Demos em tempo noticia sucinta de transformações d’esta natureza executadas á custa das cataractas do Niagara referimo-nos agora às installações de grande ponto, que em respeito pelos principios e descobertas que rememorámos, teem sido fundadas em varios pontos da Europa.
Trata-se principalmente da transmutação de força proveniente de correntes d’agua impetuosas, as quaes applicadas á geração de electricidade constituem poderosos centros de energia hydro-electrica, a qual é fornecida economicamente a largos districtos industriaes. É este um progresso sem duvida destinado a uma grande influencia economica e social. D’esta formidavel proveniencia dynamica, já consagrada sob as denominações pitorescas e sugestivas de hulha branca e hulha verde, advem um imprevisto desenvolvimento da riqueza de sitios que, pela sua braveza e isolamento, se poderiam considerar inhospitos e desaproveitaveis.
E estes factos de grande alcance deram origem á agregação de sociedades industriaes, que actualmente exploram, sob a protecção de leis e regulamentos especiaes, essa immensa riqueza natural, que vem desvanecer os receios, por emquanto vagos, da falta de combustivel, para a manutenção do movimento, que é a vida de todas as industrias.
Em vista dos progressos realisados pela hydraulica e no emprego das correntes de elevada tensão, a Sociedade do Littoral Mediterraneo dotou a bella região da Provença de uma rede transmissora, que é considerada por completo a melhor da França.
Trazendo a seu favor as torrentes que serpenteiam por esse canto privilegiado, aquella Sociedade estabeleceu um grande numero de fabricas hydro-electricas, que enviam peloos arredores essa energia, sob a fórma de luz e de força motriz, as quaes vão animar varios centros fabris. A fabrica principal (La Brillane) tira a sua força das aguas do Durance, afluente do Rhodano e manda-a transmutada em corrente electrica a Arles e a Marselha, a cerca de 80 kilometros de distancia. Produz uma potencia total de 10.500 kilowatts sob uma tensão de 50000 volts, na fórma de corrente triphasada, a qual é á entrada das cidades transformada por sua vez, a fim de poder servir para illuminação, para as industrias e para os transportes, na tensão utilizavel de 120 volts e de 500 para estes ultimos.
As machinas de vapor instaladas em diversos pontos da região, restauradas e melhoradas, foram collocadas na reserva, para o caso previsto de paragem ou de acidente nas officinas hydraulicas. A corrente que esta fabrica produz satisfaz o consumo de 200 comunas circumvizinhas.
O aproveitamento de similhante força é feito com proporcional magnitude na fabrica de Notodden, na Noruega, por uma sociedade franceza que industria a extracção do azote, para obter productos nitrados para a agricultura.
Essas officinas dependem para a sua interessante laboração de uma rapida corrente de Svaelgfos, dispondo da força de 34000 cavallos vapor. A mesma empreza tem em construcção outro estabelecimento em que reserve das quédas admiraveis de Rjukan, de 556m de desnivelamento, de uma despeza minima de 45 metros cubicos por segundo e cuja potencia alcançada será de 250000 cavallos. A fabrica de Rjukan será a mais poderosa e conhecida, deixando muito aquem a de Brillanne e as de Buffalo (Niagara), de uma potencia modesta em confronto com aquella.
A primeira das duas produz uma força de 14.000 cavallos e a segunda consome uns 30.000, emquanto a totalidade alcançada até certa data pela Companhia Niagara Falls era de 45000 cavallos.
São incalculaveis os beneficios que adveem d’este evidente progresso [...] em virtude do qual [...] de forças naturaes inexploradas em grande parte resolverá em muitas regiões o problema economico e financeiro, aumentando-lhes as riquezas ocultas por uma ousada transfiguração industrial, com o consequente beneficio do levantamento social das populações, muitas das quaes em cantões sertanejos se conservam ainda hoje n’um estado rustico demasiado profundo.
J. Bettencourt Ferreira - "Pela sciencia - A transmissão da força a distancia – Criação de centros de producção de energia para distribuição ás fabricas – A importancia das descobertas no dominio da electricidade – O aproveitamento das quédas d’agua e torrentes como força motriz – Fabricas hydroelectricas"
in Diário dos Açores
de 18 de Dezembro de 1908, nº. 5260, p. 1 (col. 5-6). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=2706.
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