Semana astronomica
III
No proximo sabado é Lua Nova, facto banal que se repete mensalmente sem quasi darmos por isso, a não ser pela falta de luar. Mas desta vez oferecerá uma particularidade de especial interesse para nós. A Lua, em vez de passar, como de costume, acima ou abaixo da direcção em que se nos apresenta o Sol, e portanto perdida na intensa radiação solar, neste mês passará exactamente nessa direcção e portanto haverá um eclipse do Sol, fenomeno que evidentemente só no momento de uma Lua Nova pode dar-se.
A sombra enorme do nosso satelite, com mais de 200 quilometros de diametro, projectar-se-á sobre a superficie terrestre, primeiro um pouco a oeste dos gandes lagos canadianos, e seguidamente sobre o Niagara, sobre Nova York e sobre o Atlantico Norte, saindo finalmente do nosso globo no mar entre a Escocia e a Islandia.
Nesta extensa faixa haverá pois um eclipse total, porque o diametro aparente do disco lunar está então bastante maior que o do Sol, visto na vespera a Lua se achar exactamente no perigeu, isto é, na sua maior proximidade á Terra.
Mas ainda haverá eclipse parcial numa area muito mais extensa, abrangendo a metade oriental da America do Norte, as Antilhas, todo o Atlantico Norte e ainda a parte ocidental da Europa e da Africa.
No continente europeu teremos nós a situação mais favorecida, e poderemos observar o fenomeno desde as 2 horas e 52 minutos da tarde, em que começará a ver-se cercado o bordo ocidental do disco solar, aumentando esta aparente destruição até que ás 4 horas e 1 minuto terão ficado encobertos seis decimos do diametro do astro. Daqui por diante tornará a diminuir a porção eclipsada, e finalmente ás 5 horas e 52 minutos o Sol terá retomado a plenitude da sua forma circular perfeita.
A diminuição da luz do dia não chegará a ser notavel, mas talvez só uma mudança de coloração. Nas sombras das arvores é que se verá bem um aspecto insolito. Habitualmente a luz solar, coada pelos intersticios da folhagem, forma no solo pequenos circulos agregados e sobrepostos que não são mais do que imagens do Sol produzidas por cada um desses intersticios, actuando como o orifico de uma camara escura. Mas logo que o eclipse tem progredido um pouco, esses circulos substituem-se por crescentes, reproduzindo invertida a imagem do astro parcialmente eclipsado.
É preciso ter cuidado em não olhar directamente para o Sol, sem atenuar a sua luz com um vidro córado ou fumado, ou por qualquer outro artificio. Sobretudo deve-se evitar o uso de qualquer oculo ou binoculo sem essa precaução indispensavel, pois seria perigosissimo para a vista. A tão afamada casa Zeiss fornece, para os seus binoculos, vidros córados para este fim, em duas graduações de tom, mas são decerto raros aqueles que possuam tal comodiadade.
O interesse astronomico desta semana ainda aqui, porém, não pára. Um outro espectaculo celeste será digno de atenção como instrutivo exemplo bem visivel dos movimentos dos astros. Na madrugada de quarta-feira veremos, pelas 7 horas, o planeta Venus em conjunção com Jupiter, deslizando junto dele a uma distancia apenas igual a um terço do diametro lunar[.] Será interessante sobretudo comparar as posições relativas dos dois astros e de Mercurio, na vespera e no dia seguinte (terça e quinta).
E por aqui nos ficamos hoje.
FREDERICO OOM.
[NOTA - Contém uma ilustração, cuja legenda é: “Posições relativas de Mercurio, Venus e Jupiter, nos dias 20, 21 e 22 de Janeiro de 1925”]