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Texto da entrada (ID.2565)

QUESTÕES DO MOMENTO

O ensino tecnico

Se se fizesse a sua reorganização, criando engenheiros para a nossa industria, todos os conflitos terminariam

Acêrca da luta travada entre engenheiros e engenheiros auxiliares, sobre a qual tanto se tem dito e escrito, defendendo uns e outros com calor o titulo conferido pelas suas escolas, quisemos ouvir alguem que, elucidando o publico, fosse ao mesmo tempo a opinião insuspeita de quem olhasse desapaixonadamente a questão.

O nosso entrevistado, o engenheiro sr. Valentim Cerdeira, professor do Instituto Industrial do Porto, foi abordado por nós. E, sem o ar de quem entrevista, porque o nosso amigo em amena conversa discutiria mais largamente e sem preocupações o assunto, interrogamos:

Um conflito injustificado

- Como aprecia o actual conflito entre engenheiros e engenheiros auxiliares?

- É um conflito sem razão de ser. Mas como é uma campanha periodica, não me surpreende.

- E o pretexto da campanha, o titulo de engenheiros?... interrogámos.

- Devo dizer-lhe que nas escolas médias o ensino é feito de tal maneira que os seus diplomados não precisam do beneplacito de ninguem para se dizerem engenheiros.

- Mesmo sem o titulo de auxiliares?

- Certamente. A actual organização dos Institutos não é inferior á das escolas estrangeiras do mesmo genero que não formam engenheiros auxiliares, mas sim engenheiros.

(…)

- O ensino médio dos Institutos, apesar de se ministrar como lhe disse, não vai invadir as atribuições do ensino superior. Ambos têm a sua função definida.

O médio para a pratica da engenharia corrente, o superior para a investigação scientifica e pratica da alta engenharia.

(…)

- Quantas escolas de engenharia temos?

(…)

- Temos quatro escolas superiroes. No ensino médio temos outras quatro, contando com o Instituto Industrial de Lisboa, os Institutos Industriais e Comerciais do Porto e Coimbra e o Instituto dos Pupilos do Exercito.

- Ao todo oito escolas de engenharia…

- Na proporção exagerada de quatro escolas superiores para quatro médias, proporção que não existe em outro qualquer país, com melhores organizações industriais.

Por exemplo: na Suiça ha apenas uma escola superior – a Polytéchnicum de Zurich – para seis escolas médias – Téchnicums.

- Portanto, em seu entender…

O que ha a fazer

- É necessário proporcionar o numero das escolas tecnicas médias e superiores, de harmonia com as necessidades do Estado e da industria, marcando bem a missão duns e doutros, dos seus diplomados.

(…)

- Parece-lhe necessario reorganizar o ensino tecnico?

- Para fazer baixar o nivel do ensino nos Institutos Industriais de médio para elementar, não senhor. Mas para o pôr mais em harmonia com as necessidades da industria, acha-o indispensavel.

A actual organização não satisfaz as necessidades da industria.

- Como assim?

- Os cursos das escolas de engenharia, tanto médias como superiores, é feito todo contra a industria nacional. Baseia-se numa industria metalurgica que, infelizmente, não possuimos.

Assim, por exemplo: temos muito desenvolvidas aqui no norte as industrias de fiação e tecidos, ceramica, moagem, cortumes, construção naval, etc., e as nossas escolas tecnicas não habilitam pessoal de direcção para elas.

(…)

ERNESTO DE BALMACEDA.


Referência bibliográfica

Ernesto de Balmaceda - "QUESTÕES DO MOMENTO" in Diário de Notícias de 5 de Janeiro de 1925, nº. 21779, p. 5 (c. 4-5). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=2565.



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