SEMANA ASTRONOMICA

XIV

Lua Cheia pascal no proximo dia 9, quinta-feira de Endoenças…

Pouca gente decerto se recorda já que a Pascoa – além de cair sempre ao domingo, como diz o rifão – é sempre nas proximidades de uma Lua Cheia. Isto resulta astronomicamente, de que a antiquissima pascoa dos judeus estava fixada no dia 15 do seu mês de Nisan.

Ora, segundo o testemunho unanime dos evangelistas, a morte de Cristo na cruz foi numa sexta-feira á tarde, havendo sómente duvida se foi na vespera ou no dia da pascoa judaica. Por isso, nos primeiros tempos do cristianismo, a Ressurreição era festejada pelos cristãos ao mesmo tempo que os judeus celebravam a sua tradicional pascoa. Mas depois, reflectindo-se que deveria ser sempre num domingo para ser o terceiro dia depois da sexta-feira de Paixão, adoptou-se desde o seculo III a regra actual, que é, como se sabe: celebrar a Pascoa no domingo seguinte á primeira Lua Cheia depois de 21 de Março. Com efeito, desde que o ano judaico é luni-solar, referindo-se aos equinoxios mas tendo cada mês começo em dia de Lua Nova, o dia da pascoa judaica, 15 do mês de Nisan, cai sempe no dia dessa Lua Cheia, e a Pascoa dos cristãos é no domingo seguinte.

Mas dêste modo, não só a Pascoa cristã, como todas as correlativas «festas moveis», ficaram tendo a instabilidade consideravel que lhes vêmos. Ha muitos seculos já que isso tem sido censurado, até por alguns bispos, e mais recentemente, ha uns trinta anos, tomou essa oposição um caracter mais agudo, pelas diligencias e propaganda de varias entidades, principalmente comerciais e industriais, e agora até da propria Sociedade das Nações, pedindo-se uma reforma radical do calendario.

É possivel que este empenho não logre tão cedo uma realização, pois isso apresenta numerosos inconvenientes, presentes e futuros, mas o que parece talvez mais provavel é simplesmente fixar-se a festa da Pascoa no domingo que cair numa das datas de 4 a 10 de Abril (entre as quais é quasi certo ter caido o domingo da Ressurreição), reduzindo-se assim todas as diferenças a sete dias, variando seguidamente de ano para ano.

Seja como fôr, por enquanto – até que a Sociedade das Nações mande o contrario – temos a Pascoa ao domingo, numa semana de Lua Cheia.

E, por hoje, basta de penitencia para algum hipotetico leitor.

FREDERICO OOM.