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Texto da entrada (ID.2574)

Coisas e Loisas

FASES DA LUA

Apesar do frio que tem feito, foram os nossos conhecidos Chico e Aninhas encontrar Mestre Pedro na varanda da sua casa, olhando o campo iluminado por este lindo luar. «Luar de janeiro não tem parceiro», diz o rifão, e poucas seriam as noites em que com tanta verdade a sentença popular fosse confirmada.

Ainda o velho professor fixava a beleza luminosa da Lua, quando um dos seus discipulos o interrogou:

- Porque é, senhor Pedro, que a Lua muda tanto de feitio? Umas vezes, vê-se redonda como uma bola, outras parece uma foice?

- A essas formas diferentes se tem chamado «Fases». Mas, antes de explicar-vos o que são as «fases», devo dar-vos uma ideia do que é a Lua.

A Lua é, como a Terra em que habitamos, um mundo; um mundo mais pequeno que o nosso.

-Então tambem ha gente na Lua?

- Mais devagar, seus curiosos. Isso é uma coisa que os homens de grande saber ainda não puderam descobrir. O proprio Flamarion, que deveis ficar conhecendo como um dos sábios que mais tem estudado os astros, dizia num livro seu, falando daquele mundo pequenino que agora vêdes a brilhar no Céu: «Rainha misteriosa da noite, tu, cuja branca luz desce como um sonho sobre o sono da Natureza; tu, que deslisas no seio das vagas etéreas mais suavemente que a gôndola sobre as aguas de Veneza, e que está suspensa entre o Céu e a Terra como um ponto de interrogação a atrair os nossos olhares para os enigmas celestes, quanto desejava conhecer os misterios ocultos da tua graciosa aureola!»…..

- Mas o senhor Pedro ia a falar-nos disso, das fases.

- Já lá vamos; em primeiro lugar, deveis saber que á Lua se chama «satélite» por andar á roda do nosso mundo, como se a ele estivesse presa por uma grande corda invisivel. Desta maneira, acontece que em cada dia, e em cada hora, a Lua está em lugares diferentes, no espaço. E como o Sol se considera quieto, enviando luz sempre do mesmo lado, a Lua, por causa do seu movimento, ora é iluminada de um lado, ora de outro.

Mestre Pedro, servindo-se de uma maçã, espetou-a numa agulha, que a uma certa distancia segurou com a mão, colocando o candieiro de modo a ficar por detrás dela. Ora, façamos de conta, lhes diz o velho, que o candieiro é o Sol, a maçã representa a Lua, e nós somos a Terra. Como vêem, a maçã está ás escuras; é o que sucede quando é «lua nova». Mas, como vos disse, a Lua vai seguindo o seu caminho á roda da Terra, e portanto muda de lugar, como vai acontecer á maçã; e dando um movimento ao braço, efectivamente afastou-a da sua posição primitiva. Viu-se, então, uma estreita faixa de luz num dos bordos da nossa lua improvisada. Seguindo o mesmo movimento circular do braço, essa faixa luminosa foi sucessivamente aumentando até que a maçã ficou dividida exactamente em duas partes iguais: uma escura e outra iluminada. Neste momento a Lua forma com o Sol um angulo recto, que já conheceis, e chama-se a essa fase o «quarto crescente».

- E que tempo leva, no Céu, a Lua a andar esse caminho, senhor Pedro?

- Leva 7 dias e meio. Vejam bem que, continuando a maçã a girar, se vai tornando maior a parte clara, até chegar ao ponto que fica em frente da posição da «lua nova», e que, por receber a luz solar de chapa, fica toda iluminada, chamando-se-lhe, neste caso, «lua-cheia». Cá está. Nesta altura, estavam Mestre Pedro e os pequenos no centro, o candieiro nas costas, e a maçã na frente, com a face voltada para eles, inteiramente banhada de luz. Este caminho gasta a lua 14 ¼ dias a percorrê-lo.

Passados 7 ¾ dias, encontra-se a Lua no «quarto minguante», formando outra vez um angulo recto com o Sol.

A Lua não pára, e ao fim de mais 7 dias, acha-se de novo em «lua-nova», isto é, entre nós e o Sol.

- Oh! senhor Pedro, e a Lua está muito longe?

- Muito longe se compararmos essa distancia com a que podemos medir na Terra. 96.000 leguas.

[NOTA - Este artigo integra o suplemento do DN dedicado às crianças e cujo título é 'Noticias Miudinho'; contém três ilustrações]


Referência bibliográfica

[n.d.] - "Coisas e Loisas / FASES DA LUA" in Diário de Notícias de 15 de Janeiro de 1925, nº. 21189, p. 5 (margem inferior). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=2574.



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Astronomia

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