Na serie de maravilhas das sciencias applicadas temos agora a registar a photographia da voz.

Certamente, muita gente não conceberá como se possa photographar a voz e ainda menos qual a utilidade de uma tal photographia.

Já ha tempos o dr. Marcy, de saudosa memoria, apresentara uma serie de notas á Academia de Sciencias de França, obtidas da observação dos apparelhos do seu laboratorio. Era já um grande passo, mas não satisfaziam plenamente, porque os apparelhos ainda imperfeitos, supprimiam algumas vibrações e introduziam outras, falseando muito o resultado.

Veiu agora o dr. Marage com um novo e perfeito apparelho, tornando possivel a perfeita e nitida photographia da voz.

Este apparelho fixa immediatamente as vibrações que a voz imprime a uma tenue pelicula de borracha, transmitte a um pequeno espelho plano que lhe segue todos os movimentos. A fonte de luz é a mesma usada no telegrapho extra rapido apresentado á sociedade de physica em novembro de 1906 e permitte economisar papel, escrevendo como na escripta ordinaria, perpendicularmente ao eixo do papel sensibilisado.

Este papel é arrastado em um movimento continuo por duas laminas paralelas.

Depois de ter recebido a impressão passa successivamente em dois banhos, um revellador e outro fixador e sae prompto, com o retracto inconfundivel da voz, sem retoque possivel.

Todo o apparelho é accionad por um pequeno motor electrico com regulador de modo que o movimento seja bem uniforme.

Quem quizer ver a photographia da sua voz cante deante de um bocal e em breve desenrolará a fita photographica mostrando se o cantor tem compasso, se a voz é boa, se tem uma capacidade vocal sufficiente, se a dicção é perfeita, se tem falhas na voz.

É um apparelho instructivo e cruel. É inutil pretender commovel-o. Desenrola implacavelmente os seus 20 metros dizendo a verdade. O professor de canto ou de dicção não precisa mais, com circumloquios delicados, fazer o alumno comprehender os proprios defeitos, mostra-lh’os na photographia.