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Texto da entrada (ID.2655)

Deve ter embarcado hoje a bordo do Funchal com destino á ilha Terceira, o grupo de technicos que o governo contractou para irem áquella ilha em serviço da epidemia ali existente. Deverão chegar portanto no dia 8 a S. Miguel, em transito para a referida ilha Terceira, os dois medicos e os 8 enfermeiros encarregados d’essa missão.

A escolha dos medicos recahiu em dois homens reconhecidamente auctosisados [sic] em medicina pestilancial, visto que um é um facultativo pratico no tratamento da peste, que esteve e tem estado no Porto, e outro é um distinctissimo bacteriologista que tem realisado estudos especiaes d’esta mesma epidemia, desde a manifestação d’ella n’aquella cidade.

Quando nada mais podessemos conseguir, julgamos que conviria ao menos, aproveitar a opportunidade da passagem d’este pessoal escolhido na therapeutica e na technica da peste, por S. Miguel, e convidar o director da missão a realisar uma prelecção sob este duplo ponto de vista, perante todo o nosso funccionalismo de saude e o publico que quizesse escutar as instrucções d’essa prelecção.

É este um dos alvitres que aqui entemos dever trazer, em relação com a opportunidade que se nos depara.

Mas quando este possa induzir incommodos sensiveis, pelo transito ser rapido e o convite ser imprevisto – é então para um outro alvitre, e indeclinavelmente para este, embora mesmo aquelle possa realisar-se, que desejamos attrahir as attenções locaes.

Quando se manifestou a peste no Porto, de varios pontos do continente affluiram medicos á circumscripção da epidemia, a realisarem estudos praticos na therapeuthica e na technica d’ella. Só dos Açores não foi um medico, excepção feita ao sr. dr. Lino, d’Angra, que a Junta d’aquelle districto, já um pouco tarde, commissionou para ir lá fóra em serviços de saude.

Pelas nossas corporações, Camara e Junta geral, foi então, é certo, acceite o alvitre e resolvido convidar o sr. dr. Ricardo Jorge, que dirigira os serviços da epidemia portuense, contractando s. exª a vir a esta ilha realisar varias prelecções de instrucção especial sobre essa epidemia, perante o nosso funccionalismo de saude e o publico.

Nada d’isso porêm, foi afinal levado a effeito. E comtudo se é certo que deveremos augmentar sempre o numero das nossas garantias em questões sanitarias, porque na razão inversa do crescente numero d’ellas está o natural decrescimento de receios e a maior defeza de todos os nossos interesses de vida e de fazenda, ter-se-ia já prestadp um excellente serviço de previdencia a este districto, convidando mesmo que fosse preciso um medico estrangeiro que tivesse ido á India realisar estudos directos d’essa epidemia, para vir, entre nós, como se vê acontecer em relação a serviços industriaes d’esta terra, que contractam profissionaes, habilitar pessoal com conhecimentos praticos.

Nada se fez, porém, nem mesmo agora temos ouvido ou sabido que algum dos nossos medicos se resolvesse a ir á ilha Terceira em missão de estudo. A verdade entretanto, é que a sciencia que representam, impõe-lhes responsabilidades; e que as corporações publicas são obrigadas a tornar essas responsabilidades viaveis, pelo custeio que ellas exigem.

Posta a questão n’este pé, e sendo particularmente um facto que dentro do archipelago, em uma das ilhas, podem ser realisados estudos fecundos e que uma missão scientifica augmenta hoje o interesse e o proveito d’esses estudos, dando-lhes a maxima importancia, não poderá ser nos recusado o mais absoluto cabimento ao segundo alvitre que vimos expôr. E é elle:

Que um medico, um enfermeiro e um funccionario do posto de desinfecção, acompanhem aquelles commissionados de saude à ilha Terceira, ou vão lá reunir-se-lhes, sem perda de tempo, para que possam ser obtidos os mais completos resultados.

As theorias são excellentes no cerebro de quem as possue, mas está provado que a pratica vale alguma coisa. Vale muitissimo, valorisando aquellas.

A exemplificar, com factos intimos do nosso perfeito conhecimento, poderiamos citar o que se passou e o que se passa hoje com as nossas febres typhoides; a lethalidade que já tiveram e a pouca morthalidade que teem hoje. Entre os recursos materiaes que possuimos e de que possámos vir a dotar-nos contra epidemias, que hoje mais do que nunca offerecem perigos geraes de invasão – está certamente o tirocinio, o exercicio, o savoir faire, permittam-nos esta expressão que os francezes têm para significar a precisão rigorosa e perfeita, a precisão technica de effectuar um serviço.


Referência bibliográfica

[n.d.] - "A missão scientifica á ilha Terceira - A sua passagem por S. Miguel no proximo dia 8 – Dois alvitres nossos" in Diário dos Açores de 5 de Novembro de 1908, nº. 5224, p. 2 (col. 2-3). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=2655.



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