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Faculdade de Medicina do Porto
O PRIMEIRO ANIVERSARIO DA SUA FUNDAÇÃO
Importancia e acção do velho instituto da capital do Norte
Dentro de poucos meses vai a Faculdade de Medicina do Porto – ou melhor, a antiga Escola Medico-Cirurgica, ha treze anos transformada numa das Faculdades da Univesidade portuense – celebrar o primeiro aniversario da sua fundação, entregando-se já afanosamente aos trabalhos preparatorios da festa sob a direcção do Prof. Alfredo de Magalhães.
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Para os que não conhecem a historia do ensino medico no burgo da beira-Douro, convem que sucintamente se diga em que consistiu o bamburrio feliz do qual derivou a fundação da Escola. Parafraseando uma anedota celebre, pode afoitamente asseverar-se que o ensino medico no Porto começou por não existir… mesmo quando já o havia. Ao dealbar do seculo XIX, o estudo da arte de curar na segunda cidade do país era feito no Hospital de Santo Antonio de uma forma mais que muito atentatoria da dignidade do ensino e da integridade fisica dos doentes que viessem a entregar-se aos clinicos dali saidos. Cadeiras, quatro apenas: anatomia, fisiologia, clinica cirurgica e operações. Professores, em numero igual, correspondendo a outras tantas calamidades publicas, não só pela falta de sciencia como de consciencia. Material de instrução pratica, um esqueleto, alguns craneos abolerecidos, alguns ossos esparsos, e nada mais. Documentos exigidos para a matricula, nenhuns, tirante a carta de sangrador. A qual carta se obtinha mediante um exame cuja unica prova consistia em indicar, no braço do primeiro que se prestasse a arregaçar a manga, qual a veia a picar quando a flebotomia se impusesse.
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Foi neste vergonhoso estado que Teodoro Ferreira de Aguiar, regressando de Leyde, em cuja Universidade se formara, veio encontrar o ensino da medicina no Porto, e mesmo em Lisboa, onde, professado no Hospital de Todos os Santos, se não nivelava num estalão [sic] grandemente superior. Aguiar nascera no Rio de [J]aneiro, tendo vindo em juvenil idade para a metropole. Estudara sciencias naturais em Coimbra, após o que dera fundo nos Países-Baixos a cursar medicina. Inteligente, sabedor e viajado, era fatal que a comparação da multisecular estagnação do ensino medico em Portugal com os progressos do mesmo lá fóra lhe aflorasse ao espirito o desejo de ver reformado o que tão carecido de reforma se lhe antolhava. Resultaram inanes diversas tentativas suas nesse sentido, não obstante a sincera estima com que D. João VI o distinguia. O eterno pretexto da falta de verba orçamental… Um dia, enfim, e exercendo Ferreira de Aguiar o cargo de cirurgião-mór do reino, a ocasião ofereceu-se. Os contratadores do tabaco desejavam uma prorrogação do contrato. Meteram empenhos ao governo e ao rei. Nada conseguiram. Lembraram-se então do cirurgião-mór, cuja influencia no paço removeu todos os obstaculos. Em paga do serviço prestado, Aguiar impôs aos monopolistas a obrigação de concorrerem com dez contos de réis anuais para a manutenção de duas escolas a criar em Lisboa e no Porto. Foi assim, á custa de um vicio tão prejudicial á humanidade, que surgiram nas embocaduras do Tejo e do Douro as Reais Escolas de Cirurgia.
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Campos Monteiro.
[NOTA - Contém um desenho do edifício e uma fotografia do autor do artigo]
Referência bibliográfica
Campos Monteiro - "FACULDADE DE MEDICINA DO PORTO"
in Diário de Notícias
de 12 de Janeiro de 1925, nº. 21186, p. 5; 6 (c. 3-5; c. 4). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=2569.
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