Os inimigos dos cereais
O gorgulho
O gorgulho (Calandra granaria) é um pequeno coleoptero, nocivo sobretudo no estado de larva, que ataca o trigo nos celeiros, produzindo estragos enormes.
O insecto perfeito (Fig. 5), que não mede mais do que 3 a 4 milimetros de comprimento, negro, de côr e de forma alongada, com a cabeça pequena, terminando por um «rostro» largo, cilindrico, ligeiramente recurvado e dilatado na base, faz a sua aparição na primavera, quando a temperatura começa a elevar-se.
As femeas, logo a seguir á copula, começam a sua acção destruidora, perfurando superficialmente, com o rostro, os grãos de trigo ao nivel do sulco mediano e depositando e cada pequeno orificio, um ovo branco purissimo, de consistencia membranosa, de forma eliptica em corte longitudinal (Fig. 3), e disfarçando a abertura do orificio com uma substancia glutinosa de tal modo que é impossivel reconhecer os grãos atacados dos sãos.
Passados poucos dias, de cada ovo nasce uma larva (Fig. 2) branco-amarelada, apoda, que começa logo a alimentar-se da parte farinhenta do grão, que devora por completo, só deixando o envolucro [sic] que constitui o farelo.
Ao fim de um mês, aproximadamente, da data do seu nascimento, a larva transforma-se, dentro do grão, em ninfa (Fig. 4), alongada, estado em que se conserva apenas uns oito a dez dias.
Decorridos, por consequencia, uns quarenta dias após o nascimento das larvas, começa uma nova geração que, por sua vez, se reproduz, e assim sucessivamente, mais umas três vezes, até ao fim do verão. Com o abaixamento da temperatura, em outubro, os insectos perfeitos da ultima geração refugiam-se nas fendas do pavimento e paredes do celeiro, no madeiramento dos telhados, e aí passam o inverno, até maio do ano seguinte, epoca em que abandonam os seus abrigos, se copulam e se começam a reproduzir.
Para se fazer ideia dos estragos causados pelo gorgulho, basta dizer que uma só femea pode reproduzir da primeira á ultima geração 6 a 7 mil gorgulhos! Os estragos produzidos pelos insectos são muito menos importantes que os causados pelas larvas.
São numerosos os processos preconizados para a sua destruição, mas, entre todos, como mais energicos e eficazes, devem preferir-se os que se baseiam na desinfecção e limpeza dos celeiros, e que consistem em caiar as paredes do celeiro com leite de cal contendo 5 % de petroleo e em lavar o pavimento com um soluto de sulfato de cobre doseando 3 a 4 %.
Como o gorgulho, para se propagar com grande intensidade, exige um conjunto de condições favoraveis, como seja repouso, calor e obscuridade, recomendam, por isso, alguns autores, que se padeje o trigo frequentes vezes, ou que se faça passar por uma tarara de grande velocidade, que se mantenha o celeiro sempre bem arejado e com bastante luz.
O padejamento repetido do trigo, a ventilação permanente do celeiro e a sua maxima exposição á acção da luz solar não constituem, porém, processos de destruição; apenas servem para atenuar os efeitos nocivos do gorgulho, demorando e dificultando a sua procreação [sic]. Em todo o caso os celeiros muito arejados e iluminados, com o pavimento impermeavel, sem fendas, prestam-se melhor que quaisquer outros ao combate dum inimigo tão prejudicial como o gorgulho.
João da Silva Fialho.
[NOTA - contém uma série de ilustrações, mas sem numeração]