Cronicas medicas
O tabaco e o cerebro
Dois franceses, o sr. Mathieu e Merklen, quiseram tirar a limpo a questão da influencia do fumo do tabaco sobre a memória, e para esse fim procuraram nos ratos brancos os seus animais de experiencia. Os ratos brancos estão fazendo larga concorrencia ás rãs, cobaias e coelhos em trabalhos experimentais; e a escolha deles, no caso presente, foi bem justificada pelos resultados colhidos.
Os srs. Mathieu e Merklen puseram os seus ratinhos no habito de percorrer um labirinto complicado, ou para encontrarem os alimentos, ou para se recolherem aos compartimentos que eram suas moradas. Por engenhosos processos, era marcado graficamente o tempo e o percurso. Uma pista de 1m, 24 era assim percorrida em dôze a vinte segundos pelos ratinhos habituados.
Procedia-se então á intoxicação do animal, colocando-o sob uma campanula que comunicava por uma tubuladora com o ar exterior e por outra com um espaço onde ardia um cigarro. Procurou-se, por esta forma, realizar condições aproximadas das que existem para qualquer fumador que só seja intoxicado pelo fumo e não pelo macerado de tabaco com que se envenenam os fumadores de charutos.
Viu-se então que os ratos mantidos sob a campanula, durante 10 a 15 minutos, por uma só vez, não apresentam qualquer perturbação imediata. Mas, horas depois dessa simples e curta intoxicação, os animais mostram hesitações, cometem erros de percurso e levam o dôbro ou mais do dôbro do tempo em percorrê-lo.
Disto concluiram os experimentadores que os animais intoxicados pelo fumo do tabaco, embora o envenenamento tivesse efemera duração, apresentavam perturbações da memoria. Era a confirmação experimental da asserção tantas vezes feita pelos clinicos relativamente á especie humana.
Quanto a nós, fumadores, ha, porém, ainda que distinguir a gravidade da intoxicação conforme o processo por que ela se realiza. Os charutos, particularmente os que se fumam sem boquilha, constituem o processo de fumar mais nocivo, porque á intoxicação pelo fumo se junta a intoxicação põe absorpção de principios soluveis na saliva. Straub pôde encontrar nicotina na urina, durante oito horas seguidas, por ter fumado um só charuto. Mas os cigarros são tambem origem de intoxicações.
Encontra-se, no fumo do tabaco, além da nicotina, outros principios toxicos e produtos de combustão, entre estes o oxido de carbono, que é fortemente toxico. Algumas destas substancias são venenos dos centros nervosos superiores; mas a principal de entre elas em relação a nocividade é a nicotina. A respeito da sua existencia no fumo do tabaco e da sua absorpção pelas vias respiratorias, ha tambem experiencias, realizadas por Hinz, que merecem ser citadas.
Verificou Hinz que um cigarro onde houvesse 25 centigramas de nicotina fornecia fumo onde existiam 4 centigramas do mesmo alcaloide. Destes eram absorvidos 35 miligramas pelas vias respiratorias quando se aspirava o fumo, e apenas 7 miligramas quando este era expulso sem chegar á traqueia. Em qualquer dos casos a intoxicação é possivel.
Vê-se, pois, que o mais higienico será não fumar. Mas vão sendo já tantas as proscrições que os medicos nos aconselham, que um homem de boa saude, com a confiança que ela lhe traz, dificilmente se sujeitará a viver numa vida de regras tão apertadas. Por isso, quem não sinta rebates de doença e não queira deixar um habito que se lhe tornou agradavel, ao menos fume pouco, fume cigarros e expulse o fumo logo que lhe sinta o sabor para lhe não dar maior superfície de absorpção.
F. MIRA.
(…).
[NOTA - Segue-se uma pequena série de respostas a leitores]