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Educação fisica e desportiva

“A educação física, seus fins e atributos”

Toda a educação fisica que não fôr orientada segundo as leis que a Natureza impõe ao crescimento e desenvolvimento das especies é anti-racional, anti-scientifica e criminosa

Concluimos hoje a publicação da conferencia que, sob o titulo geral de «A educação fisica, seus fins e atributos», o sr. dr. Lendolphe Bravo realizou ha tempos no Liceu de Pedro Nunes.

A criança educada fisicamente em harmonia com as leis que presidem ao seu crescimento, atendendo-se ás caracteristicas concernentes ás varias épocas da vida, será sempre ponderada, reflectida e nunca impulsiva, porque todas as suas acções são sempre resultantes de movimentos e desta fórma poderemos formar futuros homens de alevantado valor moral e social. É preciso combater decisiva e energicamente este periodo de nevrose que atravessamos e que está assombrosamente alastrando pelo nosso país como «avant-coureur», dum tremendo cataclismo.

Com um bom método de educação fisica, diz Kumlien, póde reconstituir-se uma raça ou mantê-la forte e energica. Buisson, professor na Sorbonne, diz: «O povo que tiver melhor educação fisica, está seguro de ter amanhã, se os não tiver já hoje, não sómente os melhores soldados do mundo, mas o que mais importa, os melhores cidadãos». Os gregos, segundo afirma o dr. Jean Philippe, chefe de laboratorio de psicologia-fisiologica na Sorbonne, no seu grande amor pela natureza humana, consideravam como o primeiro grau da educação geral e perfeita do seu povo, o esforço organico. E, em verdade, ninguem ignora que o valor total do homem é produto de dois factores: do valor fisiologico e do valor psicologico. O primeiro é-lhe ministrado pelo uso habitual, metódico e progressivo dos movimentos e o segundo pelos estudos das variadas sciencias e letras, que constituem a sua parte educativa intelectual. Ora, como o valor total do homem, só atinge o seu maximo, quando estes dois factores se igualem ou pelo menos se equilibrem e como num sistema de educação para ser racional, deve ser atinente a manter este equilibrio, desenvolvendo paralelamente estes dois factores, concluimos que a importancia educativa da aplicação da educação fisica nas escolas, se equipára a da sua educação intelectual e só quando estas, caminharem a par e passo, teremos conseguido o ideal da maxima perfectabilidade humana, que fará a felicidade dos povos. Variadas estatisticas feitas em diferentes escolas primarias, em varios países, onde se tem adoptado a gimnastica sueca, do imortal e genial poeta e filosofo, Për-Henrick-Ling, têm demonstrado excelentes resultados, quer na melhoria da saude geral dos seus alunos, quer na correcção das más atitudes, em especial, e que os fisiologistas designam com o nome de «deformações escolares».

Mas, o que se torna mais surpreendente, é que os seus efeitos intelectuais e morais na criança, têm-se feito notar beneficamente de uma maneira pasmosa. Compulsando algumas estatisticas, verifica-se que a educação fisica racional e scientifica, não só fortifica os musculos, mas tambem actua sobre a energia humana, podendo por este facto classificar-se os exercicios fisicos como uma educação da vontade e da energia.

A educação fisica por intermedio dos simples movimentos musculares e articulares, educa tambem a maior parte das faculdades cerebrais e principalmente, a primacial faculdade humana de que tudo depende – a vontade.

A força energetica, diz o filosofo japonês Ioritomo-Tashi, é uma especie de vontade perduravel cuja força reside na resolução firme de a manter. É a vontade que dita as resoluções e compete á energia mante-las.

E estas duas belas faculdades de alma são desprezadas pela educação méramente intelectual. Os legisladores dos programas escolares, não devem esquecer que a educação geral da criança nunca poderá ser completa enquanto nas escolas se não atender simultaneamente ao seu desenvolvimento corporal e espiritual.

