Texto da entrada (ID.2739)
Cronica medica
Higiene e municipio
Não se realizou, afinal, o Congresso Municipalista, adiado para março proximo. Nem por isso se perde oportunidade o tratar dos deveres sanitarios das municipalidades, ás quais compete a mais importante parte da tarefa de salubrização do país, e nas cidades quasi toda a higiene publica. É preciso que se saiba a enorme importancia da higiene urbana na prevenção de doenças e poupança de vidas, para que acima de tudo se exija que as vereações dediquem maior actividade ás obras de saneamento, até agora deixadas para plano secundario, preocupando-se as Camaras com assuntos que têm sem duvida interesses para as populações, mas que são com certeza de menor importancia e de menos imperiosa urgencia.
Aqui, no Porto, nem toda a higiene colectiva é função do Municipio. A luta contra as doenças contagiosas, a fiscalização dos generos alimenticios, a sanidade escolar e dos estabelecimentos fabris, pertencem ao Estado, por meio dos funcionarios destacados para esses serviços. Tambem para a higiene social, ligada a obras medicas de assistencia, como sejam a protecção da maternidade e da primeira infancia, e o combate aos grandes flagelos que são a tuberculsoe, as doenças venereas, o cancro e o alcoolismo, só subsidiariamente tem concorrido, nem disposições legais o obrigam a maior acção neste campo. Mas tudo isto são detalhes, inegavelmente importantes, mas detalhes, no fim de contas, da higiene citadina. Esta repousa sobre a higiene propria de aglomerado urbano, sem a qual todas as obras especialmente dirigidas a lutar contra determinados factores de doença, eternamente esgrimirão contra moinhos de vento.
Os esteios fundamentais do saneamento do Porto estão na higiene das casas e das ruas, num bom sistema de esgotos e no abastecimento em agua abundante e boa. Estas são as bases da higiene de qualquer cidade, que no Porto não estão ainda assentes por forma satisfatoria. Encontram-se a caminho de realização, mas longe ainda do final.
Apontados assim, a largos traços, os termos da questão, que obra se impõe? Evidentemente a voltar para esses magnos problemas da higiene da cidade as atenções dispersas por assuntos de menor vulto. Se todos compreenderem bem que sem a solução de tais problemas o Porto continuará a ser o matadouro de gente, é natural que eles venham a ser solucionados. Caso contrario, continuaremos como até aqui, num atraso tanto mais condenavel quanto as suas funestas consequencias só recaem sobre nós todos, cidadãos do Porto.
Dr. A. GARRETT.
Delegado de saude.
Referência bibliográfica
A. Garrett - "Cronica medica"
in Diário de Notícias
de 9 de Fevereiro de 1925, nº. 21213, p. 5 (c. 6). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=2739.
Detalhes
Nome do Jornal
Mostrar detalhes do Jornal
Data da Fundação
Nome do Fundador
Nome do Director
Nome do Redactor
Nome do Administrador
Bibliografia
Número
Título(s) do Artigo
Título
Género de Artigo
Opinião
Tema
Palavras Chave
Notícia