SEMANA ASTRONOMICA
XXII
Entramos hoje no mês de S. João (como lhe chama unanimemente a velha alma tradicionalista portuguesa), com noites de luar cada vez mais luminoso e demorado, que já na quinta-feira abrangerá a duração total da noite, e sendo Lua Cheia na sexta.
É certo que a Lua andará agora mais baixa, visto o Sol andar mais alto, mas ainda assim, o maior comprimento dos dias, proveniente desta segunda causa, compensa bem a menor demora da Lua acima do horizonte, devida á primeira. Os efeitos pitorescos do reflexo do luar nas aguas são agora favorecidos por essa menor altura em que anda o astro das noites; vamos já tendendo para o celebrado luar de Agosto, cuja fama popular tem um evidente fundamento astronomico, como veremos… se Deus quiser, conforme tambem á antiga portuguesa se dizia.
Estamos quasi a chegar aos dias mais compridos do ano. Por isso o seu nascimento vai sendo cada vez menos sensivel. Nesta semana, o nascer do Sol apenas varia um minuto para mais cedo; de tarde ainda os dias crescerão cinco minutos ao todo, faltando-lhes apenas outros cinco para alcançarem o maximo.
Na quinta-feira estará a Lua em conjunção com Saturno, passando acima dele á distancia de cinco vezes o seu diametro, proximamente. Com um pouco de atenção ver-se-á claramente o movimento relativo dos dois astros, embora o brilho da Lua seja grande, por estar quasi cheia, mas ainda assim não ofuscará o de Saturno, equivalente ao de uma estrela de primeira grandeza.
Jupiter, que nasce mais tarde, perto da meia noite, torna-se logo notavel pelo seu intenso fulgor, que excede em muito qualquer das estrelas.
Mercurio aparece de manhã, sempre dificil de encontrar e de identificar, não tentando decerto ninguem a madrugar para o ver.
Venus, afastando-se lentamente do Sol é visivel á tarde, logo no começo do crepusculo.
Depois de escurecer vemos Marte, tambem seguindo na esteira do Sol, entre as estrelas da constelação de Gemini, pouco abaixo das duas principais, Castor e Polux, de primeira grandeza. Distingue-se pela sua côr avermelhada, mas o seu brilho não excede a segunda grandeza.
Com o luar mais intenso perdem importancia as constelações, tanto mais que, agora, já passado o inverno, vão desaparecendo as mais ricas e notaveis. Pouco se vêem já, no ocaso, Orion, e o Cão Menor com Procion. Ainda ao Ocidente se notam Gemini, Perseu e Auriga. A Sueste aparecem Escorpio e, mais tarde, o Sagitario abrilhantado pelo fulgente Jupiter. Ao Oriente lá vem surgindo, abaixo do Cisne e da Lira, a Aguia, o Golfinho e Pégaso. A Ursa Maior vai descendo para Noroeste, e Cassiopeia subindo a Nordeste, agora lembrando a forma de um W.
FREDERICO OOM.