CRONICAS MEDICAS
O poder da sugestão
Ninguem duvida da eficacia da sugestão no tratamento de varias doenças, e é corrente dizer-se de muitos medicamentos que é preciso tomá-los com fé. Não ha muito tempo que correu mundo o conselho de se convencer cada um a si proprio de que os males que o apoquentam iam diminuindo dia a dia, afirmando-se que esse convencimento era seguido duma real diminuição. A efeito de sugestão atribuem as pessoas que não acreditam em intervenções divinas os indiscutiveis casos de melhoras e de curas que se têm obtido em todos os tempos, por intermedio de padres de todas as religiões ou de mulheres de virtude, em santuarios ou em fontes milagrosas, desde o templo de Esculapio em Cós, até ao campo de Fátima.
As pessoas possuidas daquele desejo de saber de que fala o sr. dr. Pedro Monteiro no seu livro de filosofia – «O desejo de saber é uma tendencia primitiva da alma humana…» –, essas pessoas que não encontram na palavra milagre uma explicação, mas sómente uma confissão de ignorancia, facilmente se convencem de que um choque nervoso ou uma elevação de tonicidade nervosa provocada pela fé possam explicar as modificações observadas num estado patologico. Mas tambem, visto que só podem raciocinar com os conhecimentos limitados que possuimos acêrca do funcionamento dos nosso orgãos e sua dependencia do sistema nervoso, naturalmente não admitem de bom grado a influencia da sugestão relativamente a doenças em que o mesmo sistema nervoso não pareça ser directamente interessado.
Suponha-se que se trata de apregoadas curas obtidas numa piscina de aguas maravilhosas, ou na pedra tumular de S. Francisco Xavier, ou seja onde fôr. Toda a gente acredita que um paralitico devoto desentorpeça os membros; pouca gente, afóra os extremamente devotos, acreditará que uma fractura ossea se consolide ou que um tumor desapareça. Lembro-me de que, ha meses, um colega meu me dizia que só acreditaria na virtude de certas santas aguas, quando, sem possivel discussão de veracidade, uma perna partida saísse da piscina tão curada da sua fractura como se fractura não tivesse havido. Respondi-lhe: «Eu nem assim». E o leitor vai ver porquê.
Sabe o que são verrugas. Ha desgraçados que passam tormentos para se libertarem desse desgracioso achaque, sofrendo excisão a bisturi, cauterizações com nitrato de prata, electrolise, etc. Pois as verrugas desaparecem – é caso averiguado – com praticas tão simples que só podemos atribuir a sua eficacia á sugestão.
O leitor curioso pode inteirar-se da materia em varios numeros da «Revue de psychothérapie» e da «Press médical», dos dois anos ultimos. Verá atestadas por medicos varias curas realizadas por praticas populares tão complicadas como ridiculas.
Um exemplo:
Tomar treze ervilhas e trazê-las no seio durante treze dias, sendo sete num saquinho branco e sete num saquinho negro. Numa sexta-feira á meia noite, sem testemunhas, rezar sete padre-nossos junto dum poço, deitando uma ervilha á agua no fim de cada padre-nosso. Enterrar depois as seis ervilhas restantes em seis buraquinhos que se vão abrindo com o dedo minimo da mão esquerda.
Não pode haver qualquer efeito nesta absurda pratica que não provenha da sugestão, ou, se o leitor é devoto, dos padre-nossos. Mas ha outros processos que não metem reza e se mostram igualmente eficazes, tendo tambem verificação de medicos: Cortar um raminho de figueira brava, parti-lo em tantos pedaços quantas são as verrugas e atirá-los contra o Sol. Fazer um nó em torno de cada verruga com um fio que se enterra depois. Tocar com a mão verrugosa a mão duma pessoa sã e dizer-lhe: «passo-te as minhas verrugas»…
Um medico, o dr. Bonjour, procede do modo seguinte: venda os olhos do doente, toca as verrugas com os dedos ou uma vareta de vidro, e diz-lhe: – «De futuro não sentirá as suas verrugas; não lhe toque que elas desaparecerão». O professor Pech, de Montpellier, conta que um soldado, a quem se tinham extirpado duas verrugas, viu que as restantes desapareceram com o susto do doente quando lhe anunciaram que tinha de responder a conselho de guerra; só ficaram as cicatrizes das que tinham sido extirpadas. O dr. Boyer curou verrugas dizendo ao doente que lhe ia aplicar um medicamento moderno de altissimo valor. Limitou-se a tocar as verrugas com um tampão de algodão embebido em agua distilada.
Diz então o dr. Bonjour: «A terapeutica das verrugas é esquecê-las.» Sim; desde que deixam de recear-se desaparecem, e isto indica que para a nossa saude fisica como para as nossas relações sociais, nada ha como um espirito bem equilibrado, nem arrogante nem medroso.
F. MIRA.
(…).
[NOTA - segue-se uma série de respostas a leitores]