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Texto da entrada (ID.2783)

Coisas e Loisas

Como se alimentam as plantas?

Mestre Pedro e os dois rapazes passam agora os dias no quintal: cada um cuidando do que lhe pertence; e é tal o afan com que o Chico trata da horta e a Aninhas do jardim, que, dentro em pouco, ele está um hortelão consumado e ela uma jardineira de truz. Não se avalia a satisfação de Mestre Pedro, que bem diz a hora em que arranjou tais discipulos: amigos de saber e de trabalhar. Então a pequenita tomou um tal amor ao seu jardimzito que não pensa noutra coisa. E como Mestre Pedro lhe disse que as plantas são tambem «seres vivos», que precisam tambem de alimentar-se, senão morrem, ela então, carinhosamente, não quere que lhes falte nada, que «passem sêde ou fome». Sim, elas tambem bebem e «comem» mas de que maneira? – disse de si para si. E voltando-se para Mestre Pedro:

- Diga-me, Sr. Pedro, como é que as plantas comem?

- O que tu queres dizer, como é que as plantas se alimentam? Vamos a ver se saberei explicar-te. As substancias, isto é, os alimentos que são necessarios para formar ou desenvolver as plantas estão na terra, e quando faltam, já sabes que é preciso deitá-las, é o que se chama «adubar». Ora para que tais alimentos sejam aproveitados pela planta é indispensavel, primeiro que estejam dissolvidos, isto é, desfeitos, em agua, e aqui tens a razão porque quando a terra está sêca, nós a «regamos», para dissolver os alimentos das plantas.

- Mas por onde entra a agua com os alimentos? – atalhou a pequena.

- Lá vamos, rapariga. É pelas raizes, é por estes orgãos que se realiza a «absorpção» da agua e das substancias que nela estão dissolvidas; isto é, quando as plantas têm raizes, porque nem todas têm, é por elas que entra esse liquido que vai alimentar as plantas.

- E dá-se a absorpção, como o Mestre Pedro diz, em toda a raiz? interrompeu o Chico.

- Não; pelas regiões mais velhas da raiz não se realiza; é principalmente pelas ramificações mais novas e tenras ou radiculas e nestas por meio dos «pêlos radicais».

- Mas não compreendo bem como se faz a absorpção – prosseguiu o Chico.

- O que regula a entrada da agua e de cada um dos corpos nela dissolvidos é o emprego ou consumo que a planta deles faz. As forças que fazem caminhar a agua ao longo do corpo da planta são a chamada «pressão osmotica», na qual ainda havemos de falar, exercida de baixo para cima, nos pontos onde se dá a absorpção, e a aspiração, em sentido inverso, produzida pelo desprendimento do vapor de agua, que se dá sobretudo nas folhas, devido a duas funções da planta, que são a «transpiração» e a «chlorovaporização».

- De modo que a agua que entra para as plantas não é pura? – concluiu o rapaz.

- Pois não; traz em dissolução todos os principios soluveis existentes exteriormente e que podem passar através a membrana vegetal. Desta forma entram, os mais deles, no estado de sais, os seguintes corpos simples indispensaveis á organização vegetal: azote, fosforo, potassio, calcio, enxofre, silicio, magnesio, ferro e zinco, afóra outros. Os quatro primeiros são essenciais, são por isso chamados «elementos nobres»; terra em que eles faltem, é dita «terra pobre», pelo contrario é «rica» se todos existem em quantidades proporcionadas. Tambem havemos de falar mais de espaço sobre isto.

- E o que sucede a essa agua? – interrogou a Aninhas, que estava prestando toda a atenção.

- Essa agua, ou, melhor, essa solução, denomina-se «seiva bruta» ou «não elaborada», e percorre todo o corpo da planta, dirigindo-se das raizes para as folhas, atravessando o caule. A tal força de que falei, a osmose, é tão consideravel que por si só ocasiona os primeiros movimentos da seiva, no principio da primavera, quando nas arvores, despidas de folhas, a força de aspiração resultante do desprendimento do vapor de agua é ainda nula.

- E o que acontece a esta seiva? concluiu o Chico.

- Sofre profundas modificações, e só depois se torna apta para a nutrição das plantas. Chama-se então «seiva elaborada», e é esta que vai levar os materiais necessarios para o desenvolvimento do vegetal, percorrendo-o, caminhando com maior ou menor velocidade através dele, segundo as necessidades de cada principio que encerra.

[NOTA - Este artigo integra a secção infantil do Diário de Notícias, intitulada 'Notícias Miudinho']


Referência bibliográfica

[n.d.] - "Coisas e Loisas / Como se alimentam as plantas?" in Diário de Notícias de 21 de Maio de 1925, nº. 21312, p. 5 (margem inferior). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=2783.



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