A Viagem do explorador Amudsen [sic]
e as condições meteorologicas em que foi realizada, segundo o relato do seu companheiro o professor Jacob Bjerkens
O estudo aturado da predição do tempo, pelo que respeita a explorações polacas, foi levado a um novo estado de aperfeiçoamento pela expedição Amundsen-Ellsworth. As nossas cartas das condições meteorologicas eram baseadas em informações fornecidas varias vezes ao dia pela T. S. F., e de mais de 200 pontos de toda a parte norte do hemisferio. Dava isto em resultado tornar essa expedição mais municiada de elementos, do que nenhuma outra até então realizada, elementos esses que se referiam a predições scientificas, baseadas em cuidadosas observações mundiais instantaneamente recebidas, e imediatamente registadas na carta meteorologica.
Algumas centenas de pessoas interessadas pela sciencia da predição do tempo pedem-me pormenores acêrca dos nossos trabalhos em Spitzberg. Muitos desses pedidos vêm da America e, porque me seja fisicamente impossivel responder individualmente a todos esses amaveis pedidos, resolvi fazê-lo por intermedio do «Diario de Noticias» e seus jornais aliados em todo o mundo.
As condições mais favoraveis para um vôo até ao Polo exigiam uma brisa firme, um céu limpo de nuvens e a probabilidade de que tais condições se manteriam por um periodo de alguns dias. Tivemos, pois, de esperar que um conjunto de altas pressões atmosfericas se estendesse por toda a area que vai de Spitzberg ao Polo.
A primeira ocasião que se apresentou foi o dia 4 de maio, exactamente quando os aviões estavam prontos para partir. Por essa ocasião, fôra verificado um anticiclone na região polar, rodeado por uma franja de baixa pressão com os principais centros de tempestade sobre a Irlanda e o norte da Noruega e, além disso, mais três no norte da Siberia e um no Canadá artico. As cartas que levantámos cobriam todo o hemisferio norte.
Tão favoravel distribuição não durou, contudo, tempo apreciavel. A baixa pressão sobre a Noruega estendeu-se rapidamente, dirigindo-se para Noroeste e dispersando para a Groenlandia a alta pressão polar.
A oito de maio, quando estavam feitos os ultimos preparativos para a expedição, a baixa pressão moveu-se para tão perto do polo que nos pareceu fóra de todas as possibilidades o vôo premeditado. Este parecer foi fortificado pelas condições locais do tempo na costa norte do Spitzberg. O vento nordeste que prevalecia desde 5 de maio, constitui bom tempo tanto para os gelos polares como para o Oeste do Spitzberg; mas não acontece o mesmo para com a costa norte, onde esse vento impele o ar para os declives das montanhas, tornando o tempo nebuloso e escassa a visibilidade necessaria para o vôo.
Para ter bom tempo na costa Oeste e Norte, na mesma ocasião, era necessario que o vento fôsse leste ou nordeste. Tempo largo se passou, porém, antes que tal se désse. Os ventos de Oeste e o tempo somerio [sic] prevaleceram até 18 de maio, que foi quando se verificou uma alteração favoravel. Um poderoso centro de tempestade passando por Bear Island, obrigou o vento a virar a Leste, no Spitzberg, e a tempestade foi seguida por um anti-ciclone vindo do Lavrador, cruzando a Groenlandia e movendo-se na direcção do Polo. O vento soprava ainda muito fracamente, e a visibilidade no Spitzberg ainda não era perfeita, embora tudo levasse a crêr que o bom tempo viria dentro de dois ou três dias. Por esse motivo foi dada ordem para que os aviões estivessem prontos a partir no momento propicio.
Mais três dias se passaram, contudo, antes que as condições meteorologicas se modificassem a nosso favor. O anti-ciclone espalhara-se de ha muito por sobre o Oceano Polar e o tempo tempestuoso, passando Bear Island, dirigira-se para o norte da Siberia. Mas o tempo mantinha-se agreste, caindo neve na King’s Bay. Provinha esse facto de uma baixa e pequena pressão local, que permanecia insistentemente sobre a lingua [de] agua quente que se estende da Corrente do Golfo ao longo da costa do Spitzberg. Por fim, a 21 de maio, o vento rodou para Leste, de tal forma que impeliu para o mar a tempestade de neve, e a partida pôde realizar-se de tarde, com sol brilhante num céu sem nuvens.
No dia seguinte o tempo esteve igualmente bom, mas nos outros dois dias, 23 e 24 de maio, cairam de novo alguns nevões. Até á manhã de 24 não se registaram quaisquer mudanças notaveis nas cartas. O Oceano Artico estava todo coberto por anti-ciclones, e daí podemos inferir que os nevões no Spitzberg se não tinham espalhado muito para o Norte. Nas proximidades da zona polar registámos tempestades, algumas de consideravel violencia, duas no Norte da Siberia – uma proximo da Alaska e outra sobre o estreito de Baffin – e ainda uma terceira, proximo do sul da Inglaterra. Nenhuma delas, porém, caminhava para o Polo. Tanto quanto se poderia prever, parecia-nos que elas deveriam seguir de Oeste para Este, á roda do Polo, e conservando-se dele a distancia suficiente para deixar livre a região central do Oceano Artico. As baixas pressões da Siberia haviam provavelmente atingido o Norte, de modo que era provavel que uma
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(Conclue na 2.ª pagina)
A VIAGEM DE AMUNDSEN
(Continuado da 1.ª pagina)
leve brisa soprasse nas paragens do Polo, no rumo de Alaska para Spitzberg. Na carta que levantamos a 28, as duas baixas pressões da Siberia tinham-se unido na região de Lena; a baixa pressão da Alaska movia-se pelo norte do Canadá; a baixa pressão no estreito de Baffin quasi atingira as Ilhas Fëroe, e uma nova baixa pressão surgia, vinda da costa da Florida, para a Terra Nova. A alta pressão polar mantinha-se, pois, e o tempo no polo estava evidentemente bom.
No Spitzberg, onde o tempo estava igualmente bom a 28, foi registada uma alteração. Soprou uma tempestade de neve, vinda do sul, e continuou pela noite adiante, até ao dia 29, em que o tempo de novo clareou. Esta neve, que atravessava as regiões articas em direcção ao norte, foi a que devia ter atingido o Polo dois dias mais tarde.
Em resumo, houvémos a certeza de que entre 21 e 29 de maio o tempo no Polo foi sempre muitissimo favoravel.
(Propriedade exclusiva do «Diario de Noticias» e da North American Newspaper Alliance).
[NOTA - Na primeira página, contém uma fotografia de Amundsen]
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