Coisas e Loisas
OS FOSFOROS
De tal modo Mestre Pedro os tratava e lhes satisfazia a curiosidade, que os dois pequenos estavam quasi sempre metidos em casa dele. Os pais e os avós já começavam a sentir uma pontinha de ciume, por verem que ambos só se encontravam bem com o velho professor.
Uma destas tardes os dois para lá foram e conservaram-se até á ceia. Quando anoiteceu, Mestre Pedro, ao acender o candeeiro, achou vir a proposito falar-lhes dos fosforos.
- Nem vocês, meus rapazes, avaliam os enormes serviços que os fosforos nos prestam: sem eles, só á custa de grande esforço poderiamos ter luz. E esta vantagem é apenas de ha meia duzia de anos, a bem dizer.
- Então os fosforos não são muito antigos? interrompeu o Chico.
- Não. É bom saber que o nome que vulgarmente se dá a estas acendalhas é muitas vezes errado, improprio, porque nem todos contêm massa de fosforo. Antigamente os palitos, como lhe chamavam, eram feitos de uns pequenos pedaços de madeira sêca, embebidos em enxofre fundido, e para que ancendessem era preciso chegá-los ao lume, a uma braza, por exemplo.
- Mas assim de pouco servism, atalhou a Aninhas.
- Sim. Mas procuraram depois fabricá-los de modo a serem mais proveitosos. Ha pouco mais de cem anos é que apareceram os primeiros palitos que acendiam sem o auxilio de lume, que eram feitos de uma mistura de clorato de possata, enxofre, licopodio e agua de goma.
- Esses então, para acenderem, bastava esfregá-los na parede, não é assim, sr. Pedro? acrescentou o Chico.
- Ainda não. Para acender estes era preciso introduzi-los em acido sulfurico. Depois então é que se inventaram os palitos, pouco mais ou menos como os actuais, que se chamavam de «fricção», porque nada mais era preciso do que esfregá-los em qualquer parte aspera, para arderem rapidamente. A massa era composta tambem de clorato de potassa e levava enxofre de antimonio.
- Que nomes tão esquisitos! objectou aAninhas.
- Para ti, que não os conheces. Só aí por meados do seculo passado é que apareceram, finalmente, os palitos formados com um certo preparado a que se juntou a massa de fosforo, extraída dos ossos, e que é muito venenosa. Por ultimo, inventou-se o «fosforo amorfo», menos perigoso, de que nos servimos agora, e no qual entram o clorato de potassa, enxofre de antimonio e cola forte.
- E como se fabrica? interrogou o Chico.
- O fabrico é facil, mas não tão facil de descrever. Espera lá, aqui tens um livro onde vem descrito o fabrico. Como vês, ha umas maquinas apropriadas (Fig. 1) para cortarem a madeira no comprimento necessario e uma plaina enorme, cujo ferro tem uns dentes da largura do palito que os vai dividindo rapidamente. Outra maquina (Fig. 2) aplica na extremidade deles a composição de que vos falei, ficando assim prontos a servir-nos.
[NOTA - Este artigo insere-se na secção infantil do DN, intitulada 'Noticias Miudinho'; contém duas ilustrações]
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