novos para que tenham mais probabilidade de chegar a velhos.

F. MIRA.

(...)

[NOTA - No final do artigo, há uma série de respostas dadas aos leitores]


Referência bibliográfica

Fernando Mira - "Cronicas medicas" in Diário de Notícias de 1 de Janeiro de 1925, nº. 21176, p. 9 (c. 1-2). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=2562.



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