CRONICAS MEDICAS
Uma antiga questão
Ninguem tem duvidas sobre a poderosa acção da quinina na cura das sezões ou febres palustres. Já o mesmo não sucede com a eficacia da mesma substancia empregada preventivamente, ora apregoada como certa, ora qualificada de nula.
Os ensinamentos tirados da ultima guerra não são de molde a manter os creditos da quinina como preventivo. As experiencias realizadas pelos ingleses em Salonica, na Mesopotamia e na Palestina fôram-lhe nitidamente desfavoraveis, a ponto de se dizer que foi tão grande o numero de casos de malaria, que dificilmente poderia ter sido mais elevado sem o uso da quinina como profilactico. Por isso os ingleses cessaram essa pratica. Quanto aos franceses, usam-na ainda mas com pouca fé, em vista dos maus resultados que igualmente obtiveram na campanha do Oriente. Já precedentemente tinham verificado, em Madagascar, que 80 por 100 dos homens que compunham um batalhão de gente europeia tinham sofrido de febres palustres, apesar de ser a todos administrada a quinina, na dose preventiva de 25 centigramas por dia.
Não esqueçamos que um italiano, Grassi, tinha proposto um outro metodo de emprego da quinina como agente profilactico geral. Pensou ele que, sendo o mosquito o transmissor da malaria ao homem, e sendo, reciprocamente, no homem que ele se infecta, a morte do parasita no corpo humano, em tempo proprio, faria com que o mosquito não tivesse onde infectar-se. Assim se aconselhou uma quinização geral dos individuos que habitavam regiões sezonaticas, aí pelos fins do inverno, para que os mosquitos que fossem nascendo das larvas não encontrassem hematozoarios no sangue que sugassem.
Notaram, porém, os adversarios da quinina, que o processo de Grassi, já empregado nalgumas regiões durante 10 a 15 anos seguidos, não tinha conseguido, ou por falhas de aplicação ou fosse por que fosse, libertar essas regiões da malaria.
Com o descredito da acção profilactica da quinina, veio a necessidade de passar em revista os outros processos de profilaxia da malaria. Ha, claro é, as grades de malha apertada em portas e janelas e os mosquiteiros, meios de protecção individual de emprego incomodo que exige uma atenção constante.
Como meios de profilaxia geral, ha, contudo, importantes recursos: As larvas dos mosquitos infectantes vivem nas aguas tranquilas e de lenta corrente: nos tanques, poços e cisternas, nos pégos, nas presas de azenhas, nos arrozais, nos canais de irrigação. Ha, pois, que terminar com esses depositos de agua, ou torná-los improprios para a vida das larvas de mosquitos, ou proceder á destruição das larvas que neles se vão criando.
Os trabalhos de rectificação das correntes de agua, regularizando-lhes o leito e as margens, impedem a formação de pegos quando baixa o nivel das aguas por cessação da estação das chuvas. Muitos terrenos alagadiços podem ser drenados, e submetidos a cultura; e ha plantas particularmente avidas de agua, proprias para a povoação desses terrenos.
Quando os depositos de agua são necessarios ou se tornam excessivamente caros os trabalhos para a sua extinção, deve recorrer-se á sua povoação por peixes de certas especies que são avidos de larvas de mosquitos. Faz-se então piscicultura, em ponto pequeno ou em ponto grande, conforme a importancia do deposito de agua, a não ser que esta seja demasiadamente suja para que os peixes possam lá viver. Se o é, só resta o recurso de cobri-la com uma delgada camada de petroleo, trabalho que se deve repetir-se de 15 em 15 dias.
Está demonstrado que alguns animais domesticos, particularmente os coelhos e os porcos têm a honra de ser preferidos aos proprios homens, para lhes sugar o sangue, pelos mosquitos transmissores de sezões. Convém tambem não o esquecer. Assim, os nossos camponeses a quem as sezões visitam todas as primaveras não têm desculpa se não recorrerem a estes simples meios profilácticos. Empregando-os, diminuem as probabilidades de se infectarem e aumentam os seus recursos de carne e peixe, o que não é pequena vantagem nestes tempos de vida cara.
F. MIRA.
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[NOTA - segue-se uma pequena série de respostas a leitores]