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Texto da entrada (ID.2699)

Muito se tem fallado da machina de voar de Wilbur Wright, mas raros ainda, suppômos, levam a sua descripção completa. Damol-a a seguir:

O apparelho apresenta duas superficies sustentadoras sobrepostas, de tela, com uma pequena concavidade de deante para traz, distanciadas verticalmente 1m,80 por montantes ou hastes articuladas e verticaes de madeira. Estas superficies sustentadoras, orgãos essenciaes do aeroplano, tem 12,50 de envergadura e 2 metros de comprimento do bordo anterior ao bordo posterior.

Á frente e a 3 metros de distancia d’estes dois planos sustentadores, ha dois ostros para elles, mais pequenos, sobrepostos, moveis em torno d’um eixo vertical, os quaes servem de leme de profundeza. Posteriormente e a 2m,50 das superficies planas de téla, collocadas verticalmente uma ao lado da outra e moveis conjuntamente em tôrno de um eixo vertical. Contrariamente aos aeroplanos francezes, o aeroplano Wright não tem cauda estabilisadora.

O motor está situado entre as duas superficies sustentadoras, sobre a superficie inferior e um pouco à direita do plano de symetria do apparelho. É um motor de 25 cavallos e 4 cylindros, com o peso total de noventa kilogrammas. Foi inteiramente imaginado e construido pelo Wright. Á esquerda do motor estão dois leves assentos para o aviador e um passageiro. O motor põe em movimento duas helices, siuadas atraz das superficies sustentadoras.

Estas helices, de 2,50m de diametro, são de madeira. Um desmultiplicador de 33 por 9, fal-as girar com a velocidade de 450 voltas por minuto. N’este ponto ha uma differença essencial entre o aeroplano de Wright e os modelos francezes, pois que, n’estes, os propulsores de diametro e passo inferiores, giram com velocidade egual á do motor, isto é, de 1:100 a 1:200 voltas.

Como se dirige o aeroplano

A direcção, em profundeza a no plano horisontal, é obtida pela manobra do leme horisontal da frente e do leme vertical de traz, e ainda pela inclinação das superficies da sua região posterior. No emtanto, esta inclinação serve principalmente para manter o apparelho em equilibrio.

A inclinação dada à metade de uma das superficies sustentadas determina na outra metade uma inclinação egual mas de sentido inverso. Esta flexibilidade e esta deformabilidade das azas ou superficies sustentadoras é talvez a caracteristica mais importante dos aeroplanos Wright e é obtida por meio de cabos de aço que, correndo sobre roldanas, vão prender-se a uma alavanca presa a um aviador. Por isso este deve ser bastante habil e muito pratico para poder inclinar o apparelho no sentido e só na medida necessaria ao restabelecimento do equilibrio. A torsão das azas não affecta o bordo de ataques das mesmas.

O apparelho repousa sobre dois compridos partins de madeira que apenas lhe dão mais quarenta centimetros de altura. Esta é outra differença entre o aeroplano Wright e os modelos francezes, pois que estes téem rodas sustentadoras sobre as quaes correm antes de attingirem a velocidade exigida para o vôo.

Todo o aeroplano Wright pesa, pilotado por um aviador, 450 kilogrammas.

O lançamento do apparelho na atmosphera exige o emprego de um material que não faz parte da machina voadora.

A sua superioridade sobre os aeroplanos francezes

Se faz vento, o aviador assenta na terra um carril de madeira de vinte metros de comprimento e colloca o aeroplano sobre um leve carrinho independente, disposto de modo que o carril fique encaixado n’uma gargasta aberta interiormente na parte mediana do carrinho. Postos os helices em movimento, uma móla especial conserva-o todo immovel. Então o piloto annulla a acção da móla, e o aeroplano com o carrinho sobre o qual repousa, avança sobre o carril aceletando-se a sua velocidade. Uma cunha assente sobre o carril detem o carrinho e o aeroplano continua a sua marcha na atmosphera em virtude da velocidade adquirida, ajudado só, se fôr necessario, por uma opportuna manobra do leme anterior.

Se o vento é nullo, o aeroplano é posto rapidamente na velocidade exigida para o vôo pela queda dos discos de bronze de 700 kilogrammas, abandonados do alto d’um pilar especial de 6 metros de altura. Os pesos estão presos a um cabo que, por meio de roldanas e pela passagem por baixo do carrinho, arrasta para a frente o aeroplano sobre o carril, com uma velocidade acelereada. Esta junta á impulsão das helices, é sufficiente para lançar o aeroplano no atmosphera como precedentemente. Tal é o apparelho que presentemente attrae sobre si a attenção mundial.

Como o tem mostrado as experiencias dos ultimos dias, os aeroplanos Wright sao attigem as phantasticas velocidades que sempre se julgou que deveriam possuir as machinas voadoras. Quarenta, sessenta e noventa kilometros, mas só por momentos são velocidades já muito respeitaveis, mas muito inferiores ao que ambicionavam os desejos da locomoção aeria. Esta relativamente fraca velocidade deriva de os Wright utilisarem helices de grande diametro, as quaes são mais vagarosas do que as de pequeno diametro. A desvantagem, que d’aqui parece resultar, é compensada pelo emprego de uma fraca potencia motriz, muito menor do que a utilisada pelos aeroplanos francezes.

p. 2 Como é bem sabido, suppoz-se sempre que, para avançar na atmosphera, em machinas mais pesadas do que o ar, era preciso possuir um motor levissimo que no menor peso possivel armazenasse uma grande energia. Puro engano. Os factos agora demonstram que é preciso realmente esse motor levissimo para attingir grandes velocidades, mas não para viajar nos ares com as modestas velocidades de 50 ou 60 kilometros por hora. Por isso, quando, em 1903, os Wright annunciaram os seus primeiros vôos e affirmaram que esses vôos se podiam obter com motores de ha vinte annos, houve quem se risse do seu charlatanismo. Sempre o brutal dogmatismo das ideias preconcebidas a pretender travar a marcha do progresso! Mas elles, os escarnecidos e modestos constructores de Dayton, triumpharam por fim, obrigando os seus detractores a render-lhes retumbante homenagem.


Referência bibliográfica

[n.d.] - "O homem passaro - O aeroplano de Wright" in Diário dos Açores de 12 de Dezembro de 1908, nº. 5255, p. 1-2 (col. 5-6; 1). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=2699.



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