Semana astronomica
Eclípses [sic] da Lua
No domingo, haverá um quasi total
Subscrita por um dos nomes mais famosos do nosso meio intelectual, surgiu na imprensa diaria mais uma cronica semanal astronomica, indicio feliz de um maior interesse geral pelas coisas do céu. Saudando a auspiciosa estreia, congratulamo-nos por ver que a iniciativa do «Diario de Noticias» tão prontamente assim conseguisse frutificar em nova e decerto opulenta colheita, para proveito e satisfação de quantos se interessam pela mais bela das sciencias de observação, segundo a frase do grande Laplace.
Estamos em maré de eclipses. No domingo, dia de Lua cheia – como é condição indispensavel – haverá um eclipse da Lua, quasi total, pois ficará apenas livre um quarto proximamente do diametro lunar. Neste caso, como todos sabem, é a sombra da Terra que se projecta sobre o disco do nosso satelite, e visto que a luz dêste só provém da sua iluminação pelo Sol, é evidente que essa luz desaparecerá em parte. Mas como a atmosfera que circunda o nosso globo deixa passar, encurvando-os, os raios solares mais avermelhados, ficará ainda bastante visivel a parte eclipsada da Lua, e com essa mesma coloração, mais ou menos intensa conforme as circunstacias da ocasião. Por contraste, haverá um tom azulado na parte que veremos ainda iluminada.
Ás 18 h. 48 m. é o momento em que teoricamente a Lua começa a receber menos luz; mas só ás 20 h. 9 m. ela será atingida pelo escurecimento maximo, ou sombra pura, um pouco á direita do seu ponto mais baixo. Sete decimos do diametro lunar estarão obscurecidos ás 21 h. 42 m., e desde então passará a aumentar a parte iluminada, até que ás 23 h. 15 m. o bordo superior da Lua sairá da sombra, e á meia noite e 35 minutos terá retomado inteiramente a sua plenitude.
Na quarta-feira estará a Lua á sua maior distancia da Terra, vindo a aproximar-se depois.
Mercurio e Venus continuam a precipitar-se no encalço do Sol, em cuja ardente fornalha virão brevemente a sumir-se, como falenas atordoadas, atraídas pela luz. Mas tal como a lendaria Fenix simbolica, não tardarão depois a renascer como estrelas da tarde. Até aqui tinha Venis a vantagem, alcançando o seu competidor em 16 de janeiro, dia em que estiveram em conjunção, e tomando a dianteira até hoje. Amanhã, porém, já Mercurio terá recuperado o perdido, visto hoje haver novamente uma conjunção dos dois astros, e definitivamente ganhará a palma, atingindo o Sol daqui a um mês, ao passo que Venus só lá chegará em fins de abril. Actualmente já mal se vêem, nascendo apenas hora e meia antes do sol.
Jupiter é que está assumindo com brilho o seu papel temporario de estrela da manhã. Saturno em Libra, visivel depois da meia noite, e Marte em Aries, oferecem por agora interesse secundario.
As constelações apresentam agora um dos sus mais ricos aspectos.
Frederico Oom.