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Texto da entrada (ID.2775)

Coisas e Loisas

A circulação do sangue

No outro dia estava a Aninhas muito satisfeita da vida a trabalhar no seu jardinzinho, quando, de repente, começou a deitar sangue pelo nariz. Assustada, correu logo para Mestre Pedro, para que este lhe valesse.

- Vês o resultado de não teres obedecido! Eu não te disse que não estivesses ao sol. Mas não te aflijas, pequena, que isso já vai passar – atalhou o bom velho para a sossegar.

E levando-a para um lugar fresco, debaixo de uma arvore, desapertou-lhe a roupa no pescoço e cintura, obrigou-a a sentar-se a e a conservar a cabeça bem direita.

Disse ao Chico que fosse depressa buscar agua fria e um pouco de vinagre; e, depois, fez a pequena sorver agua avinagrada, e aplicou-lhe na testa e no nariz umas compressas frias, servindo-se do lenço. Por ultimo, apertou-lhe o nariz durante uns minutos, e dali a nada o sangue tinha deixado de correr, e a pequena estava fina.

- Agora toma cuidado, não te ponhas ao sol outra vez, que pode o caso ser mais sério; um «golpe de sol» tem ás vezes consequencias graves.

Tendo prestado toda a atenção ao socorro pronto de Mestre Pedro, não deixou o Chico de reparar tambem na transformação que o sangue saído do nariz da irmã sofrera, e, cuioso de saber, interrogou:

- Pode uma pessoa perder todo o sangue? Que quantidade de sangue temos no nosso corpo?

- Não é facil; isto que se diz «ficar sem pinga de sangue» é força de expressão, pois o sangue que temos regula por cinco a seis litros.

- E o que sucede ao sangue quando sai do corpo? Não fica a mesma coisa?

- O sangue é formado por um liquido sem côr, chamado «plasma», no qual está mergulhada uma infinidade de pequenos corpos chamados «globulos de sangue», de duas especies: as «hematias» ou globulos vermelhos, e os [«]leucocitos» ou globulos brancos. Extraído do corpo, separa-se, em pouco tempo, em duas partes, uma liquida e amarelada, que é o «sôro», e outra meia solida e escura, que é o «coagulo», contendo os globulos, envolvidos por uma rêde formada por uma substancia que está dissolvida no sangue, que se chama «fibrina».

- Tenho ouvido dizer que o sangue circula no corpo; como é isso, sr. Pedro?

- Sim, o sangue «circula» nuns orgãos, que constituem o «aparelho circulatorio», e que são o «coração» e os «vasos sanguineos». O coração é o orgão central, está entre os dois pulmões, tem, aproximadamente, o volume do punho fechado e a forma de uma pera, com a «ponta» para baixo e inclinada para a esquerda; interiormente tem quatro cavidades, duas «auriculas» (3 e 4) e dois «ventriculos» (1 e 2), comunicando-se entre si as cavidades do mesmo lado. Os vasos sanguineos são: as «arterias», muito elasticas e que conduzem o sangue do coração ás diferentes partes do corpo, as «veias», pouco elasticas e que conduzem o sangue ao coração; ligando aquelas e estas ha uma multidão de vasos muito finos, que são os «capilares».

- Desculpe-me, sr. Pedro, mas eu não percebo como se faz essa circulação de sangue – interrompeu o Chico.

- O sangue é posto em movimento pelas contracções e dilatações do coração, conhecidas pelo nome de pulsações; cada auricula contrai-se, ao mesmo tempo que o ventriculo correspondente se dilata e reciprocamente. Ha duas circulações: a «pequena circulação», e a «grande circulação»; aquela serve para purificar o sangue, e esta para conservar os orgãos.

- Então nem todo o sangue é puro? atalhou o Chico.

- Com efeito, ha o «sangue arterial», que é puro e vermelho, e o «sangue venoso», que é impuro e de côr violacea muito escura. Na grande circulação o primeiro circula nas arterias e o segundo nas veias; na pequena circulação sucede o contrario.

- E como se torna então puro o sangue? insistiu o Chico, que não compreendera bem como isso se dava.

- Na grande circulação o sangue sai arterial do ventriculo esquerdo pela «arteria aorta» (5), e depois de haver percorrido as diferentes partes do corpo, regressa ao coração, pelas «veias cavas» (8 e 9), até á auricula direita. Na pequena circulação o sangue sai venoso do ventriculo direito pelas «arterias pulmonares» (6), que o conduzem aos pulmões, onde se transforma em sangue arterial, por efeito do oxigenio do ar, voltando ao coração pelas «veias pulmonares» (7), que vão ter á auricula esquerda.

[NOTA - Contém um desenho do coração, com a numeração a que corresponde as indicações facultadas no texto.

Este artigo faz parte da secção infantil do Diário de Notícias, intitulada 'Noítícias Miudinho']


Referência bibliográfica

[n.d.] - "Coisas e Loisas / A circulação do sangue" in Diário de Notícias de 10 de Maio de 1925, nº. 21301, p. 11 (margem inferior). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=2775.



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