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Texto da entrada (ID.2801)

CRONICAS MEDICAS

A investigação scientifica na America do Norte

O dr. Georges Loewy publicou num dos ultimos numeros da «Presse Médicale» a breve noticia duma visita feita aos principais institutos de investigação scientifica da America do Norte especialmente destinados ao progresso da arte de curar. Permita-se-me que comece esta nota pela tradução dos ultimos periodos do artigo citado.

«A impressão mais forte, diz o dr. Loewy, que se traz duma viagem aos centros universitarios americanos em 1924 é a do consideravel desenvolvimento dos laboratorios de pesquizas experimentais.

«Não só a necessidade da experimentação foi reconhecida nos Estados Unidos, mas compreendeu-se igualmente a importancia capital de aplicar ás investigações fisiologicas os metodos e a tecnica cirurgicas.

«Salas de operações asepticas, aparelhos aperfeiçoados, hospitais para animais, pessoal instruido dos cuidados post-operatorios, nada se desprezou que pudesse assegurar o bom resultado de experiencias dificeis e prolongadas.

«Mercê do conhecimento dos cirurgiões americanos sobre os metodos fisiologicos e da organização cirurgica dos laboratorios de fisiologia, os Estados Unidos apresentam-se em situação de grande progresso como competidores scientificos no futuro.»

O dr. Loewy, que é chefe do serviço de cirurgia experimental na Salpcetrièse, refere-se particularmente á Clinica Mayo em Rochester, aos laboratorios da Universidade de Illinois, em Chicago; aos da Universidade de Washington, em Saint-Louis; aos da Universidade de John Hopkins, em Baltimore; aos da Universidade de Pensylvania, em Filadelfia; aos da Universidade de Rochester, Universidade de Columbia e Instituto Rockefeller, todos três de Nova York.

O que principalmente impressiona é a orientação geral que estão seguindo as investigações scientificas. De principio tinha-se principalmente em vista o aperfeiçoamento da tecnica cirurgica. Agora esse trabalho passou para o segundo plano, ou antes, é o estudo preparatorio da verdadeira investigação scientifica. Não são estabelecimentos de cirurgia experimental, como não são de fisiologia experimental, mas antes institutos em que, alternadamente, a cirurgia serve a fisiologia ou esta serve aquela, com o valioso subsidio dos laboratorios de bacteriologia e de quimica. Eu me explico: Não se pode viver sem figado e a extirpação dêste orgão é rapidamente mortal. Assim tem faltado aos fisiologistas, para o estudo das funções hepaticas, aquele importante processo de investigação que consiste em observar as perturbações que o organismo sofre como consequencia da supressão do orgão que se estuda. Agora, na Clinica Mayo, o dr. Mann, aperfeiçoando a tecnica operatoria e os cuidados a ter com o animal operado, conseguiu obter cães sobreviventes á extirpação do figado por 34 horas, dando, pois, tempo a que se tome conhecimeto das modificações capitais que a falta daquele orgão acarreta na composição do sangue e da urina.

Veja-se como tudo se liga na investigação scientifica para possiveis resultados de alcance pratico. Requere-se em primeiro lugar a aptidão cirurgica e o aperfeiçoamento da tecnica; depois o conhecimento profundo da fisiologia e o claro enunciado do problema fisiologico; depois as consequencias da solução dêste que podem sair dos dominios da cirurgia para os da medicina. Em resumo: perante a investigação scientifica os fisiologistas e os cirurgiões quasi se confundem. Não, porém, na vida pratica, visto que estes ultimos ganham muito dinheiro e os primeiros não.

Mas voltemos aos Institutos americanos:

O que impressiona em segundo lugar é o desenvolvimento e o aperfeiçoamento dos aposentos para animais: salas de operações asepticas, com seus anexos, como se de pessoas se tratasse, pessoal adextrado para lidar com eles, acomodações aperfeiçoadas para ter animais em deposito, tanto os pequenos animais de laboratorio – coelhos, cobaias, ratos – como os cães e os macacos que, por mais proximos da especie humana, são os unicos que convém para certa ordem de experiencias.

Na America faz-se tudo em ponto grande. No Instituto experimental de Clinica Mayo alojam-se 600 cães; 300 no Instituto Rockfeller. Tudo isto é possivel porque, na America, os Institutos de Investigação Scientifica, como antigamente as Misericordias entre nós, são tidos como obras uteis de interesse colectivo que é preciso auxiliar. Um exemplo recente: A escola medica de Rochester vivia em instalações apertadas. Juntaram-se dois milionarios americanos e fez-se nova construção, a dois quilometros da cidade, com todos os aperfeiçoamentos possiveis. Deve abrir aos estudantes em setembro dêste ano, mas os laboratorios já trabalham.

Em Portugal, como nos outros países latinos, as iniciativas particulares são mais raras, confiando toda a gente na acção do Estado. Já tivemos, no entanto, um benemerito, o sr. Rocha Cabral, que legou fundos para a fundação dum Instituto de Investigação Scientifica. Está quasi concluido, graças a Deus, e deve começar a trabalhar passado o verão.

F. MIRA.

(…).

[NOTA - segue-se uma pequena série de respostas a leitores]


Referência bibliográfica

F. Mira - "CRONICAS MEDICAS" in Diário de Notícias de 5 de Junho de 1925, nº. 21327, p. 3 (c. 1). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=2801.



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