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Texto da entrada (ID.2688)

Ás aproximações da quadra invernosa temos quasi todos o costume de nos subtrahir instictivamente, mais por uma especie de pusilanimidade, do que por ser necessario, á acção do ar exterior, pretendendo evitar o frio e creamos ás vezes, sem dar por isso, dentro de nossas casas uma atmosphera irrespiravel, deleteria.

Nos climas frios acresce a acção dos esquentadores, desde a modesta brazeira, desde o lar onde ardem os toros, até aos modernos fogões de varios systemas, viciando o ar pela sua imperfeita combustão. Calafeta-se a casa e acende-se um bom lume, pelo menos uma das cousas, isto é, diminui-se a ventilação, até a tornar imperceptivel e multiplicam-se os fócos de viciação do ambiente.

Pouca gente se lembra de que a composição do ar se vae por esta maneira alterando até se apresentar em manifestas condições de insalubridade, de que padece um grande numero de pessoas, sãs e doentes, robustas ou debilitadas.

A este repeito são dignos de atenção os estudos desde algum tempo dirigidos neste sentido pelo dr. Henriet, hoje publicados em excellentes revistas.

Todos conhecem que a atmosphera tem uma constituição normal a respeito da quantidade e natureza dos elementos e das suas proporções.

Não se trata só de oxygenio, azote e gaz carbonico, mas devem considerar-se outros elementos indispensaveis para a boa constituição de uma atmosphera e cuja presença ou ausencia decide da acção benefica ou nociva della.

O grau de humidade, a temperatura, a existencia ou não do composto chamado ozone, bem como de um certo poder radioactivo que agora se começa a avaliar, são outros tantos factores de maior ou menor salubridade do ar.

O empobrecimento de uma atmosphera e o seu poder deleterio não depende sómente da escassez do oxygenio e do aumento de anhydrido carbonico, mas particularmente da inquinação por substancias estranhas, poeiras, fumos, microrganismos, gases prejudiciaes.

Póde a composição do ar confinado estar approximadamente normal, quanto às proporções sabidas dos seus gases, póde o anhydrido carbonico não exceder 410000 comtudo o mal estar produzido por uma atmosphera viciada é sobremaneira sensivel, provocando opressão, dores de cabeça, nauseas, vertigens, devido ao que muitas pessoas se sentem incommodadas em reuniões, egrejas, bailes, theatros e pelo mesmo motivo na população das escolas se notam muitas vezes as cephaléas e outras perturbações, que prejudicam a atenção e indispõem o alumno.

Os chimicos analysando o ar viciado encontraram substancias toxicas que o envenenam e cuja inhalação, porque se trata de productos aereos, produz os symptomas alludidos.

O sr. Henriet demonstrou ha pouco que o vapor de agua expirado e condensado em seguida contém bases amoniacaes e mais d’um acido reductor, havendo uma parte volatil e uma parte fixa de taes corpos. O grau de poluição do ar aumenta com a temperatura, havendo um limite, excedido o qual a atmosphera poluida começa a produzir os seus effeitos toxicos. A temperatura critica do ar confinado é proxima de 25ºC., sendo esta variavel com as condições de movimento das pessoas que a sofrem.

Quando uma aglomeração humana se condensa numa sala em que a ventilação se acha embaraçada e a temperatura sobe, é commum observar nas superficies polidas, taes como vidraças e espelhos, as goticulas de vapor de agua devido á respiração principalmente. As superficies lisas são facilmente desembaraçadas da humidade contendo as substancias incriminadas, mas as paredes, as tapeçarias, o vestuario, só pela evaporação perdem lentamente essa humidade, razão porque certos logares, oficinas, escolas, enfermarias, salas de espectaculos, se nota um cheiro especial, apesar de renovado o ar. Para o desaparecimento completo desse cheiro, tanto do facto como dos demais objectos, é necessaria uma evaporação forçada pelo aquecimento ou pela aspiração e está nesta circunstancia com certeza uma das excelencias da limpeza pelo vacuo.

Em geral a ventilação, tanto das casas de habitação, como dos recintos fechados, em que uma multidão mais ou menos compacta reune, é imperfeita, o que provém geralmente da má construcção dos edificios, sendo raros aquelles, publicos ou particulares, em que a renovação do ar se faça sofrivelmente. É precido atender, entre outras circumstancias, a que não basta uma abertura de entrada do ar, para haver ventilação e que esta não se obtem sem que haja deslocação do elemento, expulsando o ar viciado e introduzindo o novo ou purificado.

 


Referência bibliográfica

J. Bettencourt Ferreira - "Pela sciencia - Estudos sobre o ar confinado – Atmosphera violada – Deficiencia de ventilação das habitações, quartos, salas communs, de espectaculos, escolas, etc. – O ar da cidade e o ar dos campos – Ozone atmosferico" in Diário dos Açores de 1 de Dezembro de 1908, nº. 5246, p. 1 (col. 1-2). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=2688.



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