SEMANA ASTRONOMICA
IX
Vamos entrando novamente em periodo de luar, e por ora ainda em boas condições, demorado e luminoso, porque a Lua ainda vai alta, embora já sensivelmente menos do que em janeiro e fevereiro. Hoje é Quarto Crescente, o que os gregos designavam pelo termo de «dicotomia», significando parecer o disco lunar rigorosamente cortado pelo meio, segundo uma linha recta meridiana.
É evidente que, na ocasião em que isto se dá, são perpendiculares entre si as direcções da Lua para o Sol, e da Lua para a Terra; se medissemos o angulo formado á nossa vista pelos raios visuais para a Lua e para o Sol, teriamos um facil meio geometrico de saber a forma do triangulo Sol-Lua-Terra, e portanto quais são as distancias relativas dos dois astros.
Isto fez Aristarco de Samos, 270 anos antes da nossa era, mas nada concluiu de aproveitavel, pela dificuldade de conhecer com rigor o momento proprio, e pela deficiencia dos meios de medir o angulo requerido[.] Teve a Sciencia de esperar quasi vinte seculos pela verdadeira solução: a Lua está distante de nós 60 vezes o raio terrestre, e o Sol 400 vezes mais longe.
Até quarta-feira a Lua irá afastando-se, e depois passará a aproximar-se de nós.
Mercurio, na quinta-feira passará na sua conjunção inferior, isto é, entre o Sol e a Terra. É portanto ainda invisivel.
Vénus, só em fins de Abril terá a mesma sorte, e por ora ainda se vê, por muito pouco tempo, antes de nascer o Sol.
Marte, vê-se no começo da noite ao ocidente; Jupiter e Saturno de madrugada, a oriente.
O maior brilho e a duração do luar prejudicam esta semana a observação das constelações, embora, como dissémos, sejam das mais ricas em brilhantes estrelas, as que agora se vêem. Lá está Orion ao Sul com as duas estrelas de primeira grandeza, Rigel e Beteljauza, e cingido pelo seu rutilante «boldrié» com espada tambem cravejada de lumes. Para Oriente destacam-se Sirius e Procion; mais acima Castor e Polux; e a surgir do horizonte, Regulus. No zenite, Capela, e a famosa Algol, primeira estrela variavel conhecida. A nordeste a sempre notavel Ursa Maior, pela qual geralmente se inicia o estudo das constelações.
FREDERICO OOM.