Binet, dr. Simon e Vaney, por inqueritos e trabalhos seus, executados em varias escolas primarias da França, chegaram á conclusão que existe uma relação intima entre a inteligencia e o desenvolvimento fisico. Empregaram para isso o método do antropologista americano Porter, que consiste em igualdade de idade, ser julgado mais inteligente o que fôr mais instruido e feitas as medições antropometricas, tomando em consideração: o talhe, o peso, a largura dos ombros ou o diametro bi-seromial, a força muscular ao dinamometro e a espirometria, notaram que nas crianças avançadas em inteligencia, 33 % eram avançadas no desenvolvimento fisico, 45 % regulares e 22 % retardadas. São, pois, os avançados intelectuais mais numerosos entre os avançados corporais. Existe portanto intima relação entre o desenvolvimento fisico e a itneligencia, que só se torna evidente nos grandes números de observações.

Dally refére que o periodo que decorre entre o fim dos tempos heroicos e o começo das guerras do Peloponeso, isto é, entre o ano 600 e o ano 431, antes da nossa era, compreendendo os seculos de Solon e de Pericles, é a época em que a influencia, como que condensada, da gimnastica em gerações sucessivas, deu á população helenica um alto grau de aperfeiçoamento fisico. Ora esta perfeição fisica, diz o dr. Tissié, é contemporanea das mais belas produções da sciencia, da arte, da poesia e da literatura grega.

* * *

Para a valorização psiquica e fisiologica das raças, é preciso que a educação geral da criança, cujo periodo corresponde ao do seu desenvolvimento organico, sêja orientada segundo as leis impostas pela Natureza. Devem os educadores para a manutenção da integridade organico funcional dos alunos, ter sempre presente as leis que regem o «desenvolvimento e a transformação das especies» e não esquecer que o homem é um composto heterogenio binario, resultante da união intima e indivisivel dos dois componentes: corpo e espirito. Toda a educação que não seguir esta norma é anti-racional, anti-scientifica e, mais, criminosa.

Para a primeira, Lamarck e Darwin deram aos educadores uma regra segura: a função faz o orgão. É um principio elementar de fisiologia e um corolario da lei fundamental que rege toda e qualquer educação, moldada em principios scientificos e racionais: a lei do transformismo. Todo o orgão que funciona desenvolve-se e todo o que não funciona atrofia-se, estiola-se, definha-se e morre. A segunda mostra-nos o homem, como um composto de corpo e alma, constituindo uma unidade irredutivel, não havendo até hoje processo algum que os possa separar. Dizia Miguel Montaigne, falando, do que o homem deveria ser. «Quisera que a disposição dos seus membros fôsse formada ao mesmo tempo que o seu espirito». «Não é uma alma, não é um corpo, que estamos preparando, mas um homem, e não podemos dividi-lo». Sendo portanto o homem um produto dos valores fisiologico ou corporal e psicologico (intelectual e moral), só atingirá o seu maximo de perfeição quando estes dois factores sejam iguais ou se equilibrem, e só assim conseguiremos realizar o ideal tão belamente cantado na definição dada pelos sabios e pelos pedagogistas da palavra educar. Nos proprios tratados de filosofia se lê que o espirito é uma manifestação da materia, que não póde existir «energia consciente» sem materia, sem sangue rubro e fecundante, similé, da seiva nutritiva que alimenta, faz crescer e viver o reino vegetal. Existe pois um «quid» material, palpavel e ponderavel, no que chamamos o homem. As funções donde resulta a vida, não se podem desempenhar, sem que hajam orgãos onde se manifestem. De facto a nutrição, respiração e circulação, geradoras da força vital, sem as quais a vida é palavra vã, são funções primaciais que serão tanto mais perfeitas quanto mais desenvolvidos forem os orgãos em que se executam. Posto isto e para terminar, direi que compete aos governos e ás municipalidades pugnar pelo ressurgimento da raça, disseminando «larga manu» a educação corporal por todos os estabelecimentos de ensino, asilos, associações, misericordias, etc., a fim de se completar a educação nacional do povo e para que a mocidade de hoje possa amar a sua Patria, dando-lhe toda a sua existencia, e tendo para a defender uma grande alma presidindo a um conjunto de resistencias criado e desenvolvido pelos exercicios fisicos que a tornarão invulneravel.

LENDOLPHE BRAVO.


Referência bibliográfica

Lendolphe Bravo - "EDUCAÇÃO FISICA E DESPORTIVA" in Diário de Notícias de 9 de Fevereiro de 1925, nº. 21213, p. 4 (c. 1-2). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=2741.



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