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«Revue Philosophique», Janeiro-Fevereiro de 1925, Felix Alcan, Paris. – (…)

Este numero da «Révue philosophique» insere três artigos fundamentais: – «Les phenomènes de convergence en biologie», do sr. Rabaud; «Induction technique et science experimentale», do sr. Basso; «Le raisonnement par récurrence – la necessité et la nouvauté en mathematiques», do sr. Roux. Traz ainda uma apreciação inteligente do 1.º volume do «Traité de Psychologie», de G. Dumas, pelo sr. Déat, e uma impressão do sr. Lalo, sobre varios trabalhos de estética.

O mais interessante, e porque o mais filosofico, é o que trata dos debatidos e controvertidos fenomenos da convergencia em biologia, e por isso sobre ele incidirá a nossa análise. O estudo sobre que o sr. Rabaud se prende é daqueles que têm intima ligação reflexa com os mais graves e serios problemas da Filosofia, e com o problema especial da criação das especies biologicas. Haeckel, o famoso intruso da sciencia, que na Alemanha ninguem toma a sério, mas que lá fóra encontrou algumas duzias de pataratas que o aplaudem e o escutam. Haeckel inventou a celebre monera, que teria sido a origem da vida, ou melhor, a forma primordial da vida. As transformações operadas posteriormente, a diversificação que nós encontramos actualmente seria devida a influencias externas, tais como a selecção proveniente da luta pela vida, a influencia do meio, etc.

O sr. Étienne Rabaud, que no seu livro «Le transformisme et l’experience», se afirma nitidamente transformista e cria, um pouco á maneira de Le Dantec, a formula – «Complexo organismo x meio» para definir a vida, o que não leva a conclusões muito contrarias á nossa, pois tambem Lamarck foi transformista, sem que por esse facto invalidasse o criacionismo, o sr. Étienne Rabaud mantém-se fiel á sua primeira concepção, neste seu estudo sobre os fenómenos de convergencia em biologia? Não me parece.

A morfologia, diz ele, não traduz nem o funcionamento, nem os costumes, nem o habitat. Que significam as semelhanças tão acentuadas que levam a aproximar organismos originariamente distintos e fundamentalmente afastados uns dos outros? Significam apenas coincidencias. Repare bem o leitor nas expressões do sr. Rabaud: ele fala-nos em organismos originariamente distintos e fundamentalmente afastados uns dos outros. Logo, em vez do monogenismo monista, o polygenismo biblico? Ele não chega a tanto, mas se nos dão as premissas, porque hesitam diante das conclusões? Muitas vezes, escreve ele ainda, a convergencia aparente dissimula divergencias profundas, o que só os superficiais, como o sr. Bergson não vêem. Folgamos com esta citação do sr. Bergson, que adquiriu, não sabemos porquê, um fama de filosofo que só quem o não leu e meditou lhe pode atribuir. O sr. Bergson é um literato, e a sua filosofia é pura literatura.

Reconhece o sr. Étienne Rabaud que a interpretação de Cuvier (que como o leitor deve saber, formulou a lei celebre da correlação das formas) a quem mais de um sabio chamou o Aristoteles moderno, reconhece o sr. Rabaud que a interpretação de Cuvier que atribui ás diversas partes do organismo um encadiamento [sic] morfologico que visa um fim (lei da subordinação dos orgãos) tende a renascer das suas cinzas. É certo que o sr. Rabaud entende que a interpretação de Cuvier e a interpretação transformista não diferem essencialmente. Sim? Tambem o transformismo lamarckiano não era essencialmente diferente do criacionismo.

Que conlui o sr. Rabaud da análise anatomica a que se entregou? Que o metabolismo de cada uma das partes dum organismo depende essencialmente do metabolismo de todas as outras, de modo que a maneira de que as partes se formam, o seu desenvolvimento e todas as suas propriedades resultam das correlações fisiologicas que, desde o principio, estabelecem a unidade do organismpo. O estudo das formas não se basta a si proprio, a não se ficar descritiva, e então esteril e sem alcance. Logo, a significação das formas e o conhecimento do organismo só o estudo conjugado do funcionamento e da ethologia os podem dar.

E, agora, concluimos nós que a irredutibilidade das formas ou das variantes, embora disfarçadas sob a convergencia evidente, conduz-nos ao abandono do transformismo monista.

(…).


Referência bibliográfica

[n.d.] - "CULTURA ESTRANGEIRA CULTURA PORTUGUESA" in Diário de Notícias de 23 de Janeiro de 1925, nº. 21197, p. 5 (c. 1-4). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=2605.



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