Pensamentos, Palavras e Obras
O TELEGRAFO
Não vai longe ainda o tempo em que, para transmitirmos os nossos pensamentos a grandes distancias, seriam necessarios esforços e canceiras [sic] inauditas.
O recurso do correio nem sempre satisfazia necessidades urgentes, o que fez com que se inventassem meios rapidos de comunicação, que vieram a chamar-se: os telegrafos.
Sendo certo que na antiguidade se tentou a comunicação rapida, por sistemas variados, verdadeiro é tambem o insucesso de tais ensaios.
Os chineses, muito antes da era cristã, tinham já empregado fachos luminosos em diversos pontos da Grande Muralha, para enviarem sinais a distancias relativamente grandes, e tal resultado desse processo se podia conseguir, que, igualmente por meio dos sinais igneos, os cartagineses conseguiram estabelecer comunicação entre a Africa e a Sicilia, por intermedio da ilha da Pantelaria[.]
Além dos sinais de fogo em uso nessas épocas afastadas, empregaram-se tambem os simples gritos, lançados de distancia em distancia, para serem repetidos sucessivamente, até alcançarem o ponto determinado. Estes serviços eram de tal maneira bem organizados que a tomada de Orleans foi, por este meio, conhecida, segundo se diz, em Auvergne (a 40 leguas de distancia) em menos de doze horas.
Os sabios do seculo XVI e XVII procuraram, em vão, organizar um sistema telegrafico baseado nos progressos das sciencias fisicas. Todavia, Guilherme Amontons pensou em colocar, de longe em longe, homens munidos de telescopio para observar sinais feitos em postos afastados; mas a tentativa fracassou. Só em 1774, Lesage consegue construir em Genova o primeiro telegrafo electrico, mas não pensem os pequenos leitores que esse aparelho tinha a mesma disposição daqueles que, actualmente, tão grandes serviços nos prestam. Nesse tempo, o sistema compunha-se, além dos aparelhos de transmissão e de recepção, nada menos de 24 fios condutores, ligados respectivamente a cada uma das letras do alfabeto, que simplesmente se mostravam, sem deixar qualquer sinal impresso. A forma grafica foi mais tarde inventada por Steinhel, em 1837. Ao ser experimentada, descobriu o seu autor que a terra podia desempenhar o papel de condutor. Foi então que o americano Morse inventou um electro-iman, construindo, definitivamente, em 1843, o seu primeiro aparelho, em uso até hoje.
O principio do «telegrafo-electrico» é extremamente simples. Imaginemos uma «pilha» colocada em uma sala, e um «electro-iman» existindo em outra, e que fios condutores os ligam entre si, passando por eles a corrente electrica da pilha. Em frente do electro-iman existe uma pequena lamina de ferro macio, mantida a pequena distancia dos polos pela pressão de uma mola. Quando a corrente passa, o electro-iman atrai o pedaço de ferro; mas se interrompermos a mesma corrente, o electro-iman volta ao estado natural, e a mola levanta a laminazinha.
Variando convenientemente o numero e a rapidez dos movimentos, poderemos transmitir assim uma série de sinais convencionais, representando as letras do alfabeto; e, por conseguinte, frases inteiras.
No sistema de Morse, os sinais são apenas dois: o ponto (.) e o traço (–).
O sistema Morse tem, no posto de partida, uma pequena alavanca, pela qual passa o fio da pilha; quando se carrega na alavanca a corrente passa e comunica-se ao posto de chegada. Assim que deixarmos de carregar, a corrente fica interrompida.
No posto de chegada está um «electro-iman», sobre o qual, e a uma pequena distancia, se vê outra alavanca, que é atraida logo que a corrente passa, levantando o extremo oposto que imprime um braço na faixa de papel que se vai desenrolando por meio de um sistema de relojoaria.
[NOTA - Este artigo integra o suplemento infantil intitulado «Noticias Miudinho»; contém três ilustrações]
